Farage “muda de ideias” e vai ser candidato a deputado nas eleições britânicas
Presidente honorário do Reform UK assume chefia do partido populista e de direita radical e quer “liderar revolta política” a partir do círculo eleitoral inglês de Clacton.
Menos de duas semanas depois de ter dito que não seria candidato a deputado nas eleições legislativas do Reino Unido, marcadas para 4 de Julho, explicando que preferia ajudar Donald Trump a regressar à presidência dos Estados Unidos, o político eurocéptico e anti-imigração britânico Nigel Farage anunciou esta segunda-feira que “mudou de ideias”.
Não só vai concorrer a um lugar na Câmara dos Comuns do Parlamento, pelo círculo eleitoral de Clacton, no Sudeste de Inglaterra, como vai assumir de forma imediata e para os “próximos cinco anos” a liderança do Reform UK, o partido populista e de direita radical que fundou em 2018, na altura sob o nome de Partido do Brexit, substituindo Richard Tice.
“Mudei de ideias. Nem sempre é um sinal de fraqueza. Pode ser, potencialmente, um sinal de força”, disse numa conferência de imprensa, prometendo “liderar uma revolta política” e “virar as costas ao statu quo político”, porque “já nada funciona neste país”.
“Não tenham dúvidas: somos descaradamente patriotas. Acreditamos que o que está certo é pôr os interesses do povo britânico em primeiro lugar”, atirou, prometendo transformar o Reform UK no maior partido da oposição nas eleições de 2029 e acusando o Partido Conservador de “traição” em relação ao “Brexit”.
Segundo a maioria das sondagens, o Reform surge na terceira posição, com cerca de 10% das intenções de voto. As características do sistema eleitoral britânico não lhe garantem, ainda assim, um resultado próximo desse estatuto. Disputando o voto à direita, o partido ameaça, isso sim, roubar eleitores ao Partido Conservador, beneficiando, dessa forma, o Partido Trabalhista, que já era o favorito à vitória antes do anúncio de Farage.
Antigo membro do partido eurocéptico e nacionalista UKIP, ex-eurodeputado e voz importante da campanha para o referendo do “Brexit”, Farage fundou o Partido do Brexit em 2018, com o único objectivo de pressionar o Governo da conservadora Theresa May a consumar a saída do Reino Unido da União Europeia.
O partido venceu as últimas eleições europeias realizadas no país, em 2019, e concorreu às eleições legislativas de Dezembro no final desse ano – tendo, no entanto, o cuidado de não apresentar candidatos que pudessem roubar votos aos conservadores, na altura liderados por Boris Johnson.
O Partido do Brexit mudou depois de nome para Reform UK e adoptou um lema quase idêntico ao “Make America Great Again” de Trump: “Let's Make Britain Great”. Durante a pandemia, transformou-se num partido anti-confinamentos, mas voltou a reorientar-se ideologicamente quando percebeu que não tinha capacidade para atrair novos eleitores com essa mensagem.
Hoje em dia, e, particularmente, depois do plano económico falhado da ex-primeira-ministra conservadora Liz Truss, em 2022, o Reform defende cortes nos impostos, restrições à imigração, reformas estruturais no sistema político britânico e o fim das “estúpidas” metas climáticas e energéticas.
Recentemente, o partido juntou o ex-vice-presidente do Partido Conservador, Lee Anderson, às suas fileiras, depois de este ter sido suspenso pelos tories por comentários xenófobos.
Presidente honorário do Reform, Nigel Farage tem estado afastado da política activa, apostando forte no seu próprio programa televisivo na GB News, um canal televisivo semelhante à norte-americana Fox News, em termos de conteúdos e de posicionamento ideológico.
A mudança de ideias surge após um início de campanha eleitoral muito difícil para Rishi Sunak, primeiro-ministro e líder dos conservadores, que até foi desafiado por Farage para um debate sobre imigração.
Apesar de ter sido eurodeputado, Farage nunca conseguiu, ainda assim, ser eleito deputado na Câmara dos Comuns. E não foi por falta de tentativas: concorreu e 1994, 1997, 2001, 2005, 2006, 2010 e 2015. A escolha de Clacton para concorrer desta vez prende-se com o facto de o antigo deputado Douglas Carswell ali ter sido eleito por duas vezes (2014 e 2015), representando o UKIP.