Consumidores diários de cannabis superaram consumidores diários de álcool nos EUA

Aumento do consumo em linha com tendência de legalização. Reclassificação legal da marijuana nos Estados Unidos estará para breve.

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Cannabis à venda num dispensário de Los Angeles, estado norte-americano da Califórnia Lucy Nicholson / REUTERS
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Há mais norte-americanos a beber álcool do que a consumir cannabis em números absolutos mas, pela primeira vez, há mais consumidores diários ou quase diários de marijuana do que consumidores diários ou quase diários de bebidas alcoólicas. Os dados reportam a 2022 e são agora revelados numa análise da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, publicada no jornal da Sociedade para o Estudo da Adição.

Segundo o Inquérito Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde, realizado desde 1971 por uma agência do Departamento de Saúde do Governo norte-americano, e cujos dados são o objecto da análise da Carnegie Mellon, 17,7 milhões de inquiridos reportavam em 2022 consumir cannabis diária ou quase diariamente e 14,7 milhões admitiam beber diária ou quase diariamente.

O crescimento do consumo de cannabis com elevada frequência aumentou exponencialmente ao longo das últimas três décadas: em 1992, apenas 900 mil norte-americanos indicavam consumir marijuana todos ou quase todos os dias. Jonathan Caulkins, investigador de políticas públicas sobre cannabis em Carnegie Mellon, admite que, à medida que a aceitação social da substância aumenta, mais inquiridos estarão mais abertos a assumir o seu consumo, pelo que os dados mais antigos poderiam não reflectir toda a realidade.

Essa aceitação social está, de facto, a aumentar. Em Novembro de 2023, um inquérito da Gallup indicava que 70% dos norte-americanos defendia a legalização da cannabis. Era o valor mais elevado de sempre, com o apoio a abranger 87% dos democratas, 55% dos republicanos, 79% dos inquiridos com 18 a 34 anos de idade e 64% dos maiores de 55 anos.

Metade dos norte-americanos já experimentou cannabis, 17% fuma regularmente (29% entre os 18 e os 34 anos) e 14% consome a substância por via alimentar (22% entre os mais jovens), segundo indicam dados recentes.

A Universidade Carnegie Mellon indica que o aumento do consumo de cannabis dá-se em linha com o crescimento da legalização ou descriminalização da substância em vários estados norte-americanos, embora sublinhe que tal não significa que a mudança de atitude dos inquiridos em relação à marijuana se explique apenas com alterações no quadro legal. O estudo assinala ainda uma “explosão” na variedade de produtos de cannabis actualmente disponíveis nos mercados legalizados, desde alimentos a vaping.

Legalização avança nos estados, à espera da reclassificação federal

A venda e consumo de marijuana para fins recreativos é já legal em 24 estados norte-americanos, bem como no Distrito de Colúmbia (território da capital Washington). Para fins medicinais, a cannabis está legalizada em 38 estados e na capital.

A nível federal, a marijuana permanece criminalizada. Em 2022, o Presidente norte-americano, Joe Biden, pediu ao Departamento da Saúde e ao procurador-geral a revisão da classificação legal da cannabis, actualmente designada como uma droga da classe I, o que a equipara à heroína e a classifica acima do fentanil. O Departamento de Saúde recomendou recentemente a reclassificação da cannabis como substância de categoria III, de “potencial moderado ou baixo de dependência física e psicológica”, após um longo processo de revisão de literatura científica e de dados epidemiológicos.

A conclusão, já subscrita pelo Departamento de Justiça, poderá levar a DEA, a agência federal de combate ao consumo e tráfico de droga, a reclassificar a substância e a rever a sua estratégia em relação à cannabis. Essa alteração poderá estar para breve. Tal não significará uma verdadeira legalização ou descriminalização da substância a nível federal, mas reduzirá os constrangimentos legais a que a indústria da cannabis ainda está sujeita nos Estados Unidos.

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