Infografia
Como é que a Internet dá a volta ao mundo?
A Internet não vive da “nuvem”, nem entre as estrelas em satélites a orbitar a Terra. A maioria das comunicações online depende de fibras, da espessura de um fio de cabelo, em cabos no fundo dos oceanos. São os cabos submarinos.
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De costa a costa
Os cabos submarinos, colocados no fundo dos oceanos, são usados para transmitir sinais de telecomunicações entre estações de rede terrestres. São a base da maioria das comunicações globais.
Entre 97% e 99% do tráfego intercontinental de dados depende de cabos instalados no fundo dos oceanos que funcionam como auto-estradas para a informação digital. Só que, em vez de viajar sobre rodas, a informação viaja em feixes de luz que percorrem fibras ópticas no interior dos cabos.
A informação (por exemplo, um vídeo no YouTube ou um email) é transformada em flashes de luz que percorrem os cabos até chegar ao destino. As fibras ópticas, feitas de vidro ou plástico, guiam a luz, usando reflexão interna para manter o sinal forte ao longo do percurso.
Regra geral, os feixes de luz viajam à velocidade de 200.000km/s. Isto quer dizer que o envio de um email entre Portugal e Nova Iorque (5419km) demora cerca de 30 milissegundos – é, basicamente, em tempo real. Se a Internet está lenta, a culpa é de outros factores.
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Rotas dos dados
Existem mais de 500 cabos submarinos em todo o mundo. O
primeiro foi colocado bem antes de se começar a sonhar com a
exploração espacial, na década de 1850: na altura, para comunicar via
telégrafo e sem fibra óptica. Eram essenciais para as comunicações
militares.
A expansão até à extensa rede actual é reflexo dos avanços
tecnológicos — em particular, a descoberta da fibra óptica na década
de 1980, um meio de transmissão que utiliza fios de vidro ou plástico
para conduzir luz. Tornou-se possível transferir mais dados, mais
rapidamente. O boom da Internet tornou essas viagens uma
necessidade.
A localização dos cabos depende da oferta e da procura. A
Europa, Ásia e América Latina trocam vastas quantidades de informação
com a América do Norte. É isso que justifica a densidade de cabos
submarinos nessas rotas principais.
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Explore os cabos submarinos,
deslizando para o lado
Portugal como localização-chave
Nas últimas décadas, Portugal tornou-se uma localização-chave nas rotas de cabos submarinos, em particular para aceder à África Ociental. Ao todo, há 16 cabos ligados a Portugal — com mais quatro planeados até 2026.
Evolução anual das ligações globais por cabos submarinos
O novo cabo submarino da Google, o Nuvem, será o único que liga
Portugal directamente à América do Norte.
A diversidade geográfica é importante para a redundância. Mais cabos
equivale a mais fiabilidade: se um país depende de dois cabos, e ambos
se danificarem, a conectividade é prejudicada.
Localização dos pontos
de amarração
de cabos submarinos em Portugal
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Origem do investimento
Historicamente, o financiamento dos cabos vinha de empresas de
telecomunicações, internacionais e regionais, que formavam consórcios
para dividir o custo e os riscos associados à instalação e manutenção
de cabos submarinos. A dinâmica começa a mudar.
Fornecedoras de conteúdos como a Amazon, a Microsoft, a Google,
e a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) começam a assumir um
papel mais activo no investimento em cabos submarinos para suportar o
intenso fluxo de dados nas suas plataformas.
Empresas que mais investiram em cabos submarinos entre 1989 e 2023
Em número de cabos submarinos
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Viagem (demorada)
ao fundo do mar
Estudar a rota
A viagem dos cabos até às profundezas é demorada. Primeiro, é preciso estudar a melhor rota para evitar problemas — por exemplo, reservas naturais, fundos irregulares, fracturas da crosta terrestre (linhas de falha) e outros cabos.
Da terra ao mar
Só depois é que os cabos são enrolados em bobinas gigantes que viajam em navios especializados. Alguns navios levam 2000km de cabo de uma só vez para serem cuidadosamente depositados ao longo da viagem pelas rotas definidas.
“Lavrar” o oceano
Para poupar tempo, os cabos podem viajar em embarcações
distintas, que começam em pontos separados, e juntam os cabos
no final. Nas áreas mais próximas da costa, onde o risco de
danos é maior, é usada uma espécie de
“arado”
para enterrar os cabos no leito marinho.
Isto previne
danos causados por navios de pesca e âncoras.
Nas profundezas do oceano
A profundidade a que os cabos são colocados depende da região que atravessam. Por exemplo, na zona mais profunda da fossa do Japão os cabos ficam a 8000m de profundidade. São cerca de 73 estátuas do Cristo-Rei empilhadas.
São cerca de 73 estátuas do Cristo-Rei empilhadas.
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Primeiros cabos submarinos
O primeiro cabo, que transportava mensagens de telégrafo entre França e Inglaterra, foi concluído em 1850. Era mais simples, com fios condutores de cobre, cobertos em guta-percha (material semelhante à borracha). Em vez de luz, os dados viajavam em impulsos eléctricos.
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Em 1858, celebrou-se a conclusão do primeiro cabo transatlântico entre o Reino Unido e os EUA. A rainha Vitória usou o cabo para enviar uma mensagem a felicitar o Presidente norte-americano James Buchanan pelo feito, mas o cabo só funcionou algumas semanas.
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Um dos desafios era o transporte dos cabos que tinham de ser cuidadosamente enrolados em grandes bobinas a bordo de navios, sem apoio de máquinas. Regra geral, as fábricas de cabos submarinos ficavam perto da costa para facilitar o processo.
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O verdadeiro sucesso chegou em 1866, com a primeira ligação transatlântica duradoura entre a Europa e os EUA.
Devido ao alto custo e risco associado a esses projectos, governos e consórcios de empresas de telecomunicações uniam forças para financiar a instalação dos cabos.
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Na Primeira Guerra Mundial, os cabos submarinos tornaram-se armas de guerra. O Governo do Reino Unido controlava todos os cabos que saiam do país e os cabos da Alemanha no canal da Mancha foram cortados — só sobrou um, monitorizado pelos britânicos. Este é um dos motivos por detrás de receios actuais em torno do investimento de empresas controladas por governos em infra-estruturas de comunicação.
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Anatomia de um cabo submarino
Os cabos submarinos tendem a ter o diâmetro de mangueiras de jardim, mas podem ser mais largos em zonas onde há mais risco de danos. A maior parte da estrutura serve para proteger as fibras ópticas, que são a chave da transmissão de dados. O número e o material exacto das camadas varia consoante a “missão” de cada cabo — o debate sobre a melhor estrutura continua em aberto.
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Núcleo
No centro encontramos sempre fibras ópticas, filamentos extremamente finos e transparentes, de vidro ou de plástico, que transmitem dados na forma de luz. São da grossura de um fio de cabelo. As fibras são revestidas com uma camada protectora, normalmente feita de plástico, para impedir danos físicos e perdas de sinal.
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Vaselina
Esta gordura mineral que é extraída do petróleo protege as fibras ópticas da corrosão.
Cobre ou alumínio
Protegem as fibras da penetração de água e de outros danos externos. O cobre é uma opção popular porque tem uma maior condutividade eléctrica.
Camada de força
Para proteger o cabo de tensões e torções, podem existir camadas de protecção compostas por materiais mais firmes. O aço é um exemplo.
Elementos extras
Alguns cabos têm camadas adicionais, particularmente em ambientes mais extremos. Isto explica por que existem cabos com diferentes diâmetros.
Camada externa
Por norma, é feita de polietileno (o tipo de plástico mais comum e versátil) que protege o cabo dos danos mais externos. O diâmetro final do cabo pode variar, sendo comparável ao de uma mangueira de jardim ou ao de uma lata de refrigerante.
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Quando os cabos falham
Apesar das várias camadas protectoras, os cabos submarinos não são
imunes a danos. Regra geral, porém, são raros.
Em média, são registados 100 problemas por ano (dados da
Telegeography). O facto de não nos apercebemos deve-se à
redundância – por norma, há mais do que um cabo a ligar dois
países. Quando há falhas, a rota dos dados tem de ser alterada,
mas não pára.
Falhas causadas por navios de pesca e âncoras são as mais comuns.
Segue-se o impacto de catástrofes naturais, como terramotos, e o
desgaste natural dos cabos (abrasão). A sabotagem deliberada e
ataques de animais aquáticos, como tubarões, são causas raras.
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FICHA TÉCNICA
Textos
Karla Pequenino
Edição
Sérgio Gomes
Infografia, Ilustração e Animação Marina Chen
Desenvolvimento web
Francisco Lopes
e Marina Chen