Sondagem: Partido Trabalhista pode alcançar maioria de quase 200 deputados no Reino Unido
Inquérito da YouGov atribui 422 deputados ao Labour e apenas 140 aos conservadores. Doze membros do Governo, incluindo os ministros das Finanças e da Defesa, correm o risco de não ser eleitos.
A primeira grande sondagem da YouGov desde o início da campanha eleitoral britânica, iniciada há menos de duas semanas, que tenta prever o resultado em cada um dos 650 círculos eleitorais do Reino Unido, coloca o Partido Trabalhista a caminho de uma vitória ainda maior do que a que Tony Blair alcançou em 1997 e deixa o Partido Conservador, no poder, em risco de eleger o menor número de deputados no pós-II Guerra Mundial.
Divulgado esta segunda-feira à tarde, o inquérito atribui 422 deputados ao Labour, liderado por Keir Starmer, e uma maioria parlamentar de 194 membros na Câmara dos Comuns – o antigo primeiro-ministro Blair conseguiu uma maioria de 179 deputados. A confirmarem-se estas estimativas, a maioria que eventualmente sair das eleições de 4 de Julho poderá ser inclusivamente a mais ampla alcançada pelos trabalhistas desde 1924.
Em sentido inverso, o Partido Conservador, que governa o país desde 2010, e que é liderado pelo primeiro-ministro Rishi Sunak desde 2022, pode só conseguir eleger 140 deputados – menos 225 do que elegeu nas últimas eleições, em 2019, quando era chefiado por Boris Johnson.
A sondagem atribui ainda 48 deputados aos Liberais Democratas, 17 ao Partido Nacional Escocês (que cai a pique, podendo perder mais de 30 representantes), dois ao Partido Verde e dois ao Plaid Cymru (do País de Gales).
O Reform UK, que fica em segundo lugar em 27 círculos eleitorais, não elege qualquer deputado, segundo este estudo. As entrevistas aos participantes no inquérito foram, no entanto, realizadas antes de Nigel Farage ter anunciado, esta segunda-feira, que afinal vai ser candidato à Câmara dos Comuns e que vai assumir a liderança do partido populista e de direita radical, num gesto que poderá dar ainda mais dores de cabeça a Sunak, pelo potencial de divisão do eleitorado de direita.
De acordo com a sondagem da YouGov, o previsível mau desempenho eleitoral do Partido Conservador faz-se, em grande medida, à custa de potenciais perdas de deputados na região de Londres, no Nordeste e Noroeste de Inglaterra e no País de Gales.
Entre essas possíveis perdas podem estar pelo menos 12 dos 26 membros do actual Governo que são candidatos a deputados. Entre os governantes em risco destacam-se figuras como Jeremy Hunt (ministro das Finanças), Grant Shapps (ministro da Defesa), Penny Mordaunt (líder da Câmara dos Comuns), Alex Chalk (ministro da Justiça), David Davies (ministro do País de Gales) e Victoria Prentis (procuradora-geral).
Nessa lista já não constam os nomes de Michael Gove (ministro da Habitação), Theresa May (antiga primeira-ministra), Ben Wallace (ex-ministro da Defesa) ou Sajid Javid (ex-ministro da Saúde), entre outros, que anunciaram atempadamente que não serão candidatos nestas eleições – levando a oposição a acusá-los de terem “medo” de não ser eleitos e de “não confiarem” na estratégia de Sunak.
Para além do arranque de campanha pouco inspirado de Rishi Sunak e dos problemas na economia, na saúde ou na habitação que assolam o país, estas projecções parecem estar alicerçadas num certo ambiente de “fim de ciclo” do Partido Conservador, que governa o Reino Unido há quase 15 anos, período que incluiu duas crises económicas, dois referendos (independência da Escócia e “Brexit”), uma pandemia, uma guerra na Europa e vários escândalos políticos, nomeadamente os que foram protagonizados por Boris Johnson e que levaram à sua queda.
No outro lado da barricada, Starmer implementou uma estratégia assumida de reorientação ideológica do Labour para o centro político, cortando ostensivamente com a direcção e com as figuras ligadas à ala esquerda e ao ex-líder Jeremy Corbyn – que nem foi autorizado a concorrer pelo Labour e que se vai apresentar a votos como independente.
Para esta votação, o Partido Trabalhista está a apostar forte na reconquista do “red wall” (“muro vermelho”), um grupo de círculos eleitorais pertencentes às antigas zonas operárias no centro e no Norte de Inglaterra e no País de Gales que votaram a favor do “Brexit” no referendo de 2016 e no Partido Conservador nas legislativas de 2019.