Perder mais elefantes por causa da seca é um grande receio na África Austral

A seca “devastadora” causou centenas de mortes de elefantes em países como o Zimbabwe, Botswana e Zâmbia. “Faltando água e comida, vêem-se carcaças espalhadas pelos parques.”

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Um elefante resgatado no Quénia DANIEL IRUNGU/EPA/ARQUIVO
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Os países da África Austral que albergam a maior população de elefantes do mundo receiam um aumento do número de mortes destes animais nos próximos meses, à medida que as fontes de alimento e água diminuem na sequência de uma grave seca.

A região passou por um período prolongado de calor e seca durante a estação das chuvas de 2023/24, atribuído ao El Niño, um fenómeno climático marcado pelo aquecimento das águas do Pacífico oriental, que conduz a um clima mais quente em todo o mundo. O El Niño amplificou o já existente impacto das alterações climáticas, segundo os cientistas.

A grave seca afectou o abastecimento de água e de alimentos aos seres humanos, ao gado e à vida selvagem.

O Zimbabwe perdeu 160 elefantes no seu principal Parque Nacional de Hwange até Janeiro de 2024, de acordo com a autoridade responsável pela vida selvagem do país. Já o Botswana perdeu 300 elefantes devido à seca no ano passado, de acordo com o seu Ministério do Ambiente.

Outros países, como a Zâmbia, também confirmaram a morte de elefantes nos seus parques nacionais, com o Ministro do Ambiente Rodney Sikumba a descrever a seca como “devastadora”.

Os cinco países que compõem a área de conservação de Kavango-Zambezi (KAZA) – Zimbabwe, Zâmbia, Botswana, Angola e Namíbia, que abrigam um total de 227.000 elefantes – estão reunidos em Livingstone, na Zâmbia, para discutir a gestão sustentável da vida selvagem.

“A seca teve um efeito adverso e nota-se que a maior parte dos bebedouros dos parques em redor do KAZA estão a secar”, disse Sikumba à Reuters, à margem da conferência. “Faltando água e comida, vêem-se carcaças espalhadas pelos parques”.

A Autoridade dos Parques e da Vida Selvagem do Zimbabwe (Zimparks) disse ter recebido 3 milhões de dólares (cerca de 2,76 milhões de euros) do fundo de catástrofe do país para aumentar o abastecimento de água nos parques nacionais, mas o seu director-geral, Fulton Mangwanya, disse que isso não era suficiente para salvar a vida selvagem.

“Temos mais de 150 furos alimentados por energia solar. No entanto, isso não impedirá que os elefantes morram quando a seca chegar com força. Estamos preparados para a seca, mas algumas situações não podem ser evitadas", disse Mangwanya. Os responsáveis afirmaram ainda que as alterações climáticas agravaram o conflito entre humanos e animais selvagens, uma vez que os elefantes invadem o habitat humano em busca de comida e água.

No ano passado, o Zimbabwe registou 50 mortes devido a ataques de elefantes. Philip Kuvawoga, director do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW, na sigla em inglês) para a conservação da paisagem, disse que a vida selvagem enfrenta um risco maior de escassez de alimentos devido à seca e ao aumento do risco de incêndio. “A gestão dos incêndios é importante para reter e manter os alimentos disponíveis para a vida selvagem”, afirmou.

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