Nem o calor parou a festa de Serralves
A 18.ª edição do Serralves em Festa, marcada por muita cultura, mas também muito calor, prossegue até às 22h de domingo.
No sábado, dia 1 de Junho, o PÚBLICO deslocou-se àquele que foi o segundo dia da 18.ª edição do Serralves em Festa. Apesar dos 30 graus que se fizeram sentir, todos os espaços de Serralves estavam compostos com os grupos mais diversos que vieram aproveitar 50 horas de cultura gratuita.
Ao entrar nos jardins, percebe-se rapidamente que a programação atrai qualquer um. Sozinhos, em casal, em família ou em excursões, todas as sombras são palcos de convívio e todos os caminhos levam a palcos de cultura.
No jardim adjacente à Casa do Cinema Manoel Oliveira, que ao longo do festival exibe filmes do realizador, além do reboliço dos visitantes, também os artistas desmontam as performances feitas e montam as vindouras.
Em todos os cantos há movimento, mas na zona da Casa da Chá e do antigo Ténis há mais. O motivo? Lenna Bahule. A cantora moçambicana aproveitou o momento para mostrar algumas músicas do seu próximo álbum, Kumlango. O disco será oficialmente lançado, simbolicamente, no Dia da Independência de Moçambique, 25 de Junho.
O espectáculo de voz, ngoni, percussão e chitende de batidas africanas hipnotizou todos os que se aproximaram e aproveitaram todas as sombras em redor do palco para as admirar.
Paulo e Teresa são apenas dois da cerca de centena de pessoas que ali se aglomerou para ouvir Lenna Bahule. No festival, enaltecem “o carácter ecléctico, o facto de ter todo o tipo de manifestações artísticas e um público imensamente diverso”. “Podemos ficar a conhecer outras coisas”, acentuam. Os jovens admitem que não conheciam a cantora moçambicana, mas gostaram da experiência e prometeram acompanhar o seu percurso. Ao redor, a opinião é consensual: não há um artista ou exposição que tenha movido quem foi a ir, mas sim o ambiente, conjunto e oportunidade de conhecer mais.
No final do concerto, o PÚBLICO falou, por breves momentos, com Lenna Bahule. A artista, com esta performance, estreou-se no Norte de Portugal e nos “festivais de Verão europeus”, como classificou o Serralves em Festa. Admitiu ter actuado para um “dos públicos mais diferentes”, mas “muito acolhedores”.
“Fiquei nervosa”, confessou. “Sou eu muito sozinha em palco, tenho um som um bocadinho diferente, então fica sempre a dúvida se vão ou não gostar”. “Mas foi óptimo”, rematou antes de ir, enquanto visitante, aproveitar o resto do festival.
Na Clareira das Bétulas, o ambiente é diferente. Reúnem-se famílias no relvado frente a um palco para ver Esencial, pelos Vaivén Circo. A cenografia de cinco personagens apodera-se de estruturas e plataformas para uma mensagem de reinvenção, arquitectónica e humana. E, claro, divertida para os mais novos.
Cláudia, residente em Vila Nova de Gaia, vê o espectáculo com a filha, mas tem tempo de comentar para o PÚBLICO como está a ser a sua experiência no Serralves em festa: “Tenho o hábito de aproveitar estas festividades gratuitas. É uma excelente oportunidade para abrir horizontes e ter contacto com expressões artísticas diferentes.”
Mas será possível aproveitar o Serralves em Festa com os mais pequenos? Com humor, Cláudia diz: “Fácil não é.” “Quando somos adultos, somos mais contemplativos, posso estar entretida com uma performance de 50 minutos. O foco da minha filha pode mudar de cinco em cinco minutos. Mas a programação tem, definitivamente, os mais novos em atenção”, explica.
No entanto, nem só de performances se faz o Serralves em Festa. Prova disso é Mónica e a sua marca, a a.li.ás, que é uma das muitas tendas que compõem o segmento Mercado em Festa, junto da entrada principal do festival. A a.li.ás é uma marca de calçado 100% português e sustentável, por isso, para Mónica, fazia sentido integrá-la neste espaço de Serralves.
“Eu já conhecia o Serralves em Festa. E, para nós, estar em Serralves faz todo o sentido. É um lugar sustentável, virado para a ecologia e que se dedica, muitas vezes, a projectar aquilo que é Portugal, mas que também convida os portugueses a abrir os seus horizontes. Objectivos estes em que também nos revemos”, conclui a empresária.
No final da tarde, o panorama torna-se um pouco menos ecléctico. Não a nível cultural, mas etário. As famílias saem, os jovens entram e preparam-se para a continuação da festa num ambiente mais nocturno. Bruno Pernadas inicia a noite que só acaba depois das 4h30 da manhã e que prenuncia um último dia em cheio.
A festa, que regressou em 2023 depois de um interregno, veio para ficar e, tal qual um jovem que atinge a maioridade, procurou fazer tudo o que não fez até então. E com sucesso.