Mortes relacionadas com calor aumentaram na Europa, diz estudo

Relatório Lancet Countdown sobre a Europa sugere que mortes relacionadas com o calor tiveram um aumento médio estimado de 17,2 mortes por 100.000 habitantes entre duas décadas deste século.

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A subida das temperaturas aumentou a mortalidade relacionada com o calor e reduziu a oferta de trabalho na Europa, refere o relatório da Lancet ISABEL INFANTES / REUTERS
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As mortes relacionadas com o calor aumentaram na maior parte da Europa, com um aumento médio estimado de 17,2 mortes por 100.000 habitantes entre os períodos 2003-2012 e 2013-2022, sugere o relatório Lancet Countdown sobre a Europa. Este documento, publicado esta segunda-feira, examina as relações entre a saúde humana e a crise climática no continente europeu, que está a aquecer duas vezes mais rápido do que a média planetária.

O relatório agora publicado “indica que os governos europeus não conseguiram proteger os seus cidadãos dos impactos das alterações climáticas na saúde”, afirma a Aliança para o Ambiente e a Saúde (HEAL, na sigla em inglês), uma organização europeia sem fins lucrativos, numa nota de imprensa. Para a HEAL, são urgentes acções que apostem em estratégias de adaptação e no reforço do planeamento urbano e dos espaços verdes com o objectivo de reduzir o stress térmico.

“Esta primeira actualização da avaliação exaustiva das alterações climáticas e da saúde na Europa sublinha que as alterações climáticas já estão a afectar negativamente a saúde das populações europeias e que, na ausência de medidas climáticas adequadas, esses impactos continuarão a aumentar num futuro previsível”, lê-se na conclusão do relatório da Lancet.

O documento apresenta 42 indicadores que examinam os impactos negativos das alterações climáticas na saúde dos europeus. “O aumento das temperaturas aumentou a mortalidade relacionada com o calor, reduziu a oferta de trabalho e aumentou os períodos de risco para a actividade física” tanto moderada como intensa, lê-se no documento.

Os europeus também estão mais expostos a fenómenos climáticos extremos – como as ondas de calor, os episódios de seca hidrológica e os incêndios florestais –, o que tem diferentes consequências negativas para a saúde humana. Os fogos, por exemplo, aumentam a exposição a partículas suspensas na atmosfera e agravam problemas respiratórios. Já as secas estão associadas à insegurança alimentar: só em 2021, as alterações climáticas resultaram em quase 12 milhões de pessoas adicionais afectadas por insegurança alimentar moderada ou grave na Europa, refere o relatório.

Doenças sensíveis ao clima – e que, por isso mesmo, normalmente não consideramos como um problema europeu – começam a conquistar terreno no continente: é o caso da leishmaniose, do vírus do Nilo Ocidental, da dengue, da malária e das carraças Ixodes ricinus (que é o vector da doença de Lyme e da encefalite transmitida por carraças), exemplifica o relatório.

“As alterações climáticas não são um cenário teórico distante no futuro: estão aqui e matam. É provável que os impactos das alterações climáticas se agravem dentro e fora da Europa, afectando o bem-estar de milhares de milhões de pessoas. Reconhecendo os impactos das alterações climáticas dentro e fora da Europa e o seu papel na criação da crise climática, a Europa deve empenhar-se numa transição ambiental justa e saudável, que inclua a assunção de uma responsabilidade global e o apoio às comunidades mais afectadas”, concluem os autores.

O relatório Lancet Countdown dedicado à Europa foi publicado pela primeira vez em 2021, com o objectivo de fomentar políticas climáticas que tivessem impacto directo na saúde humana. No ano seguinte, o documento passou a avaliar 33 indicadores em cinco domínios na intersecção entre saúde e ciência. Entre os indicadores estão doenças ou temas como leishmaniose, carraça, segurança alimentar ou mesmo a pegada ambiental do sector hospitalar.

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