Scientist Rebellion bloqueia entrada da Comissão Europeia para exigir decrescimento
“O crescimento verde é um mito”, defende o movimento, numa onda de acções de desobediência civil em Bruxelas a poucos dias das eleições europeias.
Um grupo de activistas da Scientist Rebellion, Extinction Rebellion e Growth Kills bloquearam esta manhã as entradas para o edifício da Comissão Europeia, em Bruxelas, num protesto em que exigem que a União Europeia dê prioridade ao decrescimento como forma de sair da crise ambiental e social.
Com cartazes que exibiam palavras de ordem como “crescimento verde é um mito”, “meçam o bem-estar e não o PIB”, “proíba-se o consumo excessivo”, os manifestantes impediram os funcionários da Comissão de entrar, a partir das 7h30. Alguns colaram as mãos às portas, outros colaram na entrada do edifício letras gigantes a dizer “o futuro é o decrescimento”.
A polícia de Bruxelas retirou os manifestantes por volta das 9h00. Nenhum responsável da Comissão Europeia, ou partido político, tentou falar com os manifestantes, disse ao Azul Xavier de Wannemaeker, porta-voz da organização.
“O crescimento económico é um conceito que foi útil há 100 anos para ajudar os políticos a ultrapassar o desastre da crise económica mundial de 1929. Hoje, tornou-se um argumento para justificar a destruição dos recursos naturais e suportar a redistribuição da riqueza em benefício dos mais ricos”, disse Wolfgang Cramer, cientista que foi um dos autores do sexto relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e que apoia estas acções, citado num comunicado de imprensa.
“O que precisamos é de um sistema económico que garanta o bem-estar de todos, mas respeitando os limites do planeta. Isto é inteiramente possível se existir vontade política”, afirmou ainda Wolgang Cramer.
Essa é a mensagem destes protestos, que fazem parte de uma vaga de acções de desobediência civil em Bruxelas, que acompanha as eleições europeias, e durará até sábado, 8 de Junho. A poucos dias das eleições, lamentam que praticamente nenhum partido proponha o decrescimento, apesar de considerarem ser a única saída para o “impasse social e ambiental”.
“Denunciamos o consumismo, a principal causa do colapso ecológico que vivemos, bem como a ideologia suicida do ‘crescimento verde’ por trás da qual os nossos políticos se escondem para fugir às suas responsabilidades”, diz o comunicado de imprensa do movimento.
“A ciência é clara. É impossível reconciliar o crescimento económico e a transição ecológica. Durante décadas, os políticos têm tentado vender-nos o mito do ‘crescimento verde’, mas o nosso consumo de recursos e as nossas emissões de dióxido de carbono continuam a crescer sem compensação, e a biodiversidade continua a cair a pique”, comentou o físico Sebastian Gonzato.
Os manifestantes apresentam cinco exigências específicas às instituições europeias:
- O PIB deve ser abandonado como índice para medir a prosperidade;
- Deve ser criada uma assembleia soberana de cidadãos para decidir sobre o futuro comum;
- As grandes empresas devem pagar os verdadeiros custos sociais e ambientais das suas actividades;
- Acabe-se com o consumo excessivo e a publicidade que o motiva;
- Os recursos naturais devem ser tratados como um bem comum da humanidade, disponíveis para todos.
“Só uma mudança fundamental no nosso sistema económico vai permitir-nos garantir um padrão de vida decente para todas as pessoas dentro dos limites do planeta”, disse Sebastian Gonzato. “O crescimento económico infinito é impossível. É uma invenção humana, uma ideologia que nos está a conduzir para um suicídio colectivo”, concluiu.