Aprendamos com Espanha: diz-se “violência machista”

Tanto nos debates televisivos como na comunicação social foi recorrente o uso da expressão “violência machista”. Este é um termo que em Portugal raramente ouvimos ou lemos.

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Megafone P3: Aprendamos com Espanha: diz-se “violência machista” Karolina Grabowska/Pexels
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Depois do intrincado resultado eleitoral no passado domingo, a composição do novo executivo espanhol e o respectivo apoio parlamentar estão longe de estar definidos. Apesar de o foco mediático estar no futuro, gostaria de olhar para o passado, sobretudo o período de campanha, e sublinhar o léxico utilizado em vários momentos eleitorais.

Tanto nos debates televisivos como na comunicação social foi recorrente o uso da expressão “violência machista”. Este é um termo que em Portugal raramente ouvimos ou lemos. Porém, em Espanha, é possível verificar que está normalizado o uso desta expressão quando o tema é violência doméstica.

“Peço o voto para que ganhem as mulheres e percam os machistas”, disse Pedro Sánchez, de frente para a câmara, no último debate. Momentos antes, assegurava, sem medos, que “o partido socialista se define como um partido feminista”.

É comum ouvirmos, no dia-a-dia, que o primeiro passo para resolver um problema é reconhecê-lo; ora a política não é alheia ao quotidiano – na verdade, a política rege essa mesma convivência e interacção diária entre pessoas, organizações, animais, natureza e Estado. O uso do termo “violência machista”, mesmo que certas esferas o neguem, é, por si só, importantíssimo, pois a presença no espaço público é fundamental para o respectivo conhecimento e entendimento.

A expressão foi recorrente devido à negação por parte da extrema-direita (VOX) da existência deste tipo de violência, ao passo que o bloco ‘progressista’, composto por PSOE (equivalente, no eixo esquerda/direita, ao Partido Socialista português) e Sumar (plataforma aglutinadora de partidos de esquerda), não só reconhece a violência machista como apresentou medidas para a erradicar.

“Violência machista” traz uma vantagem face a “violência doméstica”, pois abandona o aspecto espacial e aponta para o denominador comum: são mais os homens que matam e maltratam as mulheres pelo facto de serem mulheres. Em Julho do ano passado, Cláudia, Sara, Assunção, Sílvia, Celestina e uma outra mulher não identificada foram assassinadas pelos respectivos companheiros. Isto significa que um homem matou uma mulher a cada cinco dias naquele mês de 2022. Contando o ano todo, o número sobe para 22 mulheres mortas; em 2021 foram 16 e em 2020 26.

Negar a violência machista é negar a realidade; omitir o assunto é não ter ferramentas para o abordar. Já falar dele é meter o dedo na ferida e isso dói. Ainda assim, nunca doerá tanto com a própria violência machista.

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