O Porto Femme está de volta e celebra mulheres, revoluções e liberdade

De 16 a 21 de Abril, o Porto Femme prepara a Revolução dos Cravos com uma programação que traz à grande tela 122 produções femininas. Há conversas, workshops, e várias estreias.

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"Casas para o povo", de Catarina Alves Costa, sobre o SAAL (habitação social) , é um dos filmes projectados DR
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"Mulheres de câmara na mão: cinema e revolução" é o mote que leva o Porto Femme à sétima edição, desta vez sob o holofote dos 50 anos do 25 de Abril. É em torno da liberdade que gira a programação do festival de cinema do Porto dedicado às mulheres que tem como grande palco o cinema Batalha.

A prova viva disso são as três programações especiais temáticas. A que dá nome à edição conta com a projecção de cinco curtas, seguidas de uma conversa sobre as mulheres e a revolução de Abril, no dia 18. "Uma revolução íntima. De monstros a mulheres no cinema indígena", no dia 19, com quatro curtas e uma conversa, traz filmes protagonizados por mulheres indígenas, e "Enfim, o Amor!", no dia 20, com três curtas e mais uma conversa, foca-se nas protagonistas brasileiras negras e a na sua relação com o amor. No total das competições, são 122 filmes produzidos e realizados por mulheres que preenchem as telas do Porto, com 11 estreias mundiais e outras actividades à mistura.

"O grande tema desta edição surge porque desde o ano passado que estamos [a realizar o festival] em Abril, o que faz duplo sentido, porque também é um ano em que se comemoram 50 anos do 25 Abril", diz a curadora do festival, Rita Capucho, em entrevista ao P3. "Para as mulheres terem igualdade de direitos teve sempre de haver uma revolução para lutar por eles", acredita.

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"Flores da planície", da mexicana Mariana X. Rivera, é um dos filmes que compõem a selecção sobre cinema de mulheres indígenas DR

É para celebrar a diversidade e, simultaneamente, a união na luta pelos direitos que a curadora justifica as programações especiais: "Este ano olhamos para nós e pensamos sobre o que falta fazer para termos mais diversidade". Dá exemplos de outras lutas, bem diferentes, mas que também "têm espaço" no Porto Femme, como o caso retratado no filme Costurar para Dizer, de Raker Aguirre, sobre "um acampamento de mulheres na Inglaterra, que por mais mais de 20 anos lutou contra as armas nucleares". Menciona outras revoluções que tiveram lugar noutros países e que vão estar também representadas nesta edição, como a primavera árabe (mencionada em Olho da Tempestade, de Mai Masri) ou a repressão na antiga Jugoslávia, contada no filme montenegrino Saint Gregory, de Nataša Nelević, sobre um campo de concentração para mulheres.

Esta quarta-feira já houve warm-up nos Maus Hábitos, espaço cultural e bar, que também vai ser o palco onde se apresenta uma das sessões da competição internacional (dia 17 de abril). Os vencedores das cinco categorias em competição serão conhecidos no dia 21 de abril, às 21h15 na cerimónia de encerramento no Batalha Centro de Cinema — Nacional, Internacional, Temática, Estudante e XX Element (onde podem entrar produções com homens, desde que tenham mulheres na equipa ou abordem temas feministas). As duas primeiras têm projecções no Batalha, os filmes temáticos passam na Universidade Lusófona, os documentários da competição Internacional, na Casa Comum da Universidade do Porto e as duas últimas categorias na Casa das Artes.

O Aborto não é um crime é o nome da reportagem apresentada em 1976 por Maria Antónia Palla, sobre abortos clandestinos, que levou ao julgamento da jornalista da RTP, três anos mais tarde. É também o nome do filme documental de 1975 da franco-portuguesa Monique Rutler, que será projectado no dia 17 na Casa Comum, e que dá mote a uma conversa sobre o mesmo tema no cinema Batalha, ao fim da tarde. Há também uma homenagem à realizadora Margarida Cardoso, autora de filmes como A Costa dos Murmúrios, sobre o colonialismo. Ao longo dos seis dias de Porto Femme, visitam o Porto 60 realizadoras ou produtoras, como é o caso da brasileira Debora Diniz, que faz no festival a estreia do seu filme Uma mulher comum, sobre o aborto no Brasil.

Há ainda dois workshops, um dia 19, na Casa das Associações, que ensina "a arte do pitch" e desenvolve a exposição confiante de ideias, e o outro que se estende de 18 a 20, nas galerias MIRA, sobre desconstrução de estereótipos, "procurando criar pequenos filmes reflexivos para exibição pública e debate", lê-se na programação.

Texto editado por Inês Chaíça

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