André Sousa vai de mota aos pólos Norte e Sul a pensar na luta contra o cancro

Depois da volta ao mundo em minimota, está pronto para outra: parte sábado numa 1100cc e vai recolher água nos pólos para um sorteio solidário. A verba seguirá para a Liga Portuguesa Contra o Cancro.

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“Sei que não é nada de especial, mas queria mesmo que esta viagem tivesse uma causa solidária e foi essa que escolhi” Alexandra Couto
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Nem as lesões com que ficou na coluna na sua anterior volta ao mundo, desde que um camião lhe abalroou a minimota numa estrada de Los Angeles, o fazem parar quieto. Mal regressou a Portugal, em Março de 2023, André Sousa começou a escrever o livro sobre essa aventura de três anos e mais de 75.000 quilómetros em cima de uma Honda Monkey – vai lançá-lo oficialmente este sábado, antes da partida – e tratou logo de começar a delinear uma nova viagem, com passagem no Pólo Sul e no Pólo Norte.

“Mas desta vez vou numa mota mais confortável”, diz ele, revelando que o modelo da nova Honda foi seleccionado pelos seus mais de 80.000 seguidores nas redes sociais. “Dei-lhes a escolher entre uma Monkey e uma Africa Twin, e ganhou a Twin.” Terá sido pela cilindrada superior dessa mota, com 1100 centímetros cúbicos face aos 125 da mini? Terá sido pelo reforço da potência do motor, que passa de 9 para mais de 100 cavalos? “Acho que não foi por nada disso”, admite o motociclista de Oliveira de Azeméis. “A sensação que tenho é que escolheram a Twin para eu poder conduzir mais direitinho e não ficar ainda pior da minha coluna.”

Essa interpretação pode soar a exagero, mas não será o caso: como André complementou toda a anterior volta ao mundo com relatos detalhados, regulares e efusivos no seu Facebook e Instagram, isso criou com os apreciadores de aventuras e de motociclismo uma tal proximidade e familiaridade que todos têm ainda bem presentes as suas dificuldades da última viagem.

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André Sousa Alexandra Couto

É por isso que está optimista quanto à causa solidária que desta vez também o motiva: propõe-se recolher água num recurso natural de cada pólo, armazená-la em garrafas que guardará consigo durante todo o percurso e depois sorteá-las entre todos os fãs que comprem uma senha cujo valor reverterá integralmente para a Liga Portuguesa Contra o Cancro. “Sei que não é nada de especial, mas queria mesmo que esta viagem tivesse uma causa solidária e foi essa que escolhi”, declara, lembrando a morte da mãe com cancro da mama, quando ele tinha apenas 14 anos.

Até que o sorteio se possa realizar, contudo, ainda muito há para acontecer, inclusive este sábado. Nesse dia, André Sousa parte de Barcelos para a sua nova volta ao mundo e a cidade vai celebrar o arranque com festa, o que muito se deve ao apoio que ele sempre recebeu do clube motard local, o Moto Galos. Os festejos prevêem petiscos pelas 13h, a apresentação oficial do livro Volta ao Mundo de Minimoto às 15h e o início da nova aventura uma hora depois, em marcha lenta até à fronteira entre Valença e Tui, para que (provavelmente centenas de) motociclistas acompanhem o viajante de 28 anos nos primeiros dos 50.000 quilómetros que ele tem pela frente.

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André Sousa Alexandra Couto

Se a volta ao mundo em minimota sofreu grandes derrapagens de prazos devido a circunstâncias como fronteiras fechadas pela pandemia, estradas obstruídas pelo sismo na Turquia e tratamentos médicos na sequência do acidente nos Estados Unidos e do rapto nas montanhas nepalesas, é de esperar que, nesta nova epopeia, a lei das probabilidades matemáticas evite ao motociclista português iguais ou semelhantes sufocos. Mas o calendário da viagem conta, mesmo assim, com influências externas e todas por culpa da meteorologia.

“No Pólo Sul quero ir até Ushuaia, que é conhecida como ‘a cidade do fim do mundo’, mesmo no extremo da Argentina, e no Pólo Norte vou até Prudhoe Bay, no Alasca, onde chega a haver temperaturas de 50ºC negativos”, conta André. “Se apanhar tempo mesmo mau ou neve de um metro de altura, por exemplo, claro que vou ter que parar até pode circular na estrada e arrisco-me a ficar no mesmo sítio umas semanas grandes.” A pressão, no entanto, é agora menor do que na anterior viagem porque o explorador português não pretende tentar bater nenhum recorde do Guinness, como aconteceu com a anterior circum-navegação em minimoto e com a travessia de todos os países da América Latina numa 125 cc.

Essa porção das Américas continua, aliás, a ser a região preferida do mundo para André Sousa e a que melhor explica por que é que ele se mete nestas coisas. “O mundo está cheio de pessoas interessantes e eu quero conhecê-las, e inspirar os outros a fazerem o mesmo”, justifica. Ao longo dos próximos “12 a 18 meses”, ele irá muitas vezes dormir em tendas e casas de estranhos, e contar tostões para comer. Vai andar em sobressalto pelo risco de que lhe roubem a mota, que agora é de gama superior; vai tentar mostrar-se feliz e contente quando, sozinho num ermo qualquer, gravar relatos de viagem para as redes sociais e agora também um canal de YouTube.

E entre tudo isso, esteja onde estiver, como estiver, terá ainda que arranjar tempo e vontade para fazer exercícios de fisioterapia duas vezes ao dia, para amenizar os efeitos da estrada numa coluna com três vértebras seriamente lesionadas. Mas o que são esses detalhes, afinal, perante tudo o que continua à espera de ser descoberto? Ele insiste que “é possível conhecer o mundo, mesmo com um budget pequeno”, e acredita que se sai valorizado até das más experiências. “É um desafio que me coloco a mim próprio”, confessa. “Há sempre lugares novos para ver, pessoas novas para conhecer – por rotas diferentes, mais estimulantes, que exijam maior superação.”

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André Sousa e o seu livro de viagens Alexandra Couto
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