Beneficiários do Complemento Solidário para Idosos vão ter medicamentos gratuitos

Medida, que deverá ser aprovada no Conselho de Ministros desta quinta-feira, promete beneficiar perto de 140 mil idosos e deverá custar ao Estado 10,4 milhões de euros por ano.

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A pobreza afecta mais de 17% dos portugueses com 65 e mais anos de idade Daniel Rocha/PUBLICO
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Os cerca de 140 mil beneficiários do Complemento Solidário para Idosos (CSI) vão deixar de ter encargos com os medicamentos sujeitos a receita médica, que passarão a ser comparticipados a 100% pelo Estado.

A medida, que deverá custar 10,4 milhões de euros, deverá ser aprovada pelo Conselho de Ministros que se reúne amanhã, segundo uma fonte do Governo.

“Esta medida integra-se na necessidade de adoptar políticas que salvaguardem os idosos, em especial aqueles que se encontram em situação de maior vulnerabilidade, através da sua protecção e da promoção de um envelhecimento com dignidade”, sustenta o Governo, dizendo contar beneficiar deste modo 140 mil idosos de baixos recursos económicos.

A pobreza afecta 17,1% dos idosos, segundo a última caracterização do Instituto Nacional de Estatística, realizada em 2023 sobre rendimentos do ano anterior. A taxa de risco de pobreza correspondia, naquele ano, à proporção de habitantes com rendimentos líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 7095 euros (591 euros por mês).

Actualmente, 139.500 pessoas com mais de 66 anos de idade recebem o CSI, que é um apoio mensal pago em dinheiro aos idosos em situação de pobreza e para o qual são elegíveis apenas os que tenham rendimentos anuais inferiores a 6608 euros. No caso de um casal, um rendimento superior a 11.564 euros será factor de exclusão.

“Com esta medida os beneficiários do CSI vão deixar de ter qualquer encargo com medicamentos sujeitos a prescrição médica e têm uma poupança imediata no seu orçamento mensal”, sublinha ainda a fonte do Governo. E aponta exemplos concretos de medicamentos para o colesterol: “Numa embalagem (…) o utente tem a seu cargo o pagamento de 11,64 euros.” Já inclui o desconto directo de 50% que o anterior Governo autorizou em Setembro de 2023. Até então, o apoio existia, mas implicava um pedido de reembolso. Agora, “com a duplicação desta ajuda para os 100%, o idoso levará para casa o medicamento sem custos”, enfatiza a fonte governamental.

Raciocínios semelhantes são desenvolvidos para anticoagulantes e outros medicamentos também frequentemente prescritos para idosos. Uma vez aprovada, a medida deverá ser publicada em Diário da República “nos próximos dias”.

Em 2009, um milhão de pensionistas teve genéricos de graça

Não é a primeira vez que um governo decide tornar grátis medicamentos para pensionistas mais carenciados. Em 2009, o Governo socialista liderado por José Sócrates decretou que para um universo de beneficiários muito maior – os mais de um milhão de pensionistas que então tinham rendimentos inferiores ao salário mínimo nacional – os medicamentos genéricos, e apenas estes, passariam a ser gratuitos.

Mas a medida durou pouco mais de um ano. Em Setembro de 2010, a gratuitidade terminou depois de se constatar que a despesa tinha ultrapassado em muito as estimativas iniciais e também com o argumento de que era necessário combater “abusos” então verificados. Nessa altura, era ministra da Saúde Ana Jorge, decidiu-se que os genéricos comparticipados a 100% para os pensionistas com baixos recursos passariam a ser comparticipados a 95%. Ana Jorge explicou então que a gratuitidade dos genéricos custara cerca de 100 milhões de euros ao Estado, mais 60 milhões do que inicialmente fora calculado.

Agora, o universo de pessoas abrangido pela gratuitidade de medicamentos (todos, não apenas genéricos) é substancialmente mais reduzido – são os perto de 140 mil idosos que recebem complemento solidário – e a despesa estimada também 10,4 milhões de euros. Um valor que representa uma gota no oceano da despesa com as comparticipações estatais de medicamentos dispensados nas farmácias de rua que em 2023 ascendeu a quase 1,6 mil milhões de euros e os gastos dos utentes com os fármacos que no passado foi da ordem dos 860 milhões de euros.

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