Autodiagnósticos em saúde mental, redes sociais e propagação de mitos

Embora seja louvável que as pessoas procurem compreender melhor a sua saúde mental, é crucial fazê-lo com a orientação de profissionais qualificados.

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Num mundo pós-pandemia, onde a consciencialização sobre saúde mental atingiu níveis sem precedentes, é crucial reconhecer tanto os avanços quanto os desafios que essa nova era nos apresenta. Como psicólogo clínico, observo com admiração a crescente sensibilização em torno da saúde mental, mas também sinto a necessidade urgente de abordar uma tendência preocupante que se tem intensificado nesse contexto: os autodiagnósticos em saúde mental.

Durante os tempos difíceis da pandemia, muitos de nós fomos confrontados com as nossas próprias vulnerabilidades e necessidades emocionais. A ansiedade, o stress e a solidão tornaram-se companheiros frequentes nas nossas vidas, levando-nos a procurar respostas e soluções para os nossos conflitos internos. Nesse contexto, as redes sociais desempenharam um papel crucial, fornecendo um espaço onde poderíamos partilhar as nossas experiências e encontrar apoio mútuo.

No entanto, nem sempre a informação disponível nas redes sociais é precisa ou confiável. Muitas vezes, somos confrontados com uma enxurrada de artigos, publicações e vídeos que prometem soluções rápidas para os nossos problemas emocionais, sem levar em consideração a complexidade da saúde mental. É nesse cenário que os autodiagnósticos começam a ganhar terreno, à medida que as pessoas procuram identificar e rotular as suas próprias condições com base em informações superficiais.

Recentemente, uma paciente chegou ao meu consultório convencida de que era autista. Tinha feito extensas pesquisas online e estava convencida de que os sintomas que experienciava correspondiam ao autismo. No entanto, ao iniciar a nossa conversa, ficou claro, depois de me mostrar alguns vídeos no TikTok, que a sua compreensão sobre o autismo era limitada e baseada em informações imprecisas que encontrara na internet.

Durante a nossa consulta, explorei cuidadosamente os sintomas que ela estava a enfrentar e descobri que muitos deles não eram exclusivos do autismo, mas poderiam ser atribuídos a uma variedade de outras condições ou circunstâncias de vida. Após uma avaliação abrangente, chegámos a um entendimento mais claro das suas necessidades e desenvolvemos um plano de tratamento adequado às suas necessidades individuais.

Este caso ilustra perfeitamente os perigos dos autodiagnósticos em saúde mental. Embora seja louvável que as pessoas procurem compreender melhor a sua saúde mental, é crucial fazê-lo com a orientação de profissionais qualificados. Como psicólogo clínico, estou aqui para oferecer apoio e orientação, garantindo que cada indivíduo recebe o cuidado personalizado que merece.

Os autodiagnósticos em saúde mental podem levar a uma série de armadilhas. A auto-atribuição de um diagnóstico pode resultar numa falsa sensação de compreensão e controlo sobre a própria condição, levando à auto-estigmatização e à automedicação prejudicial. Além disso, o autodiagnóstico pode retardar a procura por ajuda profissional adequada, comprometendo o tratamento eficaz e prolongando o sofrimento desnecessariamente.

Como profissional de saúde mental, é fundamental destacar a importância da avaliação e intervenção profissionais adequadas. As perturbações mentais são condições médicas complexas que requerem uma abordagem individualizada e holística. Somente através de uma avaliação cuidadosa por parte de profissionais qualificados é possível obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento eficaz.

Portanto, é preciso abordar a consciencialização sobre saúde mental com uma dose saudável de cautela e responsabilidade. Enquanto celebramos os avanços na destigmatização da saúde mental, também devemos reconhecer os perigos dos autodiagnósticos e a importância de procurar ajuda profissional quando necessário.

Juntos, podemos construir uma cultura de cuidado e apoio mútuo, onde a saúde mental é tratada com a seriedade e a compaixão que merece.

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