O seu eczema piorou? Tem comichão e a pele vermelha? A culpa pode ser do clima

O aumento das temperaturas, a poluição proveniente dos incêndios florestais, a seca, as tempestades e as inundações estão ligados à exacerbação da doença inflamatória da pele, uma das mais comuns.

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O eczema é a doença inflamatória da pele mais comum em pessoas de todas as idades GettyImages
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Não são recentes os estudos que comprovam os impactos das alterações climáticas na saúde. E, se antes, a comunidade científica previa que a dermatite atópica, também conhecida por eczema, era afectada pela poluição atmosférica, agora, não exclui o agravamento dos restantes eventos climáticos como potenciador deste problema de pele. Nada parece ajudar nestes casos de doença inflamatória.

“Já sabemos há algum tempo que a dermatite atópica é especialmente sensível a factores climáticos, incluindo a poluição atmosférica”, disse a co-autora do estudo Impact of Climate Change on Atopic Dermatitis: A Review by the International Eczema Council e professora do Departamento de Dermatologia da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), Katrina Abuabara, num comunicado de imprensa sobre a investigação. Porém, havia “menos clareza” ao nível dos eventos climáticos associados “à emissão de gases com efeito de estufa, como o aquecimento global, as ondas de calor, a seca, os incêndios florestais e as inundações”, acrescentou.

Ao perceberem que “o impacto do aumento dos riscos climáticos ao nível da dermatite atópica” permanecia “mal caracterizado”, decidiram suprimir a “lacuna” de conhecimento que existia, lê-se no estudo publicado esta quarta-feira, no jornal europeu Allergy. Como tal, a equipa de investigadores reviu e sumarizou 18 estudos, provenientes dos Estados Unidos, da Ásia, Europa, África e do International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC), que interligam fenómenos climáticos associados às emissões de gases com efeito de estufa à dermatite atópica.

“Encontramos provas de que a maioria dos riscos climáticos ligados às emissões de gases com efeito de estufa têm um impacto negativo” ao nível da “prevalência e gravidade do eczema”, como também ao nível da “procura de cuidados de saúde” para tratar este problema, concluiu o estudo.

Organismo agredido de várias formas

O aumento das temperaturas tem impacto sobre a “produção, distribuição e dispersão de aeroalergénios, proteínas alergénicas e poluentes atmosféricos” – substâncias que, em contacto com a pele, agravam o eczema. Já o “stress físico e psicológico” gerado pelas ondas de calor aumenta as manifestações da doença.

A poluição proveniente dos incêndios florestais também é responsável por agravar os sintomas da dermatite atópica e aumentar a necessidade de assistência dermatológica durante esses fenómenos. A procura de ajuda médica sobe ainda quando ocorrem tempestades, devido ao aumento do contacto com alergénicos domésticos e do stress psicológico. A presença acrescida de bolores alergénicos na atmosfera ou de outros alergénicos na água e o stress são factores “agravantes” do eczema durante as inundações.

O eczema pode também piorar quando a pele contacta com cianobactérias e espécies de ostreopsis [espécies encontradas em ambientes marinhos e algumas delas tóxicas] e que proliferaram com as alterações climáticas nos oceanos. Por outro lado, a seca apresenta “efeitos indirectos” na dermatite atópica. “A insegurança alimentar, a pobreza e a subsequente migração podem afectar os cuidados de saúde regulares e desencadear stress físico e psicológico”, factores que podem “agravar a doença”, lê-se no estudo.

Sendo “a dermatite atópica a doença inflamatória da pele mais comum em pessoas de todas as idades” e tendo em conta os impactos das alterações climáticas no eczema, os doentes devem ser considerados fundamentais na luta contra os efeitos destes fenómenos, defende a investigação. Além disso, os cuidados de saúde devem adaptar-se para enfrentarem os “picos” de maior afluência, desencadeados pelos fenómenos climáticos extremos e para conseguirem responder às necessidades das “populações deslocadas e vulneráveis”.

Texto editado por Andrea Cunha Freitas