Euro-media

A Euronews é um exemplo pequeno e curto de uma área sobre a qual a União Europeia parece ter adormecido.

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É cada vez mais frequente questionar valores europeus, seja na agricultura, segurança ou ordem económica. O tema cresce, não apenas em Portugal, mas por toda a Europa. Basta ver que países como Itália, Países Baixos, Finlândia, Suécia escolheram nas precedentes eleições políticas mais reservadas e nacionais em detrimento da abertura europeia demonstrada em períodos passados.

Este ano será também importante seguir de perto as eleições da Bélgica, Áustria e Croácia, bem como ver ser a Islândia segue a tendência nórdica (excluo desta menção a Ucrânia, pois a lei marcial deverá impedir o voto até ao final da guerra). O grande foco estará voltado para o período de 6 a 9 de Junho deste ano, em que as eleições para o parlamento europeu também terão lugar. Seria talvez tentador fazer uma reflexão política sobre as causas e o que estará em jogo; não é a isso que me proponho. Gostaria antes de elaborar e fundamentar o papel que a Euro-media poderá ter no futuro da Europa.

Com a saída do Reino Unido da UE, o pouco pensamento crítico que existia sobre política europeia ficou ainda mais fragmentado e os restantes países europeus pouco ou nada parecem estar interessados no escrutínio de Bruxelas. É por isso imperativo que a Europa reflicta sobre si própria e que parecer quer ter sobre a sua transparência e acesso às pessoas, fazendo jus ao seu lema unidos na diversidade.

A Euronews é um exemplo pequeno e curto de uma área sobre a qual a União Europeia parece ter adormecido. Iniciado em 1993, o projecto foi bastante ambicioso: trazer uma plataforma onde a Europa se discutisse como um todo deixando de parte o sensacionalismo e sendo o primeiro projecto mundial com difusão multilinguística. A mais óbvia falha, talvez, tenha sido a sua transmissão que, devido a diferentes redes de distribuição, foi condicionada muitas das vezes a provedores de serviços pagos para utilizadores. Hoje em dia a plataforma é gratuita e acessível através de múltiplos recursos, mas porquê parar aqui?

Se a Europa quer de facto ser uma plataforma de liberdade e pensamento crítico, porque não investir em plataformas para esse devido efeito? Existe o programa Media mas será ambicioso o suficiente? Para quando a Euro 1, a Euromovies, a EURadio, ect?

Para quando distribuir e fundamentar pensamento europeu não só na Europa, mas no Mundo? Em bom rigor, o pensamento nacional propaga-se rápido e é cada fez mais difícil acompanhar as mudanças, mas elas existem e manifestam-se através da música, do teatro, do cinema, etc. Não seria benéfico que a Europa as mostrasse?

Que desse contexto e explicasse que a Sul existe um maior imediatismo que se opõe a um pensamento mais pragmático vivido a Norte? Ou que refutasse a questão acima e que explicasse o porquê de nos Países Baixos a decisão tentar ser consensual entre cidadãos, contrariamente à Alemanha que, localizada na fronteira, aposta mais em decisões hierarquias. Explicar o papel da Rússia em movimentos filosóficos e artísticos para a Europa. Expor que muitos dos grandes períodos de apogeu europeu se deveram a aglomerados de pessoas com diferentes conjunturas.

Promover cineastas estabelecidos, como Yorgos Lanthimos, Pedro Almodóvar e Lars von Trier, bem como aqueles que começam agora a ganhar tracção internacional: Céline Sciamma, Pawel Pawlikowski e Miguel Gomes. Dar continua banda sonora à música europeia com tops semanais ou mensais por país (acrescentando assim às valências do actual Festival da Canção) bem como promover o Ode to Joy, o hino europeu que na realidade nunca foi bem difundido e aceite, com artigos a defender a remoção e actualização. Promover debates e programas de opinião onde especialistas de diferentes origens se possam confrontar na troca de ideias.

O potencial é alto e de certo modo parece-me ser facilmente rejeitado, excluído. Urge a necessidade de a Europa se discutir pela Europa e preferencialmente em múltiplos contextos. O facto de actualmente se nascer num contexto de comunidade europeia não se deve ter por garantido e é importante escrutinar.

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