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Não há canto de Portugal onde não se faça vinho
Da baía de São Lourenço a Câmara de Lobos, de Vilar de Perdizes a Odelouca, por cá, só não crescem videiras no topo da serra da Estrela. Pronto, lá e noutras terras altas de Portugal — ainda. A partir de 250 castas autóctones e num sem-número de terroirs, em 14 regiões vitivinícolas, nasce a identidade dos nossos vinhos. Se consegue contar pelos dedos de uma mão as regiões de vinho que conhece, estamos mal. Dê o salto e venha daí conhecer os vários berços dos vinhos portugueses, num trabalho que prometemos manter sempre actualizado
Explore as regiões vitivinícolas do país
e descubra as histórias de cada uma
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Alentejo
Maior e mais popular
No gigante Alentejo já se fazia vinho antes de os romanos ali terem passado.
A região que hoje conhecemos e o actual perfil dos vinhos alentejanos começou a ser desenhado com as adegas cooperativas
nos anos 1950 e o salto para a qualidade começou a ser construído uns 20 anos depois, a partir da visão desinquietante,
disruptiva e apaixonada de Francisco António Colaço do Rosário, o arquitecto do Pêra Manca, e dos que o rodearam
e lhe seguiram as pisadas. Na última década, à preocupação com a qualidade este território vitivinícola acrescentou uma visão de e com futuro,
com o pioneiro Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo.
Os vinhos brancos alentejanos com a designação de Denominação de Origem Controlada (DOC) são, na sua maioria, suaves,
com acidez ligeira e aromas onde se salientam os frutos tropicais, papaia e meloa muitas vezes.
Os tintos são, regra geral, encorpados, ricos em taninos e exalam aromas a frutos vermelhos, notas vegetais (engaço), bosque, cogumelos ou eucalipto.
Para além dos vinhos DOC, existe também uma grande produção com Indicação Geográfica
Alentejano (IG Alentejano), designação de vinhos da região feitos com uvas de vinhas
situadas fora das oito sub-regiões demarcadas, ou dentro
destas, mas utilizando uvas não constantes nas listas de castas recomendadas ou autorizadas
para vinhos DOC. Esta diferença nada tem que ver com a qualidade dos vinhos, já que quer
entre os DOC quer entre os Regionais existem néctares de altíssimo gabarito.
O Alentejo é a região que mais fez pela pedagogia dos consumidores, visto que, por um lado, soube explorar como ninguém o conceito de vinho monovarietal (apesar de não descurar a virtude e história do vinho de lote) e, por outro, soube sempre aproveitar a riqueza dos seus inúmeros terroirs. Hoje, qualquer consumidor esclarecido sabe que uma coisa é um vinho da Vidigueira e outra bem diferente é um vinho de Portalegre, de Borba ou, já agora, um vinho de talha.
De resto, e ao contrário do que muita gente do sector pensava, o vinho de talha – aquele que é devidamente certificado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana – adquiriu uma notoriedade impressionante nos últimos anos. Muitas adegas estavam abandonadas foram recuperadas por filhos e netos e, hoje, as festas dedicadas ao vinho de talha ocorrem um pouco por todo o Alentejo, com destaque, naturalmente, para os lados de Vidigueira, Cuba, Alvito e até Cabeção.
Do ponto de vista tecnológico, não há cá grandes alterações na produção deste tipo de vinho (eventualmente um maior rigor com a higiene nas adegas), mas como a qualidade das uvas de hoje não se compara com a de realidades passadas, os vinhos de talha até envelhecem muito bem. O problema é que a procura é tal que há adegas que em Fevereiro já não têm vinho da colheita mais recente para vender. É um bom problema.
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Da planície à serra
Dimensão
O Alentejo é a segunda maior região de Portugal, com uma área de mais de 27.000 km² e com uma área de vinha plantada de 23.277 hectares (232,8 km²). distribuídos pelos distritos de Portalegre, Évora e Beja. Em 2022, a região colheu cerca de 150 mil toneladas de uva, que deram origem a mais de 107 milhões de litros.
Solos
Embora haja bastante diversidade na constituição dos solos alentejanos, passando por argila, granito, calcário ou xisto, uma característica comum a toda a região é a sua pouca fertilidade, com uma camada arável muito fina.
Características edafoclimáticas
A planura característica da maior parte da região alentejana, com a consequente falta generalizada de relevo, não permite grande expressão atlântica no Alentejo, mas são, precisamente, os poucos acidentes orográficos existentes os responsáveis pelas diferenças entre as várias sub-regiões. Como exemplos temos a Serra de S. Mamede, onde as vinhas são geralmente plantadas nas encostas graníticas, permitindo à sub-região de Portalegre produzir vinhos bastante diferenciados dos das restantes regiões, mais frescos e muito elegantes. Também a barreira natural da Serra de Ossa, que influencia a sub-região do Redondo, ou ainda a Serra de Portel, que funciona como um abrigo à Vidigueira, garantem a estas sub-regiões a produção de vinhos com características próprias.
Brancos
As castas brancas mais plantadas são Antão Vaz, Arinto e Roupeiro (também conhecida como Síria, por exemplo na Beira Interior). Para além destas, também se avançou modernamente para as castas Alvarinho, Chardonnay, Encruzado, Fernão Pires (Maria Gomes na Bairrada), Riesling, Sauvignon Blanc, Semillon, Viognier e Viosinho.
Os vinhos brancos alentejanos são geralmente suaves, ligeiramente ácidos e apresentam aromas a frutos tropicais, nomeadamente papaia e meloa. A sub-região que tem maior área de castas brancas plantadas é a Vidigueira. No total de toda a região, há 4889 hectares plantados com castas brancas.
Tintos
Para além de Trincadeira, Aragonez, Castelão, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, têm tidos sucesso na região as castas Alfrocheiro, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Syrah. Os tintos são encorpados, ricos em taninos e com aromas a frutos vermelhos, aromas vegetais (engaço), a bosque, cogumelo ou eucalipto. Reguengos é a maior sub-região produtora de vinhos tintos. As castas tintas ocupam uma área de 18.388 hectares.
Outros vinhos
Na região são também produzidos outros tipos de vinho, nomeadamente rosés, espumantes, licorosos e colheitas tardias.
Certificação
A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana é a entidade responsável pela certificação quer dos vinhos DOC Alentejo quer daqueles que são IG Alentejano. Foi a CVR Alentejana que criou o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, que começou em 2013 e certificou a primeira empresa em Dezembro de 2020. O projecto pioneiro inspirou a certificação nacional Sustainable Winegrowing Portugal e é caso de estudo lá fora.
Produtores engarrafadores
Em 2022, a CVR Alentejana certificou 89 milhões de litros (21,2 milhões DO e 68,5 milhões IG) provenientes de 249 produtores. O número de viticultores (inclui os que produzem uva, mas não vinificam) ascende a 1876.
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Sugestão Terroir
Uma boa parte das adegas alentejanas situadas na sub-região da Vidigueira transformou-se em tabernas e algumas até em restaurantes de nomeada, mantendo a produção do vinho de talha. Os vinhos são feitos na adega onde também funciona o restaurante e vendidos ao balcão ou à mesa, acompanhando petiscos ou refeições mais elaboradas.
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Os oito Alentejos
Portalegre
Portalegre é a sub-região mais diferenciada das restantes, principalmente pela situação das vinhas dispostas maioritariamente nas encostas da Serra de S. Mamede, cujos picos chegam a transpor os mil metros de altitude. Os solos predominantemente graníticos surgem intercalados, nas zonas mais baixas, com pequenas manchas de xisto. O clima, moderado pela altitude, muito mais fresco e húmido do que o calor das planícies do Sul, proporciona vinhos frescos e elegantes, mas com muita garra. A propriedade é muito fragmentada e a idade de algumas vinhas ultrapassa os 70 anos.
Borba
Borba é a segunda maior sub-região do Alentejo. Solos muito especiais, com gigantescos depósitos de mármores (na zona de Estremoz) ou grandes manchas de xisto vermelho que se encontram nas terras mais pobres e austeras, aliados ao microclima especial de Borba (índices de pluviosidade levemente superiores à média, bem como níveis de insolação ligeiramente inferiores à média alentejana), proporcionam vinhos especialmente frescos e elegantes.
Redondo
Na sub-região do Redondo as vinhas beneficiam da protecção da Serra de Ossa, que se eleva a mais de 600 metros de altitude, dominando e delimitando a sub-região. Ao resguardar as vinhas a Norte e Nascente, proporciona Invernos frios e secos compensados por Verões quentes e ensolarados. Os solos, bastante heterogéneos, apresentam afloramentos de granito e xisto.
Reguengos
Reguengos é a maior e uma muito prestigiada sub-região. Está assente em terrenos xistosos, pobres e pedregosos. O clima é austero, com Invernos muito frios e Verões extremamente quentes, condicionando a viticultura e oferecendo vinhos encorpados e poderosos, com boa capacidade de envelhecimento. A propriedade encontra-se muito fragmentada, com áreas médias de vinha reduzidas para as referências do Alentejo.
Vidigueira
A falha da Vidigueira, um acidente natural que marca a divisão entre o Alto e o Baixo Alentejo (Serra do Mendro), com as encostas numa orientação Este-Oeste, condicionam o clima, fazendo que, mesmo com a sua localização tão a Sul, seja uma das sub-regiões com o clima mais temperado do Alentejo. Os solos, predominantemente de origem granítica e xistosa, são muito pobres. Os seus vinhos brancos têm fama.
Évora
Os vinhos da sub-região de Évora gozaram de grande prestígio durante a segunda metade do século XIX. No entanto, a filoxera e mais tarde as campanhas cerealíferas do Estado Novo levaram ao quase desaparecimento das vinhas. A partir do final de década de 1980, Évora renasceu. Toda a sub-região é dominada pelos solos pardos mediterrânicos, numa paisagem quente e seca que é berço de alguns dos vinhos mais prestigiados do Alentejo.
Granja-Amareleja
A sub-região, disposta em redor da vila de Mourão, fica encostada à fronteira espanhola. Tem um dos climas mais áridos e severos de Portugal. Os solos são paupérrimos, constituídos por argila e xisto, com produções e rendimentos baixíssimos, com muita falta de água. Nesta zona de extremos, os Verões muito quentes e secos implicam maturações precoces, dando azo a vinhos com pouca acidez, de grau alcoólico elevado. A casta Moreto adaptou-se muito bem à zona.
Moura
O clima tipo continental, com grandes amplitudes térmicas, tem Invernos frios e rigorosos e Verões muito quentes, secos e prolongados. Solos pobres, magros, com o barro e o calcário a alternarem na paisagem, providenciam um bom lar para a casta Castelão, que se mostra muito bem adaptada. Os vinhos de Moura apresentam um perfil quente e macio, com graduações alcoólicas altas.
Sabia que…
…apesar de actualmente se produzirem vinhos de talha noutras regiões de Portugal, foi no Alentejo – essencialmente na sub-região da Vidigueira – que essa tradição romana, com mais de dois mil anos, foi preservada?
Os genuínos vinhos de talha são, ainda hoje, feitos em grandes potes de barro revestidos com uma mistura chamada pez, que leva resina de pinheiro e mel. As uvas são colocadas inteiras com cardaço nessas talhas e depois pisadas com um maço. Em 2022, nasceu a Rota de Vinho de Talha, que envolve mais de uma vintena de concelhos alentejanos. E na região há vários eventos dedicados à talha por alturas do São Martinho. Já diz o provérbio popular: “No Dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho".
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Beira Interior
Ilustre desconhecida
A Beira Interior é uma região vitícola que confina a Norte com o Douro, a Sul com o Alentejo e a Poente com o Dão e que a Nascente vai até à fronteira com Espanha.
A região está rodeada de serras (as principais são Estrela, Gardunha, Malcata e Marofa)
e, como altitude significa, sobretudo, acidez e frescura, temos esses atributos a engrandecer os vinhos de uma região afastada do litoral.
Entre a sub-região de Castelo Rodrigo (mais fria) e a Cova de Beira (mais quente) as realidades vitícolas e edafoclimáticas alteram-se bastante, mas há algo em comum nesta grande região geográfica e que a torna única: castas raras em vinhas velhas e em solos quase sempre graníticos. Variáveis que contribuem para que os vinhos da Beira Interior – brancos ou tintos – evoluam muito bem em garrafa.
Beber por estes dias brancos de 2017, feitos à base de Síria, Fonte Cal, Malvasia e outras castas, pode ser um luxo. Como as regiões de Trás-os-Montes ou do Algarve, a Beira Interior vai ter de lutar contra os preconceitos de uma franja considerável de consumidores. Não é tarefa fácil. Mas que tem bons trunfos na manga, lá isso tem.
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Vinhos que vêm do frio
Dimensão
Este território vitivinícola tem uma área global de cerca de 10.600 km² com pouco mais de 13.100 hectares de vinha. Abrange um total de 20 municípios, dos quais 16 dentro dos limites das três sub-regiões demarcadas (Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira). Os restantes quatro ficam na ponta mais a Sul da região. Em 2022, dez desses concelhos já estavam na então recém-criada Rota dos Vinhos da Beira Interior.
Solos
Os solos são maioritariamente graníticos, com pequenas manchas de xisto que aumentam para Sul e, embora pouco comuns, algumas manchas arenosas provenientes da desagregação de granitos. Na sua esmagadora maioria são solos bastante pobres.
Características edafoclimáticas
As vinhas estão, na sua maioria, plantadas em zonas planálticas ou de encosta, entre os 350 e os 750 metros de altitude.
É esse factor altitude que marca profundamente a qualidade das uvas: num clima continental,
caracterizado por Invernos frios e rigorosos,
com frequentes quedas de neve, e Verões quentes e secos,
a altitude pode fazer toda a diferença
na fase mais crítica de amadurecimento das uvas
(meses de Julho e Agosto), amenizando os choques de calor. Além disso, a menor densidade
atmosférica favorece a amplitude térmica entre o dia e a noite,
e noites frescas no Verão é o melhor que pode acontecer à videira, permitindo maturações mais
lentas e deixando que as uvas conservem mais acidez e frescura.
Brancos
As castas brancas predominantes são a Síria, a mais plantada em toda a região, a Arinto, a Fonte Cal, a Malvasia Fina, a Rabo de Ovelha (que mais a Sul de Portugal chamamos de Rabigato) e a Fernão Pires (também conhecida como Maria Gomes na Bairrada).
Castas estrangeiras como Chardonnay, Riesling e Sauvignon Blanc começaram a aparecer na última dezena de anos.
Tintos
A casta Rufete, que foi bastante ignorada durante anos pela pouca cor que empresta aos
vinhos, está a ser reabilitada e muito acarinhada. Outras castas clássicas na região são o Bastardo, o Marufo, a Trincadeira e o Jaen.
Nas últimas duas décadas assistiu-se ao
plantio de Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Syrah, Merlot e Cabernet
Sauvignon.
Outros vinhos
Para além dos vinhos com Denominação de Origem (DO) e Indicação Geográfica (IG) brancos e tintos, alguns produtores lançaram já vinhos rosé, espumantes, licorosos e colheita tardia.
Certificação
A Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), criada em 1999, é responsável pela certificação, controlo e promoção dos produtos vínicos com DO Beira Interior e IG Terras da Beira. Em 2022, esta entidade certificou entre 5,5 e 6 milhões de garrafas. A produção de vinho com DO e IG foi de cerca de 5 milhões de garrafas, um número que tem “um potencial enorme”, acredita a CVRBI, já que a produção de vinho total da Beira Interior se cifra nos 20,5 milhões de litros por ano – o que não é DO ou IG é apenas vinho, certificado pelo Instituto da Vinha e do Vinho. A região já exporta cerca de 30% do que produz, para 40 países.
Produtores engarrafadores
A CVRBI conta com mais de 70 associados, entre adegas cooperativas (que são hoje quatro e cuja “acção social relevante” merece um capítulo inteiro no livro Beira Interior — Os Vinhos que Vêm do Frio, de Virgílio Loureiro e Constança Vieira de Andrade), produtores e engarrafadores, vitivinicultores-engarrafadores e engarrafadores fora da Beira Interior. A região contabiliza cerca de 5000 viticultores, que fornecem uva a esses agentes económicos.
Sabia que…
…como os solos da maior parte da região são muito pobres e as vinhas estão a grande altitude, não é necessário aplicar grande esforço, nem produtos químicos, na eliminação de ervas e outras infestantes?
Assim sendo, cada vez mais os produtores estão a apostar na produção de vinhos biológicos e, de acordo com o presidente da CVRBI, Rodolfo Baldaia de Queirós, a sua CVR é a entidade em Portugal que mais vinhos biológicos está a certificar. Já há 1000 hectares de vinha na região em modo de produção biológica.
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Sugestão Terroir
Toda a região da Beira Interior é muito rica em tradições culinárias, desde os petiscos com os barbos e carpas do rio Côa, na sub-região de Castelo Rodrigo, passando pelas várias maneiras de cozinhar a carne de javali, na sub-região de Pinhel. Mas merece particular destaque o Míscaros—Festival do Cogumelo, que tem lugar em Novembro na freguesia de Alcaide (Fundão), bem no centro da sub-região Cova da Beira. Para além de dois dias e duas noites de festa, em que todas as casas da aldeia viram restaurantes e todas as adegas, pátios e ruas se tornam palco para artistas que se misturam para colaborarem uns com os outros. O ponto alto é o passeio dos foliões pelas matas, acompanhados de um agrónomo micologista que vai ensinando quais são os melhores cogumelos e quais são imprestáveis ou venenosos. No final faz-se um almoço com o produto da colheita, obviamente acompanhado pelos vinhos da Beira Interior.
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Há granitos e granitos
Castelo Rodrigo
É uma região planáltica, de elevada altitude, entre os 600 e 750 metros. Tem um clima seco, com precipitação anual relativamente baixa e grandes amplitudes térmicas anuais, sendo frequente a queda de neve nas vinhas durante o Inverno. Os solos são maioritariamente de origem granítica, havendo cerca de 30% de solos de origem xistosa.
Pinhel
É uma zona de vinhas situadas numa altitude média de 650 metros. O seu clima é extremamente frio no Inverno e quente e seco no Verão. Os solos são de origem granítica, mas encontram-se zonas de solos arenosos originados pela desagregação de rochas graníticas. Todos estes solos são de baixa fertilidade. A sub-região de Pinhel é ideal para brancos com boa acidez. Os vinhos tintos precisam de algum tempo para amaciar. É em Pinhel que fica a adega cooperativa homónima, a maior de quatro cooperativas ainda em actividade na Beira Interior.
Cova da Beira
Nesta sub-região observam-se solos próprios de proximidade de serras graníticas, como a Estrela e a Gardunha. No entanto, nas zonas mais planas verifica-se o aparecimento de xisto e solos grauvaques, uma mistura granítico-xistosa de rochas com características ácidas. Pode ainda ocorrer a formação de alguns arenitos derivados de granito.
Sabia que…
A Beira Interior está cheia de lagaretas escavadas na rocha, que testemunham a produção de vinho desde a época romana e continuada durante a Alta Idade Média?
Só à volta de Monsanto foram descobertas 51 lagaretas rupestres.
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Tejo
Frescura e versatilidade
A região vitivinícola do Tejo fica no centro de Portugal – vai de Tomar,
a Norte, até à lezíria–, e é atravessada pelo rio que lhe dá o nome, mas divide-se em
três terroirs distintos: o Bairro, o Campo e a Charneca.
O Tejo produz mais vinho branco do que tinto, em contracorrente com o que se passa noutras
regiões, e isso deve-se à importância da casta Fernão Pires, a principal variedade ali plantada.
Ao todo, são 12.500 hectares de vinhedos, onde há lugar para várias outras variedades, que dão
vinhos frescos, cada vez mais elegantes e muito gastronómicos.
A região tem condições para produzir vinhos com uma boa relação qualidade/preço, embora
actualmente o foco esteja nos vinhos de qualidade e com sentido de lugar. Hoje, os seus topos de
gama ombreiam com os melhores brancos e tintos de outras regiões.
A região está colectivamente empenhada em mostrar que a casta Fernão Pires tem uma plasticidade impressionante. Tanto dá origem a vinhos de consumo imediato como vinhos de guarda. Tanto dá para fazer espumantes como colheitas tardias, vinhos de maceração prolongada, licorosos ou aguardentes de perfil variado. E, ainda por cima, é uma casta generosa com o produtor.
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As aluviões e as duas margens do rio
Dimensão
Este território vitivinícola tem uma área global de cerca de 7000 km², dos quais 12.500 hectares hectares são vinhas. Abrange 21 municípios, um no distrito de Lisboa e os restantes em Santarém. Administrativamente, a região abarca seis sub-regiões: Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Santarém e Tomar. Na prática, e como o rio Tejo marca a região, faz mais sentido dividi-la em três zonas distintas que vão dos terrenos de aluvião da zona do Campo aos argilocalcários do Bairro, passando pelos arenosos da Charneca.
Solos
Terrenos argilo-calcários e algum xisto no Bairro, aluvião na zona do Campo e solos arenosos na Charneca.
Características edafoclimáticas
O rio é responsável pela grande amplitude térmica que caracteriza a região. Os dias são bastante quentes, mas as noites são frescas e húmidas. E essa combinação ajuda reduzir o stress hídrico das videiras e contribui para uma correcta maturação das uvas. Um famoso crítico inglês resumiu numa só frase o impacto destas características edafoclimáticas nos vinhos do Tejo: “Hot days, cold nights, cool wines.”
Brancos
Fernão Pires (Maria Gomes) é a casta mais expressiva nas brancas, mas também na região, representando 35% do encepamento no Tejo. Seguem-se as uvas brancas Alicante Branco, Arinto e Chardonnay, entre outras. O perfil dos brancos do Tejo é o de vinhos muito aromáticos, com fruta tropical e citrina, frescos e elegantes. É frequente vermos lotes de Arinto e Chardonnay, uma combinação que tem dado provas de resultar bem.
Tintos
Castelão (João de Santarém) é a segunda casta na região, a seguir à branca Fernão Pires, com 14% do encepamento. Nas tintas, seguem-se Trincadeira, Aragonez (Tinta Roriz), Syrah, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Merlot. Os vinhos tintos são equilibrados e frescos, sempre com um nariz frutado. Nos tintos de guarda, nota-se alguma presença de madeira.
Outros vinhos
A região produz também vinhos rosés, espumantes, frisantes, vinhos licorosos e colheitas tardias.
Certificação
A Comissão Vitivinícola Regional do Tejo atribui a Denominação de Origem Do Tejo e a Indicação Geográfica Tejo.
Produtores engarrafadores
A região regista 80 produtores engarrafadores.
Sabia que…
…uma vez por mês enólogos e produtores do Tejo se juntam à mesa para dizerem o que pensam sobre os destinos da sua região?
O evento chama-se Lei da Quinta, nasceu por iniciativa de Joana Pratas (responsável de comunicação da CVR Tejo e também produtora) e, uma vez por mês, a uma quinta-feira, junta enólogos e comerciais de empresas do sector num restaurante da região do Tejo para uma discussão muito livre do mundo do vinho, sempre com um convidado de fora. Cada um leva vinhos que ora já estão no mercado, ora estão em processo de afinação. Trata-se de um encontro informal, livre, sem segredos e com o objectivo de promover a troca experiências entre os participantes. E inspirou-se na Lei da Terça, evento em tudo semelhante mas que acontece no Douro.
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Sugestão Terroir
Se Tejo dá nome à região, o Tejo é uma fonte de inspiração para alguma restauração da região. Um caso que leva a criatividade e o arrojo ao limite é o restaurante Ó Balcão, onde o chef Rodrigo Castelo criou um menu com 18 espécies de peixe e bivalves do rio, harmonizado com vinhos da região.
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Três terroirs distintos
Bairro
Situado entre o vale do Tejo e os contrafortes dos maciços de Porto de Mós, Candeeiros e Montejunto, o Bairro é essencialmente uma zona de solos argilo-calcários, terroir ideal para as castas tintas, mas tem também alguns solos xistosos.
Campo
Esta é a zona das extensas planícies que ladeiam o Tejo. Quando o caudal do rio aumenta, a água inunda as terras, sendo responsável pelo elevado índice de fertilidade destes solos. A região do Tejo tem vinhas de elevada produtividade e, quando a isso se acrescenta a fertilidade natural da região no Campo, isso obriga a uma viticultura de precisão. Foi aqui que nasceu, em 2023, uma nova categoria a partir de Fernão Pires – dos 12.500 hectares de vinhas da região do Tejo, 4500 estão plantados com esta variedade, que é a casta branca mais abundante em Portugal e também está bem presente nas regiões de Lisboa, da Península de Setúbal e da Bairrada (aqui com o nome de Maria Gomes). Vinhos mais leves, com pouco álcool e sem madeira, sob a marca Campo do Tejo, que nasce para valorizar as uvas da região na própria região mas também como forma de o Tejo poder competir em mercados externos que começam interessar-se pelo vinho mas não têm por hábito pagar muito por uma garrafa.
Charneca
Localizada a Sul do Campo, na margem esquerda do Tejo, a Charneca é uma zona arenosa e tem o clima mais seco e quente do Tejo. Além de servirem servem para produzir tanto tintos como brancos, os seus solos medianamente férteis são um excelente exemplo da qualidade e versatilidade da região.
Sabia que…
...na Charneca há duas vinhas cujas raízes das videiras vivem literalmente entre calhaus de pedra rolada?
São a Vinha do Convento, da Falua (dá origem ao Conde Vimioso Vinha do Convento), e a Vinha do Planalto, da Quinta da Alorna, que dá origem ao Reserva das Pedras. Imagine o leitor uma faixa de pedras roladas à beira mar. E imagine agora que alguém se lembra de plantar videiras entre pedras roladas do tamanho de uma bola de basebol. Pois, é disso que se trata. Há 400 mil anos, era ali leito do rio Tejo, que agora corre a 4 quilómetros de distância. Diz quem conhece que só existirá coisa parecida em Châteauneuf-du-Pape, no vale do Rhône, França. Porquê tanto trabalho para plantar vinha assim e partir máquinas em terrenos destes? Porque daqui saem vinhos diferentes. Mais frescos e, naturalmente, mais minerais.
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Távora-Varosa
Para lá do espumante
É uma das regiões vitivinícolas mais pequenas do país e tem, apesar disso,
uma dinâmica invejável. São menos de 20 os produtores certificados na região, a maioria a fazer espumante,
alguns já a fazer brancos diferenciados, frescos, característicos de um terroir de
altitude, dois deles gigantes, que dominam a produção de Távora-Varosa.
Como região demarcada, existe desde 1989 – na altura, foi instituída como Encostas da Nave e
Varosa – e pode dividir-se em duas grandes zonas, Távora e Varosa, territórios que se espraiam
nas margens dos rios homónimos e que são diferentes no clima, no solo e até nas pessoas, e uma
zona intermédia, onde se sente mais a influência do Douro.
Agora que a generalidade dos produtores percebe a necessidade de promover estágios prolongados dos espumantes sobre borras (condição primordial para introduzir complexidade e diferenciação nos vinhos), Távora-Varosa ganhará imenso com isso por causa da acidez natural e do equilíbrio dos seus vinhos bases. Com o tempo, os consumidores vão perceber que os espumantes de Távora-Varosa, feitos por uma casa tradicional ou por um pequeno e novo produtor, têm uma identidade vincada.
A região tem também uma dimensão cultural e patrimonial muito interessante para oferecer, ou não tivesse sido escolhida pelos monges de Cister para ali construírem alguns dos mais belos exemplares arquitectónicos cistercienses (e, claro, produzirem vinho, inclusive espumante). Um desses monumentos é o Mosteiro de S. João de Tarouca, construído no século XII.
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Um diamante em bruto
Dimensão
Os dois rios, Távora e Varosa, dão o nome à região que reúne os concelhos de Moimenta da Beira, Sernancelhe, Tarouca e ainda algumas freguesias dos concelhos de Penedono, São João da Pesqueira, Tabuaço, Armamar e Lamego. Tem 2200 hectares de vinha e uma produção anual de 75.000 hectolitros de vinho.
Solos
Aparentemente pobres, mas que, vai a ver-se, são ricos. Com características
edafoclimáticas únicas, as vinhas de Távora-Varosa lançaram raízes em solos graníticos,
litólicos e de transição e, para lá dos muros de granito que marcam a paisagem, convivem
com muito olival, pomares de maçã, cereja, pêra-rocha e castanheiros -
estamos na terra da Denominação de Origem Soutos da Lapa. As vinhas estão plantadas entre os 550 e os quase 900 metros de altitude, com os vinhedos mais
altos concentrados na zona do Távora, nos concelhos de Moimenta da Beira e Sernancelhe.
Características edafoclimáticas
A região caracteriza-se por ter grandes amplitudes climáticas, os dias são quentes e as noites
frias. A altitude – há vinhas quase até aos 900 metros – contribui para a produção de vinhos
geralmente frescos e com teores de acidez ideais para a produção de excelentes brancos e
espumantes. Também é factor de preocupação, por causa das geadas que na altura do abrolhamento
podem comprometer uma colheita inteira, bem como pela ocorrência de granizo, cada vez mais
frequente.
Brancos
Malvasia Fina e Cerceal são castas características de Távora-Varosa, que predominam nos
vinhos brancos da região. Estão em quase todas as vinhas. Há também quem tenha Gouveio,
Verdelho, Fernão Pires, Arinto, Pinot Blanc. A estrangeira Chardonnay é muito utilizada
nos espumantes. De lá de fora, chegaram também o Sauvignon Blanc e o Riesling, com bons
resultados em vinhos brancos de guarda promissora.
Tintos
Quando foi demarcada, a região tinha muito Bastardo, hoje não ouvimos falar desta uva
tinta. Nas variedades tintas, há Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta
Barroca e a estrangeira Pinot Noir, muito utilizada nos espumantes.
Certificação
A Comissão Vitivinícola Regional de Távora-Varosa atribui, a espumantes e vinhos tranquilos, a Denominação de Origem Távora-Varosa e a Indicação Geográfica Terras de Cister. Távora-Varosa foi a primeira região a ser demarcada para espumantes em Portugal, em 1989, mas a produção deste tipo de vinho remonta a um passado mais longínquo, concretamente ao ano de 1678, pelos monges de Cister. Em 2022, foram certificados 23.940 hectolitros de vinho e espumante, dos quais 20.960 hectolitros de espumante com DO Távora-Varosa, um crescimento de 38% face a 2021. No mesmo ano, a produção total na região foi de 47.869 hectolitros.
Produtores engarrafadores
Em 2022, eram apenas 16 os agentes económicos, seis desses a produzir espumante. Dois operadores representam 95% da produção de toda a região, mas todos os anos surgem novos produtores. E há cada vez mais uma ligação entre produção de vinho e enoturismo, com vários players a ter uma oferta integrada.
Sabia que…
…o More Colab, do Instituto Politécnico de Bragança, está a estudar 13 castas minoritárias, incluindo em Távora-Varosa a branca Jampal e a tinta Pinot Meunier?
Castas minoritárias são variedades sem campo de multiplicação, em Portugal essas castas são cerca de 70. O estudo daquele politécnico decorrerá em cinco campos experimentais principais e em parcelas de dez pequenos e médios produtores, em quatro regiões.”
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Sugestão Terroir
Vale a pena visitar Ucanha e a sua ponte fortificada e comer milhos na Tasquinha do Matias, com vista para o rio Varosa e para o monumento medieval classificado. Assim como conhecer o mosteiro de São João de Tarouca, património único ligado à Ordem de Cister.
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Távora, Varosa e uma zona intermédia
Varosa
A zona mais urbana de Távora-Varosa é esta, em torno do rio Varosa. E em Ucanha, Tarouca, fica o seu centro e o porta-estandarte da região: a Murganheira. A empresa tem vinhas, próprias e de viticultores parceiros (é o ganha-pão de muitos lavradores do vale do Varosa, que depois da falência da cooperativa local se viraram para as caves), entre 500 e 700 metros de altitude. Foi e continua a ser “escola” e parceiro comercial da maioria dos produtores de Távora-Varosa.
Entre os dois rios
Nesta zona de entremeio, encontramos os solos graníticos que caracterizam a região, mas também há solos arenosos e algum xisto argiloso. As vinhas existentes andam entre os 550 e os 700 metros de altitude. Em Tabuaço, vale passar na ponte romana de Granja do Tedo e tomar um café junto ao rio que dá nome à pitoresca aldeia, cujas casas encavalitadas chamam a atenção.
Távora
Metade da área de vinha da região fica no lado voltado à Beira Interior, onde produz espumantes o outro gigante de Távora-Varosa, a Cooperativa Agrícola do Távora. Deste lado, as vinhas andam entre os 550 e os quase 900 metros de altitude e vão até à vizinhança da albufeira da barragem de Vilar, no rio Távora. Este é também território que viu nascer o escritor Aquilino Ribeiro, para sempre ligado ao concelho de Sernancelhe.
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Sugestão Terroir
Entre Vila da Ponte e Ferreirim (concelho de Sernancelhe), há 1,5 quilómetros de passadiços em madeira e uma praia fluvial no açude do Távora com duas piscinas flutuantes – uma reservada a crianças, a outra para adultos – que são, por si só, um belo motivo para visitar este território pouco explorado. O conjunto foi inaugurado em 2022.
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Algarve
A terra da versátil Negra Mole
O Algarve é a mais “jovem” das regiões vitivinícolas portuguesas, no sentido em que só
recentemente começou a chamar a atenção do mercado com vinhos de terroir, bem feitos e
diferenciadores, a atrair novos agentes económicos – entre eles, grandes empresas, já presentes
em mais do que um território, e alguns filhos da terra que regressam por acreditarem que o
Algarve também dá boas uvas – e a ligar a produção de vinhos à sua principal actividade
económica, o turismo – a rota Algarve Wine Tourism foi lançada em 2023.
Região demarcada desde 1980, produz sobretudo vinhos com Indicação Geográfica (ou vinhos
regionais), que, regra geral, são macios, pouco acídulos e ligeiramente alcoólicos. Nos últimos
anos, contudo, o Algarve – que tem quatro zonas com Denominações de Origem atribuídas – tem
apostado na casta tinta Negra Mole, uma variedade com história e capacidade para produzir vinhos abertos, elegantes, com personalidade e muito diferentes do
que encontramos na generalidade das regiões. Em vários estilos.
Trata-se de uma casta autóctone e mal-amada que, no século passado, chegou a representar 75% dos vinhedos algarvios. Hoje ainda resistem algumas vinhas históricas em pé-franco, a maior parte em solos de areia.
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As vinhas do Sul, da ponta de Sagres ao Guadiana
Dimensão
Como área autorizada para a produção de vinhos certificados, existem 1400 hectares, sendo que só 700 hectares estão em produção actualmente. Uma proporção que lentamente se irá alterar, se o Algarve continuar a suscitar o interesse dos novos investidores, como tem vindo a acontecer. A região pode ser dividida em quatro zonas principais, que correspondem aos terroirs onde se produz vinho com Denominação de Origem (DO): Lagoa, Lagos, Portimão e Tavira. Dos 700 hectares em produção, 500 têm autorização para Indicação Geográfica e 200 para Denominação de Origem, não existindo dados de distribuição destas vinhas por cada uma das quatro DO. A maior parte das vinhas (70% da produção) está em zonas mais planas e a sul da Estrada Nacional 125 estarão apenas 20% a 25% dos vinhedos algarvios.
Solos
Os solos algarvios apresentam uma grande diversidade. No Sotavento (a parte mais oriental do Algarve) e no litoral predominam os solos franco-arenosos e argiloarenosos. Caminhando para o interior e para ocidente, já encontramos solos argilo-calcários ou xistosos. Nas serras, os solos são pobres e de acesso difícil, mas aptos para a plantação de vinha. O Barrocal – entre a serra e o mar – é uma zona calcária e argilo-calcária, com montes e colinas de pouca elevação e solos agrícolas, onde, para além da vinha, se dão bem os citrinos e vários hortícolas. No litoral, os terrenos são mais planos, com suave inclinação para o mar e solos arenosos ou franco-arenosos – há 2000 anos, o mar estaria 700 metros mais distante.
Características edafoclimáticas
O Algarve vitivinícola tem características conferidas pela proximidade do Atlântico, pelo clima e
pela vegetação natural. É uma região de clima marítimo ameno e, simultaneamente, quente e seco,
pela existência de serras a Norte. Algarve e Alentejo são as regiões com o maior número de horas
de sol em Portugal, na primeira a precipitação média anual é metade da que é registada na
segunda – a chuva no Algarve também tende a concentrar-se entre os meses de Outubro e
Abril.
Geograficamente, o Algarve divide-se em Barlavento e Sotavento, a meio a fronteira traça-se na
cidade de Albufeira. O primeiro, a ocidente, está mais exposto aos ventos atlânticos, o segundo,
a oriente, mais protegido destes. No Barlavento, são famosas as falésias escarpadas com 50
metros de altura, rochas calcárias e arenosas. O Sotavento é mais arenoso. Em termos geológicos,
o Algarve divide-se em três regiões naturais: a Serra – três maciços montanhosos: as serras do
Caldeirão, de Monchique (a mais alta, com o pico a 902 metros de altitude) e do Espinhaço do Cão
–, a zona intermédia do Barrocal e o Litoral, com arribas até Quarteira e com baixios arenosos,
lagoas e canais, incluindo os do Parque Natural da Ria Formosa.
Brancos
As castas brancas mais plantadas são as variedades tradicionais Arinto e Síria (o Roupeiro do Alentejo). Novos projectos, com plantação de vinha ao alto, têm apostado no Verdelho e na mais internacional das castas brancas, o Chardonnay.
Tintos
Para além da Negra Mole – que dá cachos com uvas tintas, rosadas em diferentes tons ou brancas – e do Castelão, nos últimos tempos têm tido sucesso na região a Touriga Nacional e a variedade internacional Syrah – esta, em particular, adaptou-se bem ao clima do Algarve. As plantações mais recentes, todas de vinha ao alto, apostam também na variedade Aragonez.
Outros vinhos
A região produz também um vinho licoroso, de grande tradição, com a indicação geográfica Algarve.
Certificação
A Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA) atribui as Denominações de Origem Lagoa, Lagos, Portimão e Tavira e a Indicação Geográfica Algarve. Entre 2019 e o início de 2023, a certificação de vinhos do Algarve cresceu 37%, um indicador muito positivo, embora se trate de 1,7 milhões de garrafas com DO e IG (número de rótulos levantados na CVA para referências colocadas no mercado em 2022). Em 2022, a região comercializou 1,2 milhões de litros de vinho e exportou cerca de 23% desse volume.
Produtores engarrafadores
A Comissão Vitivinícola do Algarve regista 51 agentes económicos em toda a região, incluindo a ÚNICA – Adega Cooperativa do Algarve, literalmente a única em toda a região. Viticultores registados são 45.
Sabia que…?
A casta Negra Mole será a segunda mais antiga do país, a seguir à Cercial, e também aquela que apresenta a maior riqueza varietal, algo que se deve ao facto de o vinho fazer parte da cultura algarvia há mais de 2000 anos, uma cultura marcada pela longa ocupação árabe.
Quatro zonas de produção
Lagos
A área geográfica correspondente à Denominação de Origem Lagos abrange os concelhos de Aljezur – parte das freguesias de Aljezur, Bordeira e Odeceixe –, Vila do Bispo – as freguesias de Raposeira, Sagres e Vila do Bispo e parte das freguesias de Barão de São Miguel e Budens – e Lagos – freguesias de Luz, Santa Maria e São Sebastião e parte das freguesias de Barão de São João, Bensafrim e Odiáxere. Os vinhos tintos são aveludados, pouco encorpados, com aroma frutado, pouco acídulos, quentes e, enquanto jovens, abertos de cor. Os brancos, entre uma cor citrina e a da palha, são delicados e suaves, mas com um travo característico de zona quente. Para além das castas mais expressivas na região, podem ser usadas nesta DO as variedades tintas Trincadeira (que, com a Negra Mole e o Castelão, deve representar pelo menos 70% do encepamento), Alicante Bouschet, Bastardo, Cabernet Sauvignon, Monvedro e Touriga Nacional e as brancas Malvasia Fina (com a Síria e o Arinto, deve representar 70% da vinha de brancos), Manteúdo, Moscatel Graúdo e Perrum.
Portimão
É no concelho de Portimão, concretamente na freguesia de Alvor e em parte das freguesias de Mexilhoeira Grande e Portimão, que se produzem os vinhos com DO Portimão. Tintos abertos de cor ao princípio, aveludados, pouco encorpados, com aroma frutado, pouco acídulos e quentes. E brancos entre o citrino e a palha, delicados, mas com características de uma zona quente. Nos tintos, a recomendação é para plantar Negra Mole, Trincadeira e Castelão, no conjunto ou separadamente, com um mínimo de 70% de encepamento – também é possível plantar Alicante Bouschet, Aragonez, Cabernet Sauvignon, Monvedro, Syrah e Touriga Nacional. Nas brancas, Síria e Arinto, com um mínimo de 70% de encepamento, Manteúdo, Moscatel Graúdo, Perrum e Rabo de Ovelha.
Lagoa
Os vinhos com DO Lagoa são produzidos nos concelhos de Albufeira, Lagoa e Loulé (freguesias de Almancil, Boliqueime, Quarteira, São Clemente e São Sebastião e parte das freguesias de Alte, Querença e Salir) e Silves (freguesias de Alcantarilha, Armação de Pêra e parte das freguesias de São Bartolomeu de Messines e Silves). Esta zona vitivinícola dá vinhos tintos simultaneamente fáceis de beber e longevos (evoluem bem em garrafa), aveludados, frutados e quentes. Os brancos são robustos e suaves, com algum corpo e grande capacidade de evolução. As castas tintas recomendadas nesta zona vitivinícola são, em primeiro lugar, a Negra Mole – que já é predominante em Lagoa/Silves – e Trincadeira, mas também se pode plantar Alicante Bouschet, Aragonez, Cabernet Sauvignon, Castelão, Monvedro, Moreto, Syrah, Touriga Franca e Touriga Nacional. Nas brancas, a Síria e o Arinto representam pelo menos 70% de encepamento, mas também há Manteúdo, Moscatel Graúdo, Perrum, Rabo de Ovelha, Sauvignon Blanc.
Tavira
A área geográfica correspondente à DO Tavira abrange os concelhos de Faro, Olhão, São Brás de Alportel (parte da freguesia do mesmo nome), Castro Marim (parte da freguesia do mesmo nome), Tavira (freguesias de Luz e Santiago e parte das freguesias de Conceição, Santa Catarina, Santa Marta e Santo Estêvão) e Vila Real de Santo António (freguesia de Vila Nova da Cacela). As principais variedades tintas recomendadas são, também aqui, Negra Mole, Castelão e Trincadeira, podendo-se plantar também Alicante Bouschet, Aragonez, Cabernet Sauvignon, Syrah e Touriga Nacional. Nas brancas, idem para Síria e Arinto. As outras possibilidades são Diagalves, Manteúdo, Moscatel Graúdo e Tamarez.
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Sugestão Terroir
No livro A Vinha e o Vinho no Algarve – O renascer de uma velha tradição, João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira resgatam a história esquecida da produção vitivinícola da região na contemporaneidade, desde o início da produção de vinho, em meados do início do século XX, até aos dias de hoje.
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Açores
Salinidade e carácter vulcânico
A cultura da vinha no arquipélago dos Açores remonta aos primórdios da sua colonização. Foi
introduzida por religiosos, como há vários séculos sucedeu com as mais emblemáticas regiões
vitivinícolas da Europa, e assumiu durante anos e anos um papel de relevo na economia agrária da
região.
Esse passado está muito ligado à casta Verdelho e, já depois de a filoxera ter dizimado quase
tudo o que era vinha, ao chamado “vinho de cheiro” – de fraca qualidade, mas fácil de produzir
–, que tinha origem em videiras americanas, resistentes ao insecto, nomeadamente no híbrido
Isabella.
Nos últimos trinta anos, os Açores souberam virar a página e as acções de reconversão da vinha
entretanto realizadas permitiram recuperar o Verdelho tradicional, bem como introduzir novas
variedades de origem europeia – da espécie Vitis vinifera – e novos sistemas de condução da
vinha.
O merecido sucesso da região vitivinícola dos Açores, onde se produzem vinhos brancos únicos,
explica-se por três factores: pelo seu terroir vulcânico, pela influência marítima e pelo
interesse enológico do trio de castas Arinto dos Açores, Terrantez do Pico – estas duas, sabe-se
hoje, com origem no arquipélago – e Verdelho – também se levanta a hipótese de ser açoriana.
Se a recente fama dos vinhos açorianos chegou com os vinhos brancos tranquilos do Pico (coisa que não põe de parte o trabalho que já existia na Graciosa e na Terceira), convém ter presente os licorosos com direito a Denominação de Origem e feitos a partir da casta Verdelho. De resto, ainda hoje, e com alguma sorte no relacionamento com os picarotos, podemos encontrar nesta ou naquela adega um ou outro garrafão de licoroso com alguma idade e meio perdido.
E neste universo convém destacar a marca Czar, de Fortunato Garcia, por ser algo único no mundo: vinho licoroso sem qualquer adição de álcool. O Czar é um vinho licoroso que resulta da fermentação natural de uvas da casta Verdelho. Esta fermentação decorre livremente e termina quando as leveduras indígenas deixam de consumir os açúcares (não se interrompe a fermentação com aguardente ou álcool como nos casos do vinho do Porto, Madeira, Moscatel ou Carcavelos), coisa que desafia as leis da enologia. E é por isso que os Czar umas vezes são mais doces e outras mais secos. Mas sempre deslumbrantes.
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Atenção a estas três ilhas
Dimensão
O arquipélago dos Açores é constituído por nove ilhas de origem vulcânica e está situado em pleno Atlântico Norte, a cerca de 1500 quilómetros da costa ocidental do continente europeu e a, aproximadamente, 3900 quilómetros das costas da América do Norte. Actualmente, existem cerca de 1209 hectares de vinha com autorização para produção de vinho com Denominação de Origem (DO) e Indicação Geográfica (IG) em todo o arquipélago. Para a produção de vinhos DO, são três as zonas demarcadas: Pico, com 873 hectares e a crescer – mas longe dos 15 mil hectares de outros tempos –, Biscoitos (ilha Terceira), com 26 hectares, e Graciosa, com 19 hectares. A produção de vinhos com IG Açores abrange toda a região autónoma, as vinhas homologadas para o efeito totalizam os restantes 291 hectares de vinha.
Solos
Nos Açores, as vinhas são mágicas e a vida brota em extensos mantos de magma consolidado. No Pico, picou-se a lava ardida para abrir fendas na rocha e aí fazer crescer videiras. São vinhos – e vinhas – impossíveis. A paisagem protegida dos lajidos – da Criação Velha e de Santa Luzia – e os currais, muros feitos com pedra basáltica para proteger as videiras do vento e do rocio e também para arrumar a pedra solta, são o postal vinhateiro mais emblemático da região. Nas outras duas zonas vitivinícolas, nas ilhas Terceira e Graciosa, o solo é igualmente vulcânico, mas (um pouco) mais fácil de trabalhar.
Características edafoclimáticas
O arquipélago dos Açores regista temperaturas amenas, com pequena amplitude térmica, pluviosidade
elevada e acentuada humidade relativa do ar.
A temperatura média anual ronda os 17,4 graus centígrados. A
proximidade do mar – e o facto de existirem vinhas a escassos metros de distância da água –
influencia e muito os vinhos açorianos. O sal do Atlântico não é apenas levado pela maresia e
pelo rocio até pousar na folhagem das videiras, também aporta características à planta pela via
radicular.
A brisa do mar dá aos vinhos açorianos uma salinidade incrível, mas tem um lado negro, para o
qual as gentes locais souberam encontrar uma solução engenhosa.
Os icónicos e rendilhados currais do Pico, feitos com os pedregulhos que outrora atrapalhavam a
prática agrícola, servem para abrigar a vinha dos efeitos perniciosos dos ventos marítimos.
Ainda assim, de quando em vez, as vinhas são fustigadas sem piedade pelo Atlântico, deitando por
terra a produção do ano, como aconteceu em 2019 com a passagem do furacão Lorenzo nos Açores.
No Pico, houve vinhas literalmente engolidas pela agitação marítima e o sal arruinou a produção
das primeiras linhas de videiras junto ao mar.
Brancos
Arinto dos Açores, Terrantez do Pico e Verdelho são as três castas emblemáticas da região e que dão origem a brancos muito minerais e salinos. Os da ilha do Pico, em particular, têm ainda um carácter vulcânico muito singular. Arinto e Terrantez não têm correspondência noutras regiões vitivinícolas nacionais e são variedades exclusivas do arquipélago açoriano. O Verdelho é o mesmo que encontramos Madeira. Mas atenção à caricata sinonímia do Arinto dos Açores dentro da própria região: à mesma casta, os terceirenses chamam Terrantez. Pelo menos 85% do volume total do mosto vem, a cada vindima, das castas Arinto dos Açores, Terrantez do Pico e Verdelho. O remanescente pode provir de Galego Dourado e Malvasia Fina, outras duas variedades presentes nos Açores.
Tintos
Açores é, para muitos, esse vinho branco salino, incrivelmente fresco, com acidez quanto baste – só as três “rainhas” brancas estão autorizadas nas Denominações de Origem da região. Mas no arquipélago também há histórico de uvas tintas com interesse enológico, sobretudo aos olhos da enologia de hoje. E há quem esteja a explorar já uvas como Saborinho (outro nome para a Tinta Negra da Madeira e para o Molar de Colares), Bastardo, Rufete, Castelão e até uma variedade que quase ficou extinta, Malvarisco – todas autorizadas para Indicação Geográfica. No Pico, a Azores Wine Company pegou numa só planta de Malvarisco, com 80 a 90 anos, descoberta em vinhas velhas da Criação Velha, e fez nascer uma área de quase 4 hectares (cerca de 8 mil plantas), a maioria em S. Mateus. Outras tintas com histórico no arquipélago, sem nunca chegar ao calcanhar das brancas, são as internacionais Merlot e Syrah (também permitidas em vinhos IG).
Outros vinhos
Para além dos brancos tranquilos, minerais e salinos, muito frescos, produz-se nos Açores um branco licoroso que os produtores só podem engarrafar após 36 meses de estágio mínimo em cascos de madeira. Nos últimos anos, começou a produzir-se também espumante na região e há, pelo menos, três produtores a trabalhar nisso. O primeiro espumante com Denominação de Origem (Açores) foi lançado em 2023, no mesmo ano em que um produtor do Pico se prepara para lançar o primeiro Verdelho fortificado – um 10 anos, aguardentado quase no final da fermentação – dos tempos modernos.
Certificação
A Comissão Vitivinícola Regional dos Açores atribui as Denominações de Origem Biscoitos, Graciosa e Pico e a Indicação Geográfica Açores. Em 2022, certificou 330.272 litros de vinho, sendo que desses 153.221 litros foram certificados como DO e 177.051 litros como IG Açores. O volume de vinho certificado com DO Pico correspondia a 98% do volume de vinho certificado com DO e a 45% do total de volume de vinho certificado no ano passado na região. A região ainda exporta pouco (61.903 litros em 2022), mas essa fatia tem vindo sempre a crescer. O vinho dos Açores segue para 49 países, nomeadamente para EUA, Alemanha, Noruega, Suíça, Bélgica, Espanha, Reino Unido, Canadá, Dinamarca e França.
Produtores engarrafadores
Há 36 produtores produtores de vinho certificados na região, a esmagadora maioria a fazer vinho na ilha do Pico. Desses 36 agentes económicos, quatro são cooperativas: a Adega Cooperativa dos Biscoitos, a Adega e Cooperativa Agrícola da Ilha Graciosa, a Agromariensecoop – Cooperativa de Produtos Agro-Pecuários da Ilha de Santa Maria (esta é uma nova inscrição e a cooperativa ainda não certificou vinho) e a Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico – Picowines. De momento, e de acordo com a CVR dos Açores, existem na região 613 viticultores com registo de vinhas homologadas: 437 na DO Pico, 60 na DO Biscoitos e 20 na DO Graciosa.
Sabia que…?
Nas ilhas açorianas é habitual ouvir-se falar de Verdelho e do Verdelho antigo, anterior à filoxera e às doenças criptogâmicas que na segunda metade do século XIX arruinaram a quase totalidade dos encepamentos. Esse Verdelho correu o mundo e ganhou fama em países como Inglaterra, Rússia e Brasil. Ainda hoje, quando no arquipélago se ouve falar de Verdelho, é ao generoso – fortificado ou passito – que os locais se referem, e não tanto à uva.
A jóia da coroa e as outras zonas de produção
Pico
Concentrada no litoral Oeste da ilha, a cultura da vinha no Pico ocupa cerca de 1009 hectares e é hoje um importante motor económico daquele território, através de um fervilhante enoturismo. Destaca-se o Lajido da Criação Velha, aglomerado urbano classificado como Património Mundial pela UNESCO. Lajido corresponde a um campo de escoadas lávicas basálticas do tipo pahoehoe, rochas que fazem parte da formação geológica Lajido - Gruta das Torres, com idade compreendida entre 500 e 1000 anos. O basalto negro do Pico é, apesar de tudo, o mais jovem solo das nove ilhas dos Açores – 1,2 milhões de anos, segundo estudos mais recentes. Haver ali vinha, que dá excelentes vinhos, é quase inacreditável. Em vinhas protegidas pelos já famosos currais, são cultivadas as três castas brancas, com destaque para o Verdelho e para o Terrantez, que nos últimos anos passou de 89 plantas a ocupar uma área de cerca de 30 hectares.
Biscoitos
A zona vitivinícola dos Biscoitos fica na costa Norte da ilha Terceira e deve o seu nome à freguesia dos Biscoitos, no município da Praia da Vitória. As suas vinhas estão a 100 metros de altitude ou menos. Aqui, os solos correspondem, em geral, a lavas recentes, frequentemente associadas a afloramentos rochosos.
Graciosa
Na ilha Graciosa, as vinhas ficam no município de Santa Cruz, na freguesia com o mesmo nome e nas de Guadalupe, Praia e Luz. Estão a uma altitude igual ou inferior a 150 metros. Os solos são um pouco mais fáceis de trabalhar, mas a rocha basáltica está sempre lá, a pouca profundidade.
Sabia que…?
Até para sair da ilha, os vinhos tinham de vencer a barreira da rocha. Nos lajidos da Criação Velha e de Santa Luzia, o Homem abriu canais – as relheiras – na rocha para transportar as pipas quase até ao mar, onde aguardavam barcos que levariam o vinho do Pico para o resto do mundo. Quase, porque quando terminavam os carris, ainda era necessário fazer rolar as pipas até à borda d'água, às rampas talhadas na rocha para esse efeito a população local deu o nome de rola-pipas. Outra construção engenhosa dos picoenses são os poços de maré nas zonas costeiras do Pico, onde a maré se misturava com a água das chuvas, dando origem a uma água salobra que era usada para fins domésticos e para o funcionamento dos alambiques, que também são vários ao longo da faixa costeira da ilha.
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Douro
Nobreza e tradição
O Douro é a região vitivinícola demarcada e regulamentada mais antiga do mundo, remontando a
meados do século XVIII. Toda ela é atravessada pelo rio que lhe dá o nome, que interage e molda
todo o ambiente, plantas, animais e humanos. A região, rodeada de montanhas e sulcada por vales profundos,
fica no Nordeste de Portugal, sendo dividida em três sub-regiões, Baixo Corgo, Cima
Corgo e Douro Superior, todas elas com características distintas, não só por factores climáticos
como também sócio-económicos.
O Alto Douro Vinhateiro foi classificado pela UNESCO, a 14 de Dezembro de 2001, como Património
da Humanidade, na categoria de paisagem cultural.
O Vinho do Porto, o seu generoso, tem fama mundial, enquanto alguns dos seus vinhos tranquilos
topo de gama se batem com os melhores do mundo.
O Douro é a única região portuguesa onde dois tipos de vinho completamente diferentes se
equivalem actualmente, em termos de quantidades de produção, de valor de mercado e de
reconhecimento: o histórico Vinho do Porto e os vinhos tranquilos.
Até à década de 1980, o que contava era o vinho generoso, com muito poucas excepções no capítulo
dos tranquilos, de que o Barca Velha (o mais prestigiado vinho tranquilo português, nascido em
1952) é um bom exemplo. O vinho tranquilo era apenas para consumo “da casa”, quase sem expressão
comercial.
Apesar da impressionante notoriedade que os vinhos com Denominação de Origem Douro (DOC Douro) adquiriram nas últimas duas décadas – lá fora e cá dentro –, o Douro é, para este perfil de vinhos e nas palavras de um enólogo conhecedor da região (Jorge Moreira), “uma criança que mal começou a gatinhar”. A imagem é excelente para percebermos o que está hoje a acontecer com o acerto dos perfis mais recentes dos DOC Douro. Como aquela criança que vai aprendendo a defender-se nas quedas, os produtores regressam a castas que nos anos 1980 foram afastadas das vinhas, recuperam vinhas velhas (as que valem a pena, claro) e procuram uvas de altitude e de diferentes exposições para a produção de vinhos mais frescos, menos extraídos e menos alcoólicos.
Por todas as razões, o Douro tem um potencial enorme. Convém, claro está, que se una de uma vez por todas para criar condições para a remuneração correcta das uvas aos lavradores. Ir à lua é capaz de ser mais difícil.
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Três Douros distintos
Dimensão
A Região Demarcada do Douro, a maior de Portugal, abrange uma área de 250 mil hectares, com um total de 45 mil hectares de vinhas. Dela fazem parte 19 municípios e 217 freguesias, distribuídos por quatro distritos: Vila Real e Bragança, na margem direita do rio, e Viseu e Guarda, na margem esquerda.
Solos
Os terrenos xistosos marcam presença na maior parte da Região Demarcada, em particular ao longo do vale do Douro e seus afluentes, uma formação geológica com cerca de 500 milhões de anos – embora haja alguns afloramentos graníticos mais antigos, com 700 ou 800 milhões de anos. A camada arável é muito pouco espessa, rondando os 20 centímetros.
Características edafoclimáticas
O rio Douro e as serras do Marão e de Montemuro exercem uma enorme influência no clima da região
do Douro, estas últimas constituindo uma barreira à penetração dos ventos húmidos de Oeste.
A região, situada em vales profundos, protegidos por montanhas, caracteriza-se por ter Invernos
muito frios e Verões muito quentes e secos. Daí o dito popular “nove meses de Inverno, três de
inferno”.
Relativamente às amplitudes térmicas diurnas e anuais, verifica-se que têm maior valor em Barca
d'Alva (Douro Superior) e menor valor em Armamar (Baixo Corgo), facto que é explicado pela maior
ou menor distância em relação ao mar.
Há vários Douros no Douro e diferentes factores (altitude, exposição solar, regime hídrico, regime de viticultura, etc) têm ditado diferentes respostas dentro da mesma região. Aconteceu em 2022, o ano mais seco das últimas duas décadas e o segundo menos chuvoso do mesmo período.
Brancos
Para o vinho tranquilo as castas mais utilizadas são Malvasia Fina, Viosinho, Gouveio e Rabigato. Moscatel é uma casta dominante no planalto de Alijó e Favaios, onde dá origem ao licoroso Moscatel do Douro. Actualmente começam a ter alguma expressão o Arinto e o Alvarinho. As castas estrangeiras são irrelevantes. Para o vinho do Porto, as castas mais utilizadas são Gouveio, Malvasia-Fina (Boal), Moscatel-Galego, Rabigato e Viosinho. Os vinhos brancos tranquilos para consumir jovens têm, na generalidade, aromas muito frescos a fruta e florais. Na boca são equilibrados, com boa acidez. Brancos de guarda geralmente passam por madeira, apresentando aromas tostados e de fruta tropical, e na boca são cheios e persistentes e aguentam muito bem a guarda durante alguns anos, ganhando interessantes notas terciárias. Quanto ao Porto branco, um vinho de aperitivo, é unicamente categorizado quanto à sua doçura. Há assim brancos secos, meio-secos e doces.
Tintos
Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz (chamada de Aragonez no Alentejo e Tempranillo em Espanha), Tinta Barroca e Tinto Cão são as principais castas tintas da região. Os vinhos tranquilos tintos são complexos e ricos. No vinho do Porto as castas mais utilizadas são Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinto Cão.
Outros vinhos
Durante mais de 200 anos, as uvas produzidas na Região Demarcada do Douro eram quase exclusivamente utilizadas para o fabrico de vinho generoso, o vinho do Porto. Os vinhos tranquilos (brancos e tintos) eram praticamente produzidos para consumo caseiro apenas. Embora o mais prestigiado vinho português não-generoso, o Barca Velha tenha sido lançado em 1952, foi a partir do final da década de 1980 que este tipo de vinhos durienses começou a ganhar fama e pujança. Em relação ao vinho do Porto, a feitura inicial não é muito diferente da utilizada mais tradicionalmente para os vinhos de mesa, com o esmagamento das uvas em lagares, sendo a grande diferença a interrupção da fermentação com a junção de aguardente, impedindo que todo o açúcar das uvas seja transformado em álcool. Para além dos vinhos tranquilos e dos licorosos Porto e Moscatel, também se produzem na região espumantes e colheitas tardias (late harvest).
Certificação
A certificação dos vinhos com as denominações de origem (DO) “Porto”, “Moscatel do Douro” (os dois licorosos) e “Douro” (vinhos tranquilos) e com a Indicação Geográfica (IG) “Duriense” (igualmente tranquilos, são os chamados vinhos regionais) é feita pela Direcção de Serviços Técnicos e de Certificação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto.
Produtores engarrafadores
Em 2022, o Douro produziu um total de 145,7 milhões de litros – 80,7 milhões de vinho do Porto, 56,1 milhões de DO Douro, 4,4 milhões de Moscatel do Douro, 500 mil de IG Duriense e 4 milhões de vinho sem DO ou IG (o antigo vinho de mesa, hoje simplesmente vinho – e certificado pelo Instituto da Vinha e do Vinho). O número total de viticultores é de 18.978, na sua esmagadora maioria apenas produtores de uva. Operadores/produtores/engarrafadores de vinho do Porto são 133 e de vinho do Douro (DO e IG) são 534. Dado que muitos produzem e negociam simultaneamente Porto e Douro, o total de operadores é de 555
Sabia que…
…a primeira demarcação levada a cabo em 1756 pelo Marquês de Pombal apenas contemplava, grosso modo, a zona que hoje chamamos de Baixo Corgo?
Essa área cresceu depois, durante o reinado de D. Maria I, para o Cima Corgo e, a partir de 1792, com a destruição do monólito granítico do Cachão da Valeira (que impedia a navegação segura no rio para Leste), para uma pequena parte do Douro Superior. Só passados 152 anos, em 1908, ficou redemarcada a região Douro tal como a conhecemos hoje, porém com duas sub-regiões, Alto Douro e Douro Superior. Só em 1936 é que a sub-região Alto Douro foi dividida em Baixo Corgo e Cima Corgo, numa associação ao rio Corgo.
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Sugestão Terroir
A história do Vinho do Porto é rica e complexa, eivada de avanços e recuos, minada com falsificações e outras tropelias. O ensaio da autoria de Gaspar Martins Pereira A região do vinho do Porto: Origem e evolução de uma demarcação pioneira (publicado pela Universidade do Porto e de acesso livre online) é uma leitura interessante para quem quiser saber mais.
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As três sub-regiões que conhecemos desde 1936
Sub-região do Baixo Corgo
O Baixo Corgo, sob a influência directa da Serra do Marão, é a sub-região mais fresca e chuvosa, a mais fértil e com maior densidade de vinhas.
Sub-região do Cima Corgo
O Cima Corgo é conhecido como o coração do Douro, onde nascem muitos dos vinhos do segmento superior do Vinho do Porto. Fica compreendido entre Armamar, o rio Tua, Alijó e Sabrosa, e no centro fica o Pinhão. As encostas são bastante acidentadas, com vales profundos. É o Douro dos socalcos e patamares, que fazem a delícia de turistas e fotógrafos.
Sub-região do Douro Superior
É a sub-região de maior extensão, a mais quente, seca e extremada, mas também a menos acidentada, marcada pela secura e pelos Verões infernais. É a região mais rica em castas autóctones, com centenas de castas únicas e muitas vinhas velhas plantadas com dezenas de castas misturadas, como era uso antigamente.
Sabia que…
…o enorme e acidentado declive dos terrenos situados nas encostas dos montes obrigou a trabalhos de surriba penosos, feitos a pá e picareta, mormente durante o século XIX e primeira metade do século XX, esmagadoramente por gente vinda da Galiza?
Foi assim que surgiram os socalcos suportados por muros de pedra onde a vinha era plantada. Nos anos 1970 e 1980, com o recurso a máquinas de terraplanagem, passou a utilizar-se a técnica dos patamares. Estes deixam de ser suportados por muros de pedra e passaram a ser separados por taludes, na altura altos, em terra. Hoje, os patamares modernos, construídos com recurso a laser, são mais estreitos e têm taludes mais baixos
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Madeira
As vinhas do mar
A cultura da vinha na Madeira é praticamente coeva com o início do seu povoamento em 1420,
havendo documentos que demonstram que 25 anos depois já se fazia comércio do vinho da Madeira
para fora da ilha.
Desde então, e até aos nossos dias, a viticultura é uma actividade muito
importante, tanto social como economicamente.
Naquela que é uma das poucas regiões do mundo que produzem vinhos de montanha, encontramos vinha quase a beijar o mar como lá em cima, em cotas mais elevadas, a 700 metros de altitude.
Sobretudo conhecido pela produção de um dos nossos mais famosos licorosos, o vinho Madeira – com o qual brindaram os pais fundadores dos Estados Unidos da América aquando da assinatura da declaração de independência –, nos últimos anos, o arquipélago tem ‘exportado’ também vinhos tranquilos, essencialmente brancos, mas também alguns tintos. E até espumantes. Nascidos dos solos vulcânicos da Madeira, mas também nas vinhas rasteiras e pousadas sobre areia do Porto Santo. Uma dinâmica que está intrinsecamente ligada com o turismo, razão pela qual nasceu nos últimos anos a Rota dos Vinhos da Madeira.
Com raras excepções, toda a região é de minifúndio (há propriedades com menos de 20 metros quadrados) e também quase toda é construída em socalcos sustentados por paredes de pedra, chamados localmente de poios, fazendo lembrar escadarias que vão em algumas partes do mar à serra, parecendo pequenos jardins embutidos na paisagem.
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Vinhos impossíveis, de terra vulcânica e de areia
Dimensão
A Madeira tem 407,70 hectares de vinha com autorização para produzir vinho com Denominação de Origem (DO) Madeira (o fortificado, em que adição de aguardente vínica serve para parar a fermentação, resultando num vinho com alto teor alcoólico, podendo ultrapassar os 19%) e Madeirense e com Indicação Geográfica (G) Terras Madeirenses, estas duas para o vinho tranquilo e para o espumante. No total, o arquipélago soma 680,56 hectares de vinha, uma diferença que se deve aquilo que na região chamam de “produtores directos”, variedades híbridas (cruzamento entre duas espécies diferentes de videira) sem interesse enológico, como o Jaquet e a Isabella (ou Americano).
Solos
Material de origem vulcânica, essencialmente de natureza basáltica, ocupa, na sua maior parte, o substrato da ilha da Madeira. São solos com uma camada arável bastante delgada, muito pobres. As rochas sedimentares, que ocupam pequenas extensões, situam-se, sobretudo, na periferia da ilha e aí os terrenos são bastante mais férteis. Na ilha de Porto Santo, os solos, igualmente pobres, são sedimentares e arenosos.
Características edafoclimáticas
O clima da Madeira é influenciado por diversos factores, proporcionando microclimas em toda a ilha. Muito importante é a existência da cordilheira central de elevados picos (Pico Ruivo e Pico do Arieiro, com mais de 1800 metros de altitude), numa orientação grosso modo Leste-Oeste, que torna o clima da costa Norte mais frio e mais chuvoso em relação ao da costa Sul.
Brancos
Actualmente, as variedades de castas brancas mais utilizadas são o Sercial (designação para o Vinho Madeira,
já que para o tranquilo é obrigatório usar a sinonímia Esgana-Cão), Verdelho, Boal (Malvasia Fina em Portugal continental),
Malvasia e Terrantez (Folgasão no continente). Estão entre as 13 castas recomendadas para a produção de vinho Madeira. Nos vinhos tranquilos – mais de metade dos agentes económicos registados
no arquipélago já (ou também) produz tranquilos –, a variedade dominante é o Verdelho (que, atenção, não é Verdejo, nem Gouveio, confusões que acontecem frequentemente).
No Porto Santo,vários produtores começaram nos últimos anos a fazer, e com relativo sucesso,
vinho tranquilo com as variedades Listrão e Caracol – a primeira uma das recomendadas para vinho Madeira e a segunda uma das seis autorizadas para a produção do licoroso.
Tintos
Do actual encepamento no arquipélago, juntando variedades brancas e tintas, a Tinta Negra leva a fatia maior: 216,07 hectares (em segundo lugar, com área significativamente menor, vem a branca Verdelho, com 46,48 hectares). Porque é que o seu peso é tão grande e a maioria nunca ouviu falar dela? A Tinta Negra foi sempre casta mal-amada no arquipélago e utilizada historicamente para dar volume às produções de vinho Madeira. Na última década tem estrelado em vários tranquilos varietais, tintos leves, elegantes e com pouca cor, como ditam hoje as tendências. Nas tintas, e sem chegar no seu conjunto a 5% do encepamento total, há ainda Aragonez, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Tinta Barroca, Touriga Franca, Touriga Nacional e Bastardo. Esta última é outro caso de estudo. É, como a Tinta Negra, uma das 13 castas recomendadas para a produção de vinho Madeira, mas totaliza apenas 2,5 hectares de vinha (duas vinhas, para sermos exactos, na Madeira, uma na costa Sul, outra no Norte da ilha).
Outros vinhos
Com o aparecimento da filoxera, na segunda metade do século XIX, grande parte das vinhas madeirenses desapareceu. Surgiu, então, o plantio da vinha americana, imune à doença. Durante quase 100 anos, o vinho tranquilo que se bebia era o chamado “americano”, cuja comercialização é hoje proibida. A partir da década de 1990, deram-se os primeiros passos para a produção de uvas exclusivamente para a produção de vinhos tranquilos e também existe uma pequena produção de espumante.
Certificação
O Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira (IVBAM) é o organismo responsável pela fiscalização das actividades vitivinícolas regionais e pela certificação e controlo de qualidade do Vinho da Madeira. O IVBAM certifica todos os vinhos produzidos na região, nomeadamente os vinhos com DO Madeira (generoso) e os tranquilos com DO Madeirense e IG Terras Madeirenses, para além do Rum da Madeira (IG), o único rum agrícola produzido em Portugal.
Produtores engarrafadores
Em 2022, a produção total de uvas em toda a região ascendeu às 4032 toneladas, que se traduziram em 3,47 milhões de litros de vinho licoroso, 229.800 litros de DO Madeirense (tranquilo) e 2300 litros de espumante. Existem na Madeira pelo menos 20 produtores engarrafadores. Desses, em 2022, oito só produziam vinho Madeira. Os restantes faziam vinho tranquilo ou os dois. Também são oito os players que, em conjunto, trabalham mais de 90% das uvas colhidas no arquipélago. No ano passado, os produtores de vinhos tranquilos e espumantes utilizaram 4,8% das uvas. O restante corresponde às uvas que ficaram em casa dos viticultores para fazerem o seu próprio vinho.
Sabia que…
…a primeira casta a chegar à Madeira foi a Malvasia Cândida, vinda de Cândia, hoje Creta, no século XVI?
Ou assim conta a maioria das fontes – também há quem aponte o Verdelho e o Verdelho Tinto como as primeiras castas a serem levadas para a ilha, por povoadores oriundos do Norte de Portugal. Por falar em povoadores, não será à toa que algumas castas que encontramos na Madeira também existem nos Açores, como a Tinta Negra (Saborinho nos Açores) ou o Bastardo. Ambas as regiões integram, em conjunto com Canárias e Cabo Verde, a Macaronésia, um nome moderno para designar o grupo dos arquipélagos no Atlântico Norte perto da Europa e de África. O nome é originário do grego e significa Ilhas Afortunadas, termo utilizado pelos antigos geógrafos.
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Sugestão Terroir
A localização torna uma visita ao Lounge Bar do Clube Naval do Seixal imperdível. Para além de se poder apreciar como as vinhas estão plantadas tão próximo do mar, no restaurante capricham em cozinhar o melhor peixe da ilha, servem petiscos e têm uma garrafeira bastante completa, com DO Madeira, tranquilos da Madeira e rum da Madeira.
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O jardim do Atlântico e a ilha dourada
Ilha da Madeira
Chamam-se o jardim do Atlântico, mas também podiam chamar-lhe a vinha flutuante daquele oceano.
A Ilha da Madeira tem origem vulcânica e uma orografia muito marcada por uma cordilheira com picos acima dos 1800 metros de altitude.
Produz vinhos até aos 700 metros de altitude, alguns nas chamadas vinhas em latada, que na vindima obrigam o homem a desafiar a gravidade em escadas periclitantes.
A vinha marca muito a paisagem de concelhos como Câmara de Lobos, São Vicente e Santana – os três com mais área de vinha para DO e IG.
A ilha tem muita flora endémica, nativa e exótica, e um clima tipicamente mediterrânico em grande parte da face Sul, passando a um clima temperado em cotas mais elevadas.
A face Norte é mais fria e chuvosa.
A economia é amplamente voltada para o turismo, que não acorre à ilha especificamente por causa do vinho, mas não falha uma prova de vinho Madeira.
E vai mostrando apetite por conhecer também os vinhos tranquilos, nomeadamente os Verdelhos.
Ilha de Porto Santo
Durante séculos, as acções erradas dos humanos destruíram o coberto vegetal da ilha dourada, como é conhecido o Porto Santo – à conta das praias
de areia e, em geral, por ser uma ilha mais árida do que a Madeira. Essa alteração, aliada a uma geologia dominada por solos sedimentares e arenosos, pobres,
e à pouca chuva, levou a uma acentuada desertificação e erosão. Neste momento, está em marcha um plano de reflorestação. E, junto ao mar, há um projecto
para reconstituir a morfologia original do cordão dunar da praia: uma das acções do Life Dunas é a recuperação e construção dos característicos muros de croché,
feitos em pedra aparelhada, que protegem as vinhas e outras explorações agrícolas dos ventos atlânticos.
Apesar de ter origem vulcânica, ao contrário da Madeira, o Porto Santo tem relevo pouco acentuado. A principal fonte de rendimento da ilha é o turismo, ainda mais do que na Madeira. Não é fácil perceber imediatamente onde ficam as vinhas do Porto Santo, é andar pela zona central da ilha, junto ao aeroporto, para ver as fazendas, como ali chamam às pequenas parcelas de vinha. Nos últimos anos, vários produtores, já a operar no arquipélago ou com experiência feita noutras regiões, despertaram para o interesse enológico das castas Listrão (lá fora também conhecida como Listan Blanco e Palomino Fino) e Caracol. E, em 2022, o Porto Santo afirmava-se como o novo must dos vinhos tranquilos, tendo registado na última vindima a uva mais cara do país: 4 euros (quase duplicou em dois anos).
Sabia que…
...à mesa, o vinho Madeira oferece diversas possibilidades de harmonização de acordo com o seu grau de doçura?
Os secos são óptimos como aperitivos. Também com aperitivos ou para acompanhar sopas, surgem os meio-secos. Os queijos casam perfeitamente com os meio-doces e os Madeiras doces são ideais para acompanhar doçaria, chocolates ou o café.
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Bairrada
Espumantes, tintos e brancos
É uma das mais versáteis regiões vitivinícolas do país, tendo como pontos fortes a produção de brancos, tintos e espumantes, embora muito apreciadores ainda caracterizem a Bairrada (apenas) como uma região de espumantes de qualidade superior. Há, de facto, na região uma enraizada cultura de espumantes, com saber e conhecimento acumulados ao longo de mais de um século, mas a Bairrada é mais do que isso.
A viticultura remonta, pelo menos, ao século X, mas é em finais do século XIX que a região se afirma como produtora de vinhos de qualidade, assumindo desde logo os brancos um papel determinante, devido sobretudo à grande aptidão para a produção de espumantes naturais. Marcados pela influência atlântica, são brancos de grande consistência e frescura, enquanto a reputação dos tintos vem sobretudo da sua excelente evolução em cave.
O ponto de partida foi a criação da Escola Prática de Viticultura e Pomologia da Bairrada, em 1887. Três anos depois, o seu director, José Tavares da Silva, iniciava a produção de espumantes naturais em Portugal, num processo que haveria de revolucionar a viticultura. Logo a seguir, fundaram-se as primeiras caves, um modelo que se multiplicou na década de 1920, trazendo à região enorme dinamismo e desenvolvimento. A grande extensão de caves subterrâneas, com condições de temperatura e humidade estáveis ao longo de todo o ano, é ainda hoje um dos grandes factores de diferenciação para os vinhos da Bairrada.
É com os tintos estagiados que na segunda metade do século passado a região se afirma como produtora de excelência, prestígio hoje alavancado também num conjunto de produtores engarrafadores com estatuto de culto entre consumidores e os mais prestigiados mercados.
A identificação da Bairrada como uma área singular em termos vitivinícolas resultava já dos estudos de António Augusto Aguiar publicados em 1867, referindo-se ao “Paiz Vinhateiro da Bairrada”, mas a Região Demarcada da Bairrada seria instituída apenas em 1979. E a Denominação de Origem (DO) Bairrada para espumantes em 1990.
A categoria Baga Bairrada (espumantes feitos a partir de Baga) merece algum estudo porque também foi responsável pela recuperação de uma casta que não tinha lá grande fama (na região e fora dela). Desde que foi criada a categoria, não só se plantou mais Baga (agora com a preocupação de escolher solos correctos) como se aumentou o valor pago por quilo aos produtores de uva. Não é pouca coisa para uma aventura que começou com qautro vinhos e que já vai em dezenas de referências.
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As caves, a Baga e os solos de argila
Dimensão
São cerca de 6.000 hectares de vinha encaixados entre os rios Vouga e Mondego, até esbarrarem com os maciços das serras do Caramulo e do Buçaco. O território da região demarcada da Bairrada abrange os concelhos de Cantanhede, Mealhada, Oliveira do Bairro, Anadia e Águeda e parte dos municípios de Aveiro, Vagos e Coimbra. E encerra uma sub-região chamada Terras de Sicó, que a Bairrada herdou quando a Portaria 193/2012, de 19 de Junho veio acabar com a IG Beiras, até então partilhada com o Dão e a Beira Interior. Terras de Sicó era uma sub-região da IG Beiras e passou, com essa alteração legislativa de 2012, para a IG Beira Atlântico, sendo que na verdade esta pode produzir-se em toda a Bairrada. Não faz muito sentido, mas assim é. Seja como for, a produção de IG Beira Atlântico é residual. Talvez por isso, a região comunique hoje em dia sobretudo a DO Bairrada.
Solos
O conceito está longe de reunir consenso, mas Amorim Girão concluiu que o nome Bairrada derivaria mesmo da predominância dos solos barrentos, que se mostram propícios para a produção de uvas tintas, principalmente da casta Baga. São frequentes também as áreas de terrenos arenosos que fornecem condições ideais para as variedades brancas. Em toda a região, a vinha é a mais característica forma de ocupação do solo.
Características edafoclimáticas
A Bairrada ocupa uma plataforma litoral de baixa altitude, como tal encontra-se aberta à influência oceânica, que avança até encontrar os maciços do Buçaco e do Caramulo.
O clima é ameno, com Invernos suaves e Verões não muito quentes, associados a baixas amplitudes térmicas e a uma humidade elevada ao longo do ano.
Brancos
Nas castas brancas da Bairrada domina a Maria Gomes (nome local para Fernão Pires), que corresponde a mais de 20% do encepamento da região, seguida à distancia pela Bical (pouco mais de 5% de todas as vinhas) e a presença residual de Arinto e Chardonnay, com presença nos top dez, mas representação apenas na ordem do 1%.
Das castas Maria Gomes, Bical, mas também outras que nem chegam a estas listas, como o Cerceal ou o Sercialinho, dão origem a belíssimos vinhos brancos.
Tintos
Reina a tintureira Baga em toda a região, representando quase metade do encepamento total (47,1%). Os dados do Instituto da Vinha e do Vinho apontam depois Syrah (2,9%), Touriga Nacional (2,8%), Tinta Roriz (2,6%, Aragonez noutras bandas) e Merlot (1,9%).
Determinante para que a Baga passasse a ser uma das variedades portuguesas mais prestigiadas foi a criação, por um conjunto de produtores, do grupo Baga Friends, uma espécie de “unidos somos mais fortes”. E ouvidos. Isso e, claro, a qualidade dos vinhos produzidos com a variedade fez o resto.
Outros vinhos
A par do engarrafamento de espumantes, tintos e brancos de grande prestígio, a Bairrada produz também aguardentes, sobretudo envelhecidas, de reconhecida qualidade. Alguns produtores oferecem também vinhos licorosos, obtidos sobretudo a partir da casta Baga.
Sabia que…
…a Baga nem sempre foi a mais amada da Bairrada?
É o emblema da Bairrada, responsável pelos vinhos mais icónicos da região e de longe a mais plantada, mas a Baga nem sempre gozou da melhor reputação. Escolhida inicialmente pela sua fecundidade e alta produção, ganhou até os epítetos de “Carrega Burros” e de “Paga Dívidas”. Já nos seus célebres estudos sobre a região, António Augusto Aguiar registava que a Baga era “a casta predilecta da Bairrada”, mas concluía que era “uma casta de qualidade inferior” e teria de ser vindimada muito tarde para produzir melhor resultado.
Não vai assim tanto tempo, os seus vinhos eram olhados com absoluta desconfiança. E foi mesmo a nova geração de produtores engarrafadores que começou a emergir a partir da década de 1980 e a dar-lhe o estatuto de estrela. Produtores que souberam associar a condições específicas do solo uma viticultura e uma enologia cuidadas, como é o caso do pioneiro Luís Pato, de Mário Sérgio Nuno (Quinta das Bágeiras) e do grupo Baga Friends – em que se incluem os dois primeiros mas também “amigos” como Filipa Pato, Dirk Niepoort ou Luís Patrão (Vadio) –, que surgiria no início da década de 2010 e levaria a casta bairradina aos grandes palcos do mundo.
A conclusão é que, para proporcionar os grandes vinhos de guarda que lhe dão fama, a Baga precisa de solos argilo-calcários, vinhas em encostas com boa drenagem e voltadas a Sul. É também recomendada a monda de cachos antes da fase do pintor para que as uvas restantes amadureçam bem e produzam vinhos aromáticos, intensos de cor, com taninos macios e boa acidez que proporcionam grande longevidade.
Para potenciar estes vinhos distintos e para um mais completo aproveitamento das uvas, a região criou recentemente o Baga Bairrada, uma categoria específica de espumantes que se tem revelado um enorme sucesso.
Certificação
A Comissão de Viticultura da Bairrada certifica vinhos com DO Bairrada, sejam eles espumantes, sejam vinhos tranquilos, aguardentes vínicas ou licorosos, e com a tal IG Beira Atlântico. Em 2022, a Comissão certificou 5,5 milhões de litros de vinho com DO Bairrada, dos quais quase 2,7 milhões de litros eram de espumante, praticamente metade. A IG Beira Atlântico é de produção residual: por ano, são certificados apenas 50 a 60 mil litros de vinho, brancos (com destaque para a Maria Gomes) e tintos (Baga, Touriga Nacional e Tinta Roriz), mas sobretudo tintos.
Produtores engarrafadores
A Bairrada regista 112 agentes económicos – entre eles uma cooperativa só é responsável por 40% das vendas da região, a Adega Cooperativa de Cantanhede – e 2200 viticultores. A produção anual é de 20 milhões de litros de vinho. A produção de espumantes cifra-se nos 3,3 milhões de garrafas de espumante certificado, mais 3 milhões de garrafas sem certificação pela CVB. A região exporta 27% do que produz, quase 1,5 milhões de litros em 2022.
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Sugestão Terroir
São várias dezenas de quilómetros de caves subterrâneas (só na Aliança são mais de 7,5 Km), nos vários produtores da Bairrada. Acolhem em permanência milhões de garrafas de espumante em estágio e são fundamentais para o correcto envelhecimento de vinhos e para o processo de criação dos espumantes naturais de qualidade. São também um património único e distintivo da região, que oferecem raras oportunidades de visita.
Longos túneis cavados nas rochas há cerca de 100 anos e vocacionados para a produção de espumantes, hoje também em muitos casos associados a programas de enoturismo. As Caves Aliança, por exemplo, albergam também um raro museu de arte. Noutros casos, a arte é mesmo líquida, acolhendo preciosidades engarrafadas com dezenas de anos e vinhos únicos. As Caves São João são um caso muito particular, guardando em bom estado vinhos desde meados do século passado.
Em muitos casos, além da prova dos vinhos, os visitantes podem associar também a degustação do outro produto icónico da Bairrada, o leitão assado. Desde que marcado com antecedência, as caves estão em regra preparadas para o manjar, que é servido pelos mais reputados assadores da região. É também por isto que a Bairrada é uma região claramente diferenciadora.
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Península de Setúbal
É vinho e muito mais
Em que pensamos quando o nome Península de Setúbal surge numa conversa sobre vinhos? Em moscatéis? Nas garrafeiras da José Maria da Fonseca e da Bacalhôa? Nos tintos de Castelão das areias? Nos brancos frescos de Fernão Pires com Arinto? Na casa Ermelinda Freitas? No enólogo faz-tudo Jaime Quendera? Nas tortas de Azeitão? No Queijo de Azeitão? No pão de Alfarim ou do Faralhão? Na tremenda diversidade de espécies de peixes no Mercado do Livramento? No carapau-manteiga que só aparece no Verão? Nos arrozes da Comporta? No pinhão de Alcácer? Nos 12 produtores de ostras do Sado? Ou, já agora, na beleza da Serra da Arrábida?
Em todas as regiões vitícolas, há produtos alimentares marcantes, mas talvez a Península de Setúbal seja especial nesta matéria.
Sim, a cultura do vinho é milenar, sim os seus moscatéis sempre foram cobiçados a nível mundial e, sim, é aqui que a casta Castelão atinge o seu expoente, mas na realidade este é um território onde tudo se confunde e onde tudo ganha mais sabor quando é provado em conjunto. Com os diferentes perfis de vinhos da Península de Setúbal, resultantes de micro-terroirs e das interpretações de cada enólogo, temos acesso a vinhos do dia-a-dia ou a vinhos de guarda – estes com muito carácter.
É certo que, nos últimos anos, muitos produtores deixaram-se seduzir pelas castas internacionais da moda e até começaram a vinificar Castelão como se fosse Touriga Nacional ou Syrah, mas nota-se o regresso à matriz desses grandes tintos clássicos, sedutores pelos seus aromas de evolução.
A região é hoje um operador estratégico na moderna distribuição por via dos preços baixos, mas também devemos registar a determinação de pequenos e médios produtores em fazer a diferença.
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Terroir encaixado entre o Tejo e o Sado
Dimensão
A região da Península de Setúbal tem cerca de 10.000 hectares de vinha. Estende-se entre as bacias hidrográficas do Tejo e do Sado (a península) e chega à fronteira Sul de Santiago do Cacém, abrangendo 13 concelhos do distrito de Setúbal. Quase toda a área de vinha se concentra em Palmela, Montijo, Setúbal e Alcácer do Sal.
Solos
Temos os argilocalcários da serra, os solos de transição e, depois, uma vasta planície com solos de areia entre Palmela e Montijo (90% das vinhas da região), responsáveis pela produção de vinhos naturalmente equilibrados. Falamos de areias porosas, pobres e brancas e não de areias compactas, ricas e escuras (“areias criadeiras” no linguajar dos antigos). Sendo brancas, as areias reflectem mais calor, pelo que as uvas não entram em processo de desidratação.
Características edafoclimáticas
Do ponto de vista climático, esta região próxima do mar caracteriza-se pela moderação mediterrânica: Invernos chuvosos e com algum frio, Verões quentes e secos. O maciço da Arrábida acaba por proteger as vinhas da serra viradas a Norte, vinhas estas que, apesar de só representarem 10% da área da região, permitem maturações tranquilas e, em consequência, vinhos mais frescos.
É de realçar a importância dos terrenos de areia para a definição do perfil dos vinhos da Península de Setúbal, que não tem apenas que ver com a sua pobreza, mas, acima de tudo, com a existência de um vasto lençol freático nestes terrenos encaixados entre o Tejo e o Sado.
O facto de haver água a pouca profundidade faz com as videiras raramente entrem em stress hídrico. Donde, as maturações ocorrem de forma tranquila, com grande equilíbrio natural entre ácidos e açúcares.É curioso – num mesmo dia de Verão – olhar para os cachos de uvas tintas nas areias e os cachos de uvas tintas em terrenos de argilocalcário. Os primeiros até brilham.
Já agora, a existência desse enorme lençol freático foi um dos obstáculos à construção do quimérico novo aeroporto nacional em Rio Frio, por ser uma zona instável. E, assim, salvaram-se os vinhos da Península de Setúbal.
Brancos
A circunstância de muitos vinhos terem Fernão Pires na sua composição faz com que os brancos da Península de Setúbal tenham quase sempre um carácter floral e frescura de boca quando são lotados com Arinto. Mas como se adapta rapidamente às exigências de mercado, a região viu chegar outras castas nacionais e estrangeiras, pelo que por aqui tanto temos brancos de consumo imediato a preços competitivos como vinhos de guarda resultantes de um sem-número de castas.
Tintos
Em matéria de tintos aplica-se a mesma regra: modernidade, competitividade e tradição. Entraram muitas castas de outras regiões na Península de Setúbal, mas ainda há muita área da Castelão – a grande casta tinta nacional. Um tinto para ostentar a designação Denominação de Origem Palmela tem de ter no lote pelos menos 67% de Castelão. Quando as vinificações respeitam a casta e as tradições (fermentação em lagar e com engaço), o tempo acaba por dar origem a vinhos com aromas de bosque, de lareira e frutos secos.
Sabia que…
…os vinhos de Castelão da Península de Setúbal são conhecidos localmente como Periquita?
A casta que hoje é conhecida por Castelão (também já foi Castelão Francês...) é o resultado de um cruzamento entre a variedade espanhola Cayetana Blanca e a portuguesa Alfrocheiro. Mas, ainda hoje, na Península de Setúbal, há quem se refira aos seus vinhos como Periquita. Isso é assim porque o empresário José Maria da Fonseca, no século XIX, terá instalado uma vinha desta variedade com material proveniente ou da região Oeste (Lisboa) ou do Ribatejo (Tejo) numa propriedade sua chamada Cova da Periquita, para os lados da Arrábida. Ora, como o vinho ganhou fama e varas para enxertar outras vinhas de produtores próximos começaram a voar da quinta. E, naquela altura, como ninguém se interessava cá por castas, o vinho passou a ser conhecido como o vinho da Periquita. Atendendo a que a JMF tem na marca Periquita um grande activo comercial, lá arranjou forma de proibir a utilização de Periquita nos rótulos das garrafas. Assim, Periquita é igual a Castelão.
Outros vinhos
A divisão que encontramos para este especial sobre o Portugal Vitivinícola não fará tanto sentido em regiões como a Península de Setúbal, porque faz com que, neste caso, deixemos o melhor para o fim: os seus moscatéis. Seja.
Mas comecemos pelos vinhos rosados. Em virtude das experiências bem-sucedidas com Moscatel Galego Roxo, vários produtores têm apresentado vinhos rosados partir desta casta, mas, também rosés de Castelão, de Touriga nacional ou de Pinot Noir. Dinamismo é o que não falta na região.
Agora sim, os moscatéis de Setúbal! Doces, claro, mas balanceados pela acidez, pelo tempo e pela arte do lote, são certificados por uma câmara de provadores com muita experiência na matéria e que tem a função de aprovar diferentes categorias.
Um Moscatel de Setúbal nunca pode ser lançado com menos de um ano e meio. A partir daqui existem moscatéis de 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 e mais anos. Depois, temos as seguintes classificações: Superior, para vinhos com mínimo de 5 anos e que tenham obtido a aprovação da câmara de provadores para essa classificação; Reserva, outro caso em que a câmara de provadores atesta a classificação; Moscatel de Setúbal datado, para vinhos de qualidade e de um só ano de colheita; e Moscatel de Setúbal não datado, vinhos de blend resultantes de diferentes anos de colheita de moscatel. E, para mais histórias sobre moscatéis da região, é ler este especial até ao fim, por favor.
Certificação
Cabe à Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, certificar o vinho com Denominação de Origem(DO) e Indicação Geográfica. Do ponto de vista administrativo, a região tem duas DO e uma IG. As DO são Palmela (DO Palmela) e Setúbal (DO Setúbal) e a IG é IG Península de Setúbal. Em termos geográficos, as duas DO partilham a mesma área (a península propriamente dita), variando apenas o perfil de vinhos de cada uma. A IG Península de Setúbal abrange todo o território da região e diferencia-se pelas castas usadas, sendo que nos concelhos de Alcácer, Grândola, Santiago de Cacém e Sines só se certificam vinhos IG. O total de vinho certificado em 2022 chegou aos 43 milhões de litros. Desse total – que tem vindo a aumentar de ano para ano –, a Península de Setúbal exporta entre 35% e 40%
Produtores engarrafadores
Na região há 130 produtores engarrafadores e registam-se 900 viticultores – o que, em média, dá 9 hectares por lavrador.
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Desafío Terroir
Nos dias que correm, só enófilos encartados apreciam vinhos generosos de Moscatel (é o mesmo que acontece com o Porto, o Madeira e o Carcavelos). Um Moscatel de Setúbal com idade é algo que apaixona um perfumista, visto que a sua estrutura aromática é de uma riqueza imensa, com notas de frutos confitados, madeiras exóticas, minérios, especiarias, ervas aromáticas e sabe-se lá mais o quê. O que é fundamental para esta categoria é encontrar as ligações perfeitas e – mais importante – perceber como este vinho rico e complexo pode ser apreciado no início da refeição e nunca no fim, quando toda a gente está cansada de comida e vinho em geral. Este é que é o seu grande desafio do Moscatel de Setúbal. Quem tiver ideias que se chegue à frente.
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Duas Denominações de Origem e uma Indicação Geográfica
DO Setúbal
É, por assim dizer, a jóia da coroa da região, visto que cuida de um património único a nível mundial: os vinhos generosos Moscatel de Setúbal (variedade Moscatel de Alexandria) e Moscatel Roxo de Setúbal (variedade Moscatel Galego Roxo). Convém dizer que Setúbal é a segunda região portuguesa mais antiga a ser delimitada, em 1907, tudo por causa dos vinhos generosos. Originando vinhos diferentes – em particular no que diz respeito ao perfil aromático e à acidez –, aquelas duas castas são responsáveis por vinhos que, com o tempo, adquirem uma complexidade tremenda por causa dos aromas terciários que libertam. Os críticos tendem a valorizar mais o Moscatel de Setúbal por causa da acidez na prova de boca, mas, nesta com noutras matérias, é tudo uma questão de gosto. Dá-se o caso de, em termos aromáticos, termos um fraquinho pelos vinhos feitos com Moscatel Galego Roxo.
DO Palmela
Esta é a categoria que explora todo o território da península (o mesmo onde se fazem os moscatéis), mas agora para a produção de vinhos tranquilos (brancos, tintos, rosados e espumantes) com castas regionais.
IG Península de Setúbal
São vinhos certificados em toda a região que ocupa o distrito de Setúbal e que, por regra, exploram castas estrangeiras ou castas nacionais não habituais na região. Por questões edafoclimáticas ou por questões de castas, entre a península de Troia e Santiago do Cacém todos os vinhos podem ser IG Península de Setúbal (ou Vinho Regional Península de Setúbal).
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Histórias com moscatéis
A casta Moscatel de Alexandria (para vinho Moscatel de Setúbal) e a casta Moscatel Galego Roxo (para vinho Moscatel Roxo), ambas na DO Setúbal, dão vinhos com perfis diferentes, separam gostos e dão origem a uma espécie de clube de fãs de uma e outra variedade.
O Galego Roxo
Vejamos o caso do Moscatel Galego Roxo. Com ele fazem-se vinhos generosos de encantar nos concursos mundiais de moscatéis e, também, vinhos tranquilos, em particular rosés, um conceito saído da cabeça irrequieta de Domingo Soares Franco (José Maria da Fonseca). Por causa disso, hoje temos vários rosés de Moscatel Galego Roxo na região, altamente recomendados para pratos asiáticas vagamente picantes.
Esta casta esteve quase em extinção por causa da gulodice dos pássaros. Com uma variedade de maturação precoce, os pássaros, sem mais nada de apetitoso por perto, atacavam em força os bagos doces, pelo que os produtores tinham quebras de produção enormes. Vai daí, arrancaram as vinhas, até que, na região, nem cinco hectares de Moscatel Galego Roxo havia há 20 anos. E foi só por causa do sucesso do Moscatel Roxo Rosé Domingos Soares Franco Colecção Privada que a casta voltou a ser plantada. Hoje, a área cresceu para 56 hectares de Moscatel Galego Roxo, usados para vinho generoso e para vinho tranquilo, quase todo em modo rosé.
A recuperação da casta Moscatel Galego Roxo e a região da Península de Setúbal são só mais uma história para provar que Portugal é um caso especial no que diz respeito à manutenção da biodiversidade da videira (e não só).
O Moscatel de Alexandria
Se hoje existem 640 hectares de Moscatel de Alexandria na Península de Setúbal, isso deve-se mais aos vinhos brancos secos feitos com a casta do que ao generoso Moscatel de Setúbal.
E, acima de tudo, deve-se a outro visionário que foi António Francisco d’Avillez. Entre marcas como Tinto de nfora, Cova da Ursa ou Bacalhôa (hoje no grupo com este último nome), criou, nos anos 1980, o vinho João Pires – vinho branco feito a partir de Moscatel.
De início, o criador foi um bocado maltratado porque nunca se tinha provado um branco tão perfumado por cá, mas, depois da estranheza inicial, a marca que faz parte do universo José Maria da Fonseca chegou a vender 100 mil caixas de seis garrafas... De maneira que, hoje, se é banal provarmos brancos de Moscatel por todo o lado, devemos isso a António Francisco d’Avillez.
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Sugestão Terroir
Quem quiser, em Setúbal, ver uma montra de quase todos os vinhos da região da Península de Setúbal pode ir à Casa da Baía de Setúbal (na Avenida Luísa Todi, 468, Setúbal), onde encontra vinhos a preços de espantar. Quem se interessar só sobre vinhos generosos Moscatel de Setúbal deve dar um salto a Palmela, à Casa Mãe da Rota dos Vinhos (no Largo São João Baptista). É uma escola.
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Vinho Verde
Frescura e identidade
A forte marca identitária, que contrapõe o Vinho Verde a todos os demais, e uma recorrente dinâmica de renovação são, talvez, as mais vincadas características desta região. Sendo uma das maiores e mais antigas regiões vitivinícolas do mundo, demarcada desde 1908 e em tempos idos conhecida simplesmente como Minho, ali, vinho e fertilidade sempre andaram de mãos dadas. Mas é a partir do século XII que a produção de vinhos no Noroeste de Portugal assume verdadeira importância social, com o forte crescimento da população que então se verificou.
O registo da expedição de uma pipa para Inglaterra em 1295 mostra que os vinhos da região terão sido os primeiros a ser exportados para o Norte da Europa. A partir de finais do século XIV, os comerciantes ingleses mantêm na região duas Feitorias, em Monção e Viana da Foz do Lima (como surgia nos documentos de então), dedicadas à exportação dos vinhos que consideravam “tão finos e apaladados como os de Borgonha”. Tintos provenientes das zonas interiores dos vales do Minho, Vez e Lima, que por este desciam até ao porto de Viana, de onde eram exportados, e, por isso, então designados como “Vinhos de Viana”.
É depois pelo efeito da revolução do milho — a chegada do “milho grosso” vindo das Américas —, conjugado com o contínuo crescimento populacional e posteriores entraves colocados pelas medidas de contenção de novos vinhedos lançadas pelo Marquês de Pombal, que a vinha vai sendo empurrada para as bordaduras. Com as uveiras e latadas elevadas, as uvas têm dificuldade em amadurecer e os vinhos tornam-se mais ácidos, mas a produção continua em crescendo. A região precisa cada vez mais de vinho (e de milho) para acompanhar o crescimento da população. E os muitos que emigram para o Brasil — e depois, já no século XX, primeiro para África e depois para o centro da Europa — começam também a pedir de lá os vinhos leves, frescos e joviais a que estavam habituados.
Um estilo que, mesmo depois da recente revolução com a modernização da viticultura, enologia e adegas, a população continua a acarinhar, promovendo o crescimento da actividade vitivinícola nos verdes. Aproveitando as vantajosas condições naturais de clima ameno e pluviosidade, a revolução de que falamos voltou-se nas últimas duas décadas do milénio sobretudo para a produção de vinhos brancos, deixando os tintos praticamente de lado.
Com esta mudança, as vinhas estão também de regresso aos melhores terrenos e à condução baixa. São nove as sub-regiões dos verdes. De Monção e Melgaço, pátria dos Alvarinhos, onde a pluviosidade é menor e as temperaturas são mais altas no Verão, a Baião, já na margem do rio Douro e abrigada da influência atlântica, onde medram os Avesso, secos, frescos e minerais. Pelo meio as sub-regiões mais interiores e montanhosas de Basto e Amarante voltadas ao Tâmega, assim como a do Sousa. Paiva, já na margem sul do Douro, caracteriza-se pelos seus tintos, enquanto o Loureiro e a influência directa do Atlântico e as suas névoas matinais reinam nos vales do Lima, Cávado e Ave.
Os brancos dos Vinhos Verdes são hoje capazes de corresponder a todos os gostos e estilos. Dos jovens, leves e frescos aos vinhos cada vez mais sérios, estruturados e elegantes. Caso evidente dessa diversidade e de uma forte aposta na qualidade são os Alvarinhos — sobretudo na sub-região de Monção e Melgaço, onde as vinhas ao baixo verdadeiramente nunca chegaram a desaparecer —, mas não só. O mercado reconhece cada vez mais a identidade fresca e distinta dos vinhos das castas Loureiro, Avesso e Azal, ou os rosés de Espadeiro, que conquistam adeptos cá dentro e lá fora, um pouco por todo o mundo.
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A maior Denominação de Origem do país
Dimensão
Com origem na “mais povoada, fértil e formosa província de Portugal”, como se referiu Pinho Leal ao Entre-Douro-e-Minho, a região dos Vinhos Verdes alarga-se das margens do rio Minho até às serras da Freita, Arada e Montemuro, a Sul do Douro, e da costa atlântica até às serranias da Peneda, Gerês, Cabreira e Marão, no limite com Trás-os-Montes. É a maior Denominação de Origem Controlada de Portugal – já que a DOC Vinho Verde corresponde a toda a área geográfica da região – e representa 15% de toda a área vitícola nacional. Ao todo, compreende cerca de 17.300 hectares de vinha, distribuída por 67.291 parcelas localizadas em territórios de 48 concelhos, abrangendo os distritos de Viana dos Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Aveiro e Viseu.
Alinhadas com os vales dos rios que correm em direcção ao Atlântico, existem nove sub-regiões que espelham a variedade de terroirs e especificidades climáticas e acolhem diferentes castas, que aportam riqueza e diversidade aos vinhos da região. Estas são as que concentram maior área de vinha: Sousa (3391 hectares), Amarante (2113 hectares), Basto (2055 hectares), Monção e Melgaço (1882 hectares) e Lima (1833 hectares).
Solos
As vinhas crescem em solos férteis de natureza granítica, estão normalmente orientadas a meia encosta e segundo os vales dos rios, onde encontram condições de drenagem e atingem melhor potencial. No vale do Minho encontram-se também zonas de aluvião e de calhau rolado. E, em algumas sub-regiões, há afloramentos de xisto.
Características edafoclimáticas
A região organiza-se basicamente num vasto anfiteatro que se eleva gradualmente da orla marítima até às montanhas do interior, expondo-a às influências do oceano Atlântico. O clima ameno, com noites frias, elevada pluviosidade e a permanente disponibilidade de água, graças a uma vasta rede hidrográfica,
criam condições que, aliadas à tipicidade das castas, originam vinhos distintos com forte identidade. Condições que, face às mudanças climáticas que trouxeram um maior aquecimento e frequentes períodos de seca, estão a levar a um forte investimento nos Vinhos Verdes por parte de grandes produtores até agora assentes noutras regiões.
Brancos
Alvarinho, Arinto (ou Pedernã), Avesso, Azal, Loureiro e Trajadura, são as castas brancas mais representativas. O Loureiro é, de longe, a variedade mais representada, com quase 30% do encepamento total da região (brancos e tintos), e mesmo sem sair dos Vinhos Verdes é já também uma das mais plantadas no território nacional – já existem vinhas de Loureiro, imagine-se, até na Madeira! Seguem-se o Arinto e o Alvarinho, ambas ligeiramente acima dos 15% face ao encepamento total.
Em termos de notoriedade, os vinhos com maior reconhecimento são os de Alvarinho, seguindo-se o Loureiro. Entre as variedades que despertaram o interesse de enófilos nos últimos anos, destaque para o Avesso, que o enólogo e produtor Anselmo Mendes (o “senhor Alvarinho”) coloca entre as três castas mais importantes da região.
Tintos
Nas castas tintas, destaca-se o Vinhão, com 15% do encepamento da região. Apesar desse domínio, há outras variedades tintas plantadas: encontramos nos Vinhos Verdes também Alvarelhão, Amaral, Borraçal, Espadeiro, Padeiro, Pedral e Rabo de Anho. Hoje em dia, encontramos na sub-região do Paiva (Vinhão e Amaral) alguns dos tintos de maior prestígio da região. Outras referências dignas de registo chegam das sub-regiões do Lima e do Cávado (Vinhão e Borraçal) e do Sousa (Vinhão, Borraçal e Amaral). E Monção e Melgaço tenta regressar à produção dos tintos finos de tempos idos.
Sabia que…
…os vinhos tintos já foram a esmagadora maioria dos vinhos produzidos na região?
Muitos consumidores acham que os Vinhos Verdes são apenas brancos, mas não vai longe ainda o tempo em que os tintos representavam mais de 85% do vinho produzido na região. maioria. Assim era até à década de 1970. A mudança radical deu-se já nos anos 1980, com a aposta forte na modernização e reconversão de toda a produção, e em três décadas o panorama na região inverteu-se por completo.
Impulsionada pelos fundos comunitários que chegaram com a entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia (CEE), a região decidiu apostar nas castas brancas com forte ligação ao território. Os vinhos de Alvarinho, Loureiro e Alvarinho / Trajadura estão no topo das preferências dos consumidores e os brancos já representam mais de 88% das vendas (cerca de metade em exportação). Os dados da CVRVV mostram que no final de 2022 os tintos estavam remetidos a meros 4% e que, no que diz respeito a variedades tintas, o que crescido são os rosés, que representavam os 8%.
Outros vinhos
Nas dez castas mais representativas da região, e para além do Vinhão, aparece a tinta Espadeiro (com 1,4% do encepamento total), que é sobretudo utilizada para fazer vinhos rosados, sobretudo na sub-região do Sousa.
Tem crescido também a produção de vinhos espumantes de Vinho Verde, que conquistam cada vez maior número de consumidores. O que faz todo o sentido, dadas as características de frescura e acidez natural e baixo teor alcoólico típicas dos vinhos da região.
Produto histórico e de reconhecida qualidade, mas um tanto ou quanto esquecidas, são as bagaceiras e aguardentes vínicas.
Ao contrário dos vinhos, há uma longa tradição de envelhecimento, que proporciona produtos que se destacam pelas diferenciadas qualidades aromáticas e gustativas.
Na região, há ainda registo de algumas colheitas tardias.
Certificação
A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) atribui a Denominação de Origem (DO) Vinho Verde a vinhos e espumantes, brancos, tintos e rosados, aguardentes vínicas e bagaceiras e ainda a vinagre de vinho branco, tinto ou rosado. Já a Indicação Geográfica (IG) Vinho Regional Minho é atribuída a vinho licoroso, vinho frisante, vinho frisante gaseificado e aos brancos, tintos, rosados e espumantes que não cumprem os requisitos para ser DO. Apesar de a DO ser Vinho Verde (toda a região), os Verdes dividem-se em nove sub-regiões, e os vinhos desses territórios podem ter a menção à sub-região no rótulo – Monção e Melgaço é, contudo, a única que tem um selo de certificação específico aplicado aos seus vinhos. Em 2022, a CVRVV certificou quase 100 milhões de litros de vinho: 96 milhões de litros de vinho com DO Vinho Verde e 2,6 milhões de litros de vinho com IG Minho.
Produtores engarrafadores
A região regista 379 produtores engarrafadores e 13.110 viticultores. A produção não tem parado de crescer e na última década as exportações quase duplicaram. A região exporta aproximadamente 50% da comercialização total de Vinho Verde branco. E, em 2022, os Vinhos Verdes foram distribuídos por 120 países de todos os continentes
Sabia que…
...é possível visitar o Palacete Silva Monteiro, uma jóia arquitectónica do século XIX em pleno centro do Porto e onde fica a Casa do Vinho Verde?
Aquela que hoje é a Casa do Vinho Verde (a CVRVV tem ali sede desde 1944) foi considerada a mais bela residência do Porto por Pinho Leal nas décadas finais do século XIX. Situado na Rua da Restauração, o palacete foi construído por encomenda de António da Silva Monteiro, um brasileiro de torna-viagem que foi “homem do comércio, da indústria, dos transportes e da cultura”, um filantropo, que também gostava de “meter as mãos na terra”, como o descreve Joel Cleto, que assina um livro comemorativo dos 200 anos do nascimento de Silva Monteiro, com edição prometida ainda para 2023. A casa tem uma das mais belas clarabóias da cidade e imagens representativas das diversas cidades onde viveu Silva Monteiro: Rio de Janeiro, Porto e Lisboa. As visitas guiadas, com provas de vinho, são aos sábados, das 14h30 às 18h30, e custam 5 euros. Têm um limite máximo de 15 participantes e decorrem de hora a hora, estando sujeitas a inscrição prévia no site do Vinho Verde.
De Monção e Melgaço a Baião
Monção e Melgaço
É a mais particular de todas as sub-regiões, não só pelo clima claramente continental mas porque até recentemente tinha também o exclusivo da casta Alvarinho para vinhos com DO Vinho Verde. Integra os dois concelhos que lhe dão o nome, Monção e Melgaço, os seus solos são de origem granítica, existindo em alguns locais faixas com calhau rolado, e tem um microclima que potencia Invernos frios com alguma precipitação e Verões quentes e secos. Alguma influência marítima, recebe-a já dos ambientes salgados da ria de Vigo. A sub-região acompanha a margem Sul do rio Minho numa zona de meia encosta e, a par da fama dos seus Alvarinho, ambiciona o regresso aos tintos finos e elegantes dos séculos passados.
Lima
Tem apostado na afirmação da qualidade distinta dos brancos da casta Loureiro, de aromas finos muito elegantes e intensos, mas também os tintos – de Vinhão e Borraçal –, sobretudo na bacia do Vez, gozam de boa fama. Integra os concelhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, abrangendo as bacias dos rios Vez e do Lima, que descem das serranias do Gerês e do Soajo até à costa em Viana do Castelo. Há, por isso, quem fale já em alto e baixo Lima. É onde a precipitação é mais elevada, amplitudes térmicas moderadas e solos de natureza granítica que acolhem sobretudo vinhas de Loureiro, mas também Arinto e Trajadura.
Câvado
Do Gerês até ao mar, alarga-se por toda a bacia dos rios Cávado e Homem, integrando os concelhos de Esposende, Barcelos, Braga, Vila Verde, Amares e Terras de Bouro. Com forte influência marítima, clima ameno sem grandes amplitudes térmicas e boa pluviosidade onde predominam os solos graníticos. Reinam os brancos, com destaque para os Loureiros (quem não se lembra dos originais Solar das Bouças ou Quinta de Azevedo), a par de Arinto e Trajadura. Os tintos produzidos são na sua maioria lotes de Vinhão e Borraçal, de grande frescura e cor intensa.
Ave
Integra todo o vale do Ave, da nascente até à foz, abrangendo os concelhos de Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Fafe, Guimarães, Santo Tirso, Vila Nova de Famalicão, Trofa, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e grande parte do concelho de Vizela. Território acidentado, mas de baixa altitude e aberto aos ventos e nevoeiros marítimos, com baixas amplitudes térmicas e níveis médios de precipitação. Produz sobretudo brancos frescos, cítricos e florais, à base de Loureiro e Arinto, mas também com forte presença de Alvarinho (recente) e Trajadura.
Sousa
Integra os concelhos de Paços de Ferreira, Paredes, Lousada, Felgueiras, Penafiel e duas freguesias de Vizela. O clima é ameno, as amplitudes térmicas são baixas, com poucos dias de calor intenso, mas com pluviosidade abaixo da média da região. Mesmo sem exposição directa, a influência atlântica ainda se faz sentir. Predominam o Arinto, o Loureiro e a Trajadura, nas brancas, a par da tinta Espadeiro que é usada para vinhos rosados. Vinhão, Borraçal e Amaral estão na base dos tintos do Sousa.
Basto
Reúne os territórios dos concelhos de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Ribeira de Pena. É a sub-região mais interior dos Vinhos Verdes, encaixada nas encostas do Tâmega, entre as serras da Cabreira e do Marão. Protegida do Atlântico e a uma altitude média elevada, esta sub-região tem um clima mais agreste, com Invernos frios e chuvosos e Verões quentes e secos, propícios às castas de maturação tardia. É aqui que a Azal mostra maior potencial, originando brancos muito frescos com aromas de limão e maçã verde, enquanto os tintos se mostram mais elegantes e equilibrados.
Amarante
Integra os concelhos de Amarante e Marco de Canaveses. Com localização interior, as vinhas aproveitam as encostas do vale do Tâmega para se protegerem dos ventos e da influência atlântica. Limitada a Sul pelo Douro, sobe até aos contrafortes das serras do Marão e do Alvão, tendo por isso uma altitude média mais elevada, Verões mais quentes e maiores amplitudes térmicas. Com solos graníticos e condições propícias a castas de maturação mais prolongada, produz vinhos mais graduados, com destaque para os tintos de cor carregada à base de Vinhão, de grande fama e procura. Como castas principais, além da Vinhão, também se trabalham por ali as variedades Amaral e Espadeiro, enquanto nas brancas pontificam Azal e Avesso.
Baião
Dos contrafortes do Marão, a Leste, é atravessada pelo Douro e vai até às encostas de Serra de Montemuro. A par de Baião, integra na sua quase totalidade dois concelhos da margem Sul do Douro, Resende e Cinfães. Limita os Vinhos Verdes e faz a fronteira com a região demarcada do Douro, pelo que é popularmente referida como zona de transição. O tempo é mais quente e seco nos meses de Verão, com Invernos mais frios e menos chuvosos que permitem bom amadurecimento das uvas. Pátria por excelência do Avesso, nas brancas predomina também a Amaral, enquanto nas tintas se dá ali bem também a Amaral.
Paiva
Integralmente a Sul do Douro, abrande o concelho de Castelo de Paiva e duas freguesias de Cinfães. Precipitação e amplitudes térmicas médias, com temperaturas altas de Verão e moderada influência dos ares marítimos. Com localização interior e a uma altitude superior, as castas tintas Vinhão e Amaral têm condições de maturação ideais e produzem, por isso alguns dos tintos de maior prestígio da região. Os brancos são sobretudo de lote, onde o Avesso se junta às castas mais comuns dos Vinhos Verdes, como o Arinto, o Loureiro e a Trajadura.
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Sugestão Terroir
Conheça os mosteiros, conventos e palácios ligados à história dos Vinhos Verdes. Com a sua diversidade, cores vivas, gentes irrequietas, natureza pródiga e luxuriante, o Entre-Douro-e-Minho desde sempre cativou quantos percorriam os seus vales verdejantes.
“E o vinho sempre foi o fruto mais copioso desta fertilíssima província. Não somente é bastante para o sustento dos seus habitadores, mas ainda sobeja para socorrer outras províncias”, como registou em 1788 o memorialista Padre Agostinho Rebelo da Costa, que Gonçalo Maia Marques cita em Do vinho de Deus ao vinho dos Homens – O Vinho, os Mosteiros e o Entre Douro e Minho, a dissertação de doutoramento em História que apresentou em 2011 na Universidade do Porto.
Decisivos na implantação da cultura do vinho na região, muitos dos seus mosteiros estão hoje recuperados e abertos aos visitantes. Também os muitos palácios, solares e centenárias casas senhoriais estão ainda hoje ligadas à produção de Vinhos Verdes, promovendo visitas e provas que ajudam a explicar e conhecer a rica e peculiar história dos vinhos da região.
A própria CVRVV sugere, no seu site, algumas rotas de enoturismo que passam por esse património – a Rota dos Vinhos Verdes já reúne 32 produtores aderentes. Recomendamos a visita ao Solar das Bouças ou às quintas da Aveleda ou do Tamariz. Local distinto e privilegiado para contactar com vinhos da nova geração é a Quinta da Torre, propriedade do século XV com 50 hectares de vinha onde Anselmo Mendes criou um moderno espaço de enoturismo com provas didácticas sobre diferentes castas, terroirs e experiências de vinificação e com suites para alojamento.
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Dão
O gigante adormecido
O vinho do Dão era o vinho que os nossos avós bebiam, que há duas gerações chegava a todas as mesas de Portugal. Esse vinho era elegante, fresco e, sabemos hoje, longevo. Há quem diga que o Dão é o nosso gigante adormecido, depois de nos anos 1960 e 1970 a região ter apostado no volume em detrimento da qualidade. Boas notícias: a região que muitos comparam, pelo seu perfil de vinhos, à prestigiada região francesa da Borgonha está a acordar, para reclamar a glória de outros tempos com um trabalho moderno, seja na vinha, seja nas adegas.
Nos solos graníticos da região, produzem-se vinhos com corpo, mas menos intensos do que noutras regiões, e com uma acidez natural que os torna frescos, mais leves do que muitos. Tintos e brancos (mas sobretudo, e historicamente falando, tintos), os vinhos do Dão são sinónimo de blend, vinhas velhas e muitas outras castas para além de Touriga Nacional e Encruzado – que, já agora, não são as variedades mais plantadas, nem de perto nem de longe na região.
No Dão, que é região demarcada desde 1908, a vinha está sempre atrás dos pinheiros. Escondida. É preciso andar entre concelhos, por estradas secundárias, para a percebermos na paisagem, que também se faz de olival. Para percebermos a vinha que é hoje explorada, mas também para descortinarmos aquela que ali já existiu, percebe-se pelos bravos que teimam em rebentar e pelos muros de outros tempos.
Em 2022, o Dão foi a região vitivinícola portuguesa que mais cresceu nas exportações em valor, quase 20%, o que é impressionante.
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Berço da Touriga Nacional e do Encruzado
Dimensão
O Dão conta 20.897 hectares de vinha aprovada para Denominação de Origem (DO) e Indicação Geográfica (IG). Vista das zonas limítrofes, percebe-se a orografia desta região atravessada pelos rios Dão, Mondego e Alva. Assemelha-se a um prato fundo em que as “bordas” são as serras, nomeadamente as imponentes Estrela e Caramulo. São sete as suas sub-regiões: Alva, Besteiros, Castendo, Serra da Estrela, Silgueiros, Terras de Azurara e Terras de Senhorim. Podemos arrumá-las em três terroirs realmente distintos: Gouveia e encosta da Serra da Estrela; Nelas; e Sátão e Penalva do Castelo. Zonas que, curiosamente, correspondem às três sub-regiões criadas nos anos 1960 – Central Norte, Central Sul e Periférica. Na sua tese de dissertação de mestrado, defendida no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, em 2008, o autor Carlos da Costa Silva faz a caracterização da Região Demarcada do Dão e olha para as suas sete sub-regiões. No seu trabalho, é possível ler que a maior área vinhateira se encontrava nas sub-regiões de Terras de Senhorim, Serra da Estrela, Silgueiros e Castendo – isso não terá mudado muito –, mas também que o agora mestre em Viticultura e Enologia não conseguiu “apurar quais os critérios que fundamentam tais delimitações e qual a finalidade” da implementação das actuais sub-regiões. Levantando o autor a hipótese de a razão se prender com um estudo levado a cabo no final dos anos 1950 “a propósito da rede de adegas regionais
Solos
Terrenos de baixa fertilidade, predominantemente graníticos com diversos afloramentos xistosos que surgem a Sul e a Poente da região. O desenho da paisagem vitícola é sobretudo uma manta de minifúndio, embora haja exceções à regra – no concelho de Nelas, encontramos a maior mancha contínua de vinha do Dão, com mais de 65 hectares.
Características edafoclimáticas
Na região há vinhas plantadas entre os 100 e os 700 metros de altitude, mas é entre os 300 e os 700 metros que encontramos a maioria das vinhas, protegidas da influência das massas húmidas do Litoral e dos agrestes ventos continentais por um conjunto de grandes serras – a Poente o Caramulo, a Sul a luxuriante Buçaco e a Serra do Açor, a Norte a Serra da Nave e a Leste a imponente Estrela.
O Dão tem um clima temperado, com Verões quentes e secos e com Invernos pluviosos e moderadamente frios. A elevada humidade convida ao aparecimento de algumas pragas da vinha, dificultando práticas de produção biológica, embora também as haja na região.
Para a frescura da região, contribuem os três rios que atravessam o maciço granítico, quase paralelamente: o Dão, o Mondego e o Alva.
Embora ninguém saiba com rigor hoje na região que fundamentos levaram à criação das actuais sete sub-regiões, Pedro Rodrigues, investigador do Instituto Politécnico de Viseu e do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, afiança que esses territórios são de facto diferentes: “os dados meteorológicos que temos disponíveis na nossa rede de estações mostram que, apesar da sua pequena dimensão, a região do Dão apresenta variabilidade climática que justificam as diferenças regionais na cronologia do desenvolvimento da videira e da maturação da uva
Brancos
Dão ainda é uma região sobretudo de tintos, mas onde sempre se fizeram e continuam a fazer excelentes vinhos brancos, que se caracterizam pela sua leveza e frescura, aroma suave e sabor frutado. A tradição na região segue a do Portugal vitivinícola: vinhos de blend. Isso acontece nos tintos e nos brancos, mas nos últimos anos há castas que, pelas suas qualidades, têm brilhado sobretudo a solo. Nos brancos, essa estrela é o Encruzado, que apesar do sucesso junto de crítica e consumidores em geral não corresponde a uma área de vinha significativa. Representa apenas 1,4% de todo o encepamento do Dão.
Os vinhos brancos históricos do Dão – os do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão são aqueles que nos calham chegar à boca com cinco, sete ou dez anos, mas já provámos referências mais antigas até, por exemplo da cooperativa de Penalva do Castelo – são do melhor que temos em Portugal, pelo que um enófilo exigente pode e deve comprar brancos do Dão para guardar, que isso no futuro só lhe vai dar muito prazer. Um grande branco do Dão não se deve beber com menos de cinco anos e já vai sendo tempo para inculcarmos essa ideia.
Apesar de os produtores terem vindo a plantar mais castas brancas, sempre que plantam vinha nova ou fazem uma reconversão (alinhados, de resto, com o que pedem as tendências mundiais de consumo), essas uvas só aparecem a partir do quinto lugar numa lista de 18 castas. As variedades brancas mais plantadas são a Malvasia Fina (3,7% da área total de vinha, brancos e tintos) e o Fernão Pires (2,8%, idem). O Bical, tão característico dos vinhos do Dão, surge em 11.º (1,7%), à frente do Encruzado.
Na região, garantem-nos que não há hoje produtor que plante castas brancas que não plante Encruzado, de forma que nos próximos anos a expressão dessa casta-rainha deverá crescer consideravelmente.
Sabia que…
…a casta Encruzado só foi descoberta nos anos 1960?
Foi Alberto Cardoso de Vilhena, o primeiro e único director do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão até à data, quem na década de 60 do século XX descobriu as qualidades fantásticas do Encruzado, uma variedade muito mineral e com uma estrutura que casa bem com qualquer prato gastronómico. Nos anos subsequentes foram feitos vários ensaios e depois o mercado foi abraçando aquela que é hoje uma das bandeiras da região.
Tintos
Quem pensa Dão pensa em grandes tintos, que é possível beber com prazer depois de dez, 20, 30 e mais anos de garrafa. Os tintos do passado eram efectivamente vinhos de guarda, percebe-se isso hoje ao abrir uma garrafa de um vinho dos anos 1980 e até mais antigos. Conservam juventude, sobretudo se os compararmos com vinhos da mesma idade de outras regiões. E uma das formas de reconhecermos um clássico tinto do Dão é quando, na boca, sentimos algo sedoso e aveludado.
Sem surpresa, as castas mais plantadas na região são tintas, essas variedades ocupam os primeiros quatro lugares e são: o Jaen (13,2% do encepamento), a Baga (11%), a Touriga Nacional (8,3%) e a Tinta Roriz (6,5%). Do 7.º ao 9º lugar na lista de variedades com expressão no encepamento da região, surgem depois a Trincadeira (2,7%), o Rufete (2,4%) e o Alfrocheiro (2,4%). Sendo esta última outro caso ‘estranho’: também associamos o Alfrocheiro aos tintos do Dão, está em muitos lotes (e na actualidade em alguns varietais também), mas no terreno não tem grande implantação. Na lista indicada pela Comissão Vitivinícola Regional do Dão, não se encontram listadas as castas com menos de 0,3% de expressão.
Outros vinhos
No Dão, já se produzem outras categorias com reconhecida qualidade e há espumantes, rosés e até colheitas tardias a arrecadar vários prémios.
Sabia que…
…no final do século XIX a casta-rainha do Dão era a Touriga Nacional?
Os primeiros registos conhecidos do encepamento na região são de 1865 e dão conta do domínio da casta que hoje muitos associam a outra região mas que nasceu, na verdade, no Dão. Depois da filoxera, os viticultores perceberam que a Touriga Nacional não se dava muito bem com o porta-enxerto americano, a variedade não produziria o que esperavam, pelo que acabaram por apostar noutras tintas. É por isso que até anos 1950 os vinhos do Dão não tinham muita Touriga Nacional. Só mais tarde a casta voltou a ter novamente
Certificação
Região demarcada desde 1908, o Dão compreende actualmente a DO Dão (esta produzida das sete sub-regiões do Dão) e a IG Terras do Dão. Inclui também a DO Terras de Lafões, que corresponde a uma sub-região, com o mesmo nome, autónoma mas que depende da CVR do Dão em termos de certificação. Em 2022, a CVR do Dão certificou 14,7 milhões de litros de vinho com DO e 2,3 milhões de litros de vinho com IG, num total de quase 17 milhões de litros.
Produtores engarrafadores
O Dão conta com 217 agentes económicos – quatro são adegas cooperativas (na região já existiram 11 cooperativas) – e 2251 viticultores. Em 2022, a região exportou para 80 países e facturou lá fora 24,5 milhões de euros (uma subida de 18,2% em valor, face a 2021). Em volume, as exportações subiram mas menos: 1,3%.
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Sugestão Terroir
O Dão tem uma aplicação móvel que lhe permite preparar a sua visita à região. A app Dão Rota dos Vinhos está disponível para Android e IOS (download no Google Play e App Store, respectivamente) e dá a conhecer, em poucos cliques, produtores, a oferta de enoturismo e outros espaços que tratam bem o vinho da região, como garrafeiras e restaurantes. A navegação faz-se por Experiências, Quintas, Pontos de Interesse – quase 70, entre museus, parques e reservas naturais, termas, artesanato e muito mais – , Roteiros, Notícias e Eventos. E são sugeridos roteiros específicos, por determinados pontos de interesse e por terroirs distintos.
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Entre as serras, sete sub-regiões
Terras de Lafões
É uma sub-região à parte e uma Denominação de Origem, cuja certificação cabe à CVR do Dão. Pode parecer confuso, mas Lafões é a vizinha do Dão, que apenas é gerida pela entidade que certifica os vinhos do Dão. Quase como Carcavelos ou Colares, regiões demarcadas históricas e antiquíssimas, serem hoje geridas pela CVR de Lisboa.
A região é tradicionalmente associada aos Vinhos Verdes, por causa do perfil dos seus vinhos, sobretudo os brancos mas também os tintos, por sua vez resultado de solos húmidos e férteis, a lembrar precisamente o Minho – muito embora os brancos de Lafões sejam mais complexos do que os brancos mais lineares dos Vinhos Verdes. Mas também por utilizar o mesmo sistema de condução da vinha, em latada (ou ramada) e nas bordaduras. E por causa dos seus solos graníticos.
Tem o coração em Vouzela e goza de condições edafoclimáticas únicas, que se devem principalmente a um anfiteatro natural voltado para o Atlântico. Protegida pela Serra do Caramulo e pelo Maciço da Gralheira, tem no rio Vouga uma porta aberta até ao Atlântico.
Há mais calor em Lafões do que na vizinha região demarcada dos Vinhos Verdes, a que tanto é associado este território do Dão. Apesar disso, há muita frescura e humidade neste vale encantado mesmo em cima do Vouga – a que os locais chamam “penico de S. Pedro”.
A amplitude térmica é menor e os seus vinhos denotam uma predominância salínica explicada pelos ventos atlânticos, sem deixarem de ser de altitude. Enfim, uma combinação invulgar em Portugal, num território que já produziu belíssimos brancos (longevos, muito longevos, diz quem teve a felicidade de os provar) mas está hoje sub-valorizada, com poucos agentes económicos.
A DO Terras de Lafões não autoriza a produção de vinhos varietais, apenas de lote. As castas brancas são o Arinto, o Cerceal, a Dona Branca (que não é a Dona Branda do Dão, atenção) e a Rabo de Ovelha e vinhos brancos com DO têm obrigatoriamente de ter as duas primeiras. Os tintos com DO têm de ter 85% de Amaral, uma das castas progenitoras da Touriga Nacional e uma casta típica de Lafões e dos Verdes da margem Sul do Douro – lá também lhe chama Azal tinto. Que conseguíssemos apurar, não há já quem faça tintos com DO em Lafões, onde os produtores engarrafadores se contam pelos dedos de uma mão.
Para além de Vouzela, Lafões abarca também S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades (Viseu).
Castendo
De Castendo chegam-nos vinhos requintados, frescos, já de montanha. É raro alguém no Dão nos encaminhar para Castendo. O mais habitual é falarem nos vinhos de Penalva do Castelo e Sátão. Castendo é o nome antigo da povoação que deu origem à freguesia de Penalva do Castelo, sede do concelho com o mesmo nome. E na origem do topónimo Penalva, em tempos idos Pena Alva, está uma antiga fortaleza (entretanto desaparecida) na margem direita do Alva.
A sub-região abarca então todo o concelho de Penalva do Castelo e duas freguesias de Sátão, ficando mesmo colada ao rio Dão. Tem um clima continental e com menos pluviosidade do que outros terroirs do Dão, com amplitudes térmicas muito grandes e um ciclo da videira que tende a ser longo do que em Silgueiros e Besteiros, por exemplo. A orografia é um tanto ou quanto acidentada (com declives de vinha maiores, como na zona de Gouveia, por exemplo, na sub-região da Serra da Estrela) e solos marcados, por um lado, por dois afloramentos rochosos – granito de Cavernães e granito de Farminhão-São João de Lourosa – que a atravessam, por outro, pela existência de alguma argila.
É aqui que fica uma das quatro cooperativas sobreviventes no Dão: Penalva do Castelo. As vinhas estão situadas a uma altitude que anda entre os 300 e os 600 metros de altitude.
Terras de Azurara
Terras de Azurara circunscreve-se ao concelho de Mangualde, onde sobrevive outra das 11 cooperativas que o Dão teve outrora, a Adega Cooperativa de Mangualde. A sub-região é uma espécie de enclave de sub-regiões, fica entre Silgueiros, Castendo, Serra da Estrela – com a serra faz fronteira no rio Mondego – e Terras Senhorim, e tem um pouco de todas. Fica na zona mais central e economicamente mais dinâmica da região. Os seus vinhos têm concentração e frescura. As vinhas conseguem estar a uma altitude mais elevada do que muitas da sub-região da Estrela. Vinhas a 500 ou a 550 metros de altitude, que conferem maior frescura aos vinhos e fazem a diferença sobretudo nos tintos, sejam eles de castas mais frescas como o Jaen ou o Alfrocheiro, sejam de Touriga Nacional, muito concentrados estes mas frescos também. Embora, no geral, haja plantação de vinha entre os 300 e os 700 metros.
Serra da Estrela
É na encosta da Serra da Estrela que existe a maior mancha de Vinhas Velhas, a que cada vez mais empresas estão a dar valor. Nessas videiras antigas há 40 e tal castas, com as quais alguns produtores e enólogos têm experimentado. Raridades como o Barcelo ou a Uva-Cão. Costuma dizer-se que o medo guarda a vinha, mas no Dão era mais a Uva-Cão, que, colocada nos limites da propriedade, afastava passantes mais atrevidos, de tão ácida é a sua uva.
A serra mais alta de Portugal oferece outro argumento: altitude e frescura, que origem vinhos com leveza e brilho. A sub-região tem a altitude média mais alta do que todo o Dão, a vinha em produção mais alta de que nos dão conta na região fica a 650 metros de altitude, em Freixo da Serra, Gouveia. Não falta água, como já vai acontecendo no verão noutras sub-regiões.
A sub-região mais fria do Dão abarca várias freguesias dos concelhos de Gouveia e Seia, e a parte da serra que é Dão está virada a Norte, fazendo fronteira com a Beira Interior na aldeia da Carrapichana (Celorico da Beira). É neste território que fica a Adega Cooperativa de Vila Nova de Tázem.
Terras de Senhorim
É o Dão clássico e senhorial e, como nota Macena, berço, “desde há muito, de vinhos encorpados e com taninos firmes e elegância”. A sub-região abarca os concelhos de Carregal do Sal e Nelas. É, com Silgueiros e Terras de Azurara, o coração do Dão. A uma altitude média quase de planalto, encaixada entre os rios Mondego e Dão, é a sub-região que concentra mais área de vinha e mais agentes económicos. O que terá as suas razões históricas, por sua vez ligadas à questão prática da localização geográfica e do acesso: aqui, as casas ficavam próximo de Mangualde, de Penalva do Castelo, de Viseu e até da Serra da Estrela. Em Nelas também têm origem os vinhos mais encorpados e robustos do Dão.
É em Terras de Senhorim que fica Santar, vila histórica, desde sempre ligada à cultura vinhateira e que tem hoje uma renovada dinâmica com forte aposta no enoturismo. Em Nelas tem também morada o CEVD, um dos mais antigos e notáveis centro de estudos vitivinícolas nacionais, a cujo trabalho se deve, entre outras coisas, o reconhecimento do Dão enquanto berço da Touriga Nacional e, como já vimos, do Encruzado.
Silgueiros
Apesar de estar implantada em território do concelho de Viseu (nos arredores de Viseu, virada para o Dão), nomeadamente na freguesia de Silgueiros, que lhe dá nome, esta é a sub-região que anda ali à volta de Nelas e uma zona das zonas mais quentes do Dão, onde os humores do clima se fazem sentir mais e onde nos últimos anos já tem faltado água em algumas quintas. É em Silgueiros que estão localizadas as vinhas de várias das grandes empresas a operar na região e onde fica outra cooperativa, a Adega Cooperativa de Silgueiros. Em Viseu, fica a sede da CVR do Dão.
Tiago Macena, que também é um estudioso – e não só, o enólogo está a fazer o programa Master of Wine –, foi uma ajuda preciosa nesta nossa caracterização das sub-regiões do Dão. Diz-nos ele que Silgueiros (a par da Serra da Estrela) é um terroir que se distingue bem no copo. A Touriga Nacional, por exemplo, desta sub-região “é mais bergamota do que fruta madura” e dá origem a “vinhos mais robustos”, mas de uma elegância assinalável. Nas Tourigas da Dona Sancha, nesta sub-região, Paulo Nunes, responsável pela enologia do projecto, sente mais a fruta madura, mas quanto ao resto alinha com Macena: “As Tourigas que temos aqui são naturalmente mais concentradas. E, em prova cega, concordo: eu consigo distinguir uma Touriga de Silgueiros e uma Touriga da Serra da Estrela, que são os dois antípodas da região do Dão. Tudo o resto vive no meio destes dois universos”.
Besteiros
Em Besteiros a palavra-chave é frescura. É uma sub-região com mais humidade e pluviosidade que as demais, que abarca os concelhos de Mortágua e Santa Comba Dão e várias freguesias do município de Tondela – que, de resto, emprestam o nome Besteiros a esta sub-região. Continuamos no Sul do Dão e dentro da mesma sub-região temos solos completamente distintos, quer estejamos a falar de Mortágua – onde há argila e xisto, o mesmo xisto de Alva –, quer estejamos a falar da zona de Besteiros propriamente dita, em Tondela. Todo o sopé da Serra de Caramulo, ali em Tondela, é uma zona com potencial para produzir vinhos brancos de grande frescura. Historicamente, também ali se produzem tintos, mas não é à toa que o festival de vinhos local se chama Tondela Brancos Dão.
Um potencial que alguns acreditam estará reduzido depois da construção da barragem da Aguieira, uma das mais altas de Portugal, cuja albufeira – uma das duas grandes massas de água na região, a par da albufeira da barragem de Fagilde – origina com frequência neblinas matinais, que ali se dispensavam. Tondela e Santa Comba Dão são duas das cooperativas que ficaram lá atrás na História. A primeira tinha a maior capacidade de armazenamento da região.
Segundo escreve na sua tese de mestrado Caraterísticas físico-químicas dos vinhos tintos provenientes das sub-regiões da Região Demarcada do Dão a autora Sara Almeida (Universidade de Aveiro, 2017), é na sub-região de Besteiros, no concelho de Mortágua, que fica “a cota mínima na região”: “100 metros”.
Alva
Abarca os concelhos de Arganil, Tábua e Oliveira do Hospital. Fica a Sul / Sudoeste da região, que aqui é limitada pela Serra do Açor. A sub-região do Alva tem menos produtores, menos histórico e, continuando em altitude (mas mais cá para baixo, em Alva a altitude média é inferior aos 300 metros), algum xisto. O mesmo xisto que encontramos em Besteiros e que em Alva é sinónimo de mineralidade e crocância, quer nos tintos, quer nos brancos.
Como nos explica o enólogo e produtor Tiago Macena: “quando dizemos que o Dão é granito, é genericamente falando. Também há xisto”. Xisto esse que sendo escuro absorve o calor durante o dia para depois o libertar à noite, induzindo uma maior concentração nas uvas. “São autênticas baterias térmicas, que libertam calor de noite”, diz-nos outro enólogo, Paulo Nunes.
Segundo o estudo que os investigadores Pedro Rodrigues e Vanda Pedroso têm vindo a fazer nos últimos anos, com instalação de estações meteorológicas nos limites de várias sub-regiões, Alva e Silgueiros são actualmente as mais quentes do Dão, apresentando diferenças significativas na maturação das castas, que acontece mais cedo (até dez dias mais cedo em alguns casos) nestes terroirs do que em sub-regiões mais frias, como Castendo ou Serra da Estrela.
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Lisboa
História e revolução
Lisboa é uma das regiões vitícolas mais difíceis de resumir. Em 150 quilómetros de costa atlântica (de Carcavelos a Leiria) e 40 quilómetros entre o litoral e Ourém, no interior da região, estão instaladas nove Denominações de Origens (DO), responsáveis por uma heterogeneidade de castas, cultura de vinha e vinhos que impressiona. A região de Lisboa tem muita história, mas, nos últimos anos, foi varrida por uma revolução na vinha e na adega.
Apesar de produzir muito mais vinho tinto, a região afirma-se através de vinhos brancos frescos e salinos, marcados por um terroir atlântico.
Dizer isso é, todavia, curto quando, neste território, temos Arintos de Bucelas, Carcavelos, os geniais Colares (regiões demarcadas no tempo da monarquia), as aguardentes da Lourinhã, o inusitado Medieval de Ourém, vinhos leves vendidos aos milhões,
os renascidos brancos de Vital e, nos últimos tempos, tintos também eles mais frescos e nascidos de lotes com castas regionais, nacionais e internacionais.
Esta diversidade de vinhos tem origem em diferentes períodos históricos (em particular a partir da instalação da ordem de Cister em Alcobaça), mas também, na orografia, nas condições edafoclimáticas e, acima de tudo, na capacidade e na rapidez que as pequenas e grandes casas tiveram para se adaptar às necessidades alimentares do país. Sim, o facto de a chamada região Oeste ser o celeiro da nação impôs grande dinamismo nas casas de vinho.
E, hoje, a região está numa fase de grande modernização (com performances tremendas nos crescimentos dos seus vinhos lá fora e cá dentro) mas, também com a preocupação – em particular nos projectos mais jovens –de recuperar uma identidade a partir de castas regionais (Vital, sim, mas também Castelão, Fernão Pires, Jampal, Tinta Miúda e, obviamente, o nativo Arinto). A região de Lisboa está bem e recomenda-se.
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Vinhos bafejados por um terroir atlântico
Dimensão
A região tem cerca de 10.000 hectares de vinha. Com uma replantação de cerca de 50% dos seus vinhedos na última década e com uma vocação fortemente exportadora, Lisboa tem nos seus vinhedos as grandes castas nacionais e estrangeiras, além de castas regionais.
Solos
Para uma região geograficamente vasta é evidente que estamos perante solos (e microclimas) diferenciados. Das areias de Colares ao calcário intenso de Bucelas, passado por argilocalcários com pH alcalinos, há de tudo no que diz respeito aos solos na região de Lisboa.
Características edafoclimáticas
Como a região vai do mar às serras, encontramos em Lisboa diferentes microclimas, com influências distintas. Os ventos que podem trazer o rocio – brisa carregada de salinidade – são os mesmos que, a partir do meio-dia, secam a humidade nas vinhas.
As serras, o ondulado do terreno – coisa que dá origem a paisagens fantásticas – e as suas diferentes exposições fazem o resto.
Brancos
Nos trabalhos de preparação para o livro A Alma dos Vinhos de Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), perguntou-se aos produtores quais eram as suas castas preferidas. Eis o resultado no que às uvas brancas diz respeito: Arinto (75%), Fernão Pires (50%), Chardonnay (20%), Moscatel Graúdo (15%), Galego Dourado (7%) e Sauvignon Blanc (6%).
Um vinho de Bucelas (Arinto) é algo que só se devia beber dois anos após a colheita e não deve haver medo em abrir garrafas com cinco, sete ou dez anos de vida. Um branco de Fernão Pires está sempre marcado pelas notas florais. O Viosinho do Douro sente-se muito bem com as brisas marinhas, assim como um rol de castas estrangeiras que não apenas o Chardonnay ou Sauvignon Blanc. Até o Riesling gosta das colinas do Oeste. Os vinhos de Vital vão continuar a crescer.
Tintos
À medida que a influência atlântica se esbate e passamos para um registo mais continental, ali para os lados de Arruda dos Vinhos ou Alenquer, encontramos os solos para tintos que, hoje, recebem Touriga Nacional, Aragonês, Syrah, Alicante Bouschet e Castelão. São vinhos com perfil contemporâneo, que tanto agradam um consumidor português como um canadiano, polaco ou chinês. Nota-se uma preocupação dos produtores para o lançamento de tintos mais frescos e com madeira moderada. Claro que, para enófilos treinados, os Ramiscos, no tempo certo, são outro campeonato.
O Ramisco é variedade que, curiosamente, não surge nas respostas dos produtores sobre as suas castas preferidas ao inquérito para o livro publicado pela CVR Lisboa: Touriga Nacional (66%), Castelão (40 %), Aragonês (30%), Syrah (25%), Alicante Bouschet (17%) e Pinot Noir (13%).
Outros vinhos
No caso de Lisboa, “os outros” são vários. Comecemos pelas aguardentes. Só existem três regiões no mundo com denominação de origem para a produção de aguardentes vínicas. E uma delas é a Lourinhã. A vida não esteve nem está fácil para o mundo dos espirituosos, mas a Adega Cooperativa da Lourinhã tem vindo a posicionar os seus produtos com estágio longo em castanho e carvalho num patamar premium.
Depois temos o Medieval de Ourém. Trata-se de um palhete raro e inusitado da sub-região de Ourém (DO Encostas d’Aire), e que, quando bem feito, tem um potencial gastronómico interessante. É obrigatoriamente um vinho de lote, com 80% da casta Fernão Pires e 20% da casta Trincadeira.
Isolamos também o vinho leve, por ser quase uma categoria à parte. Se os consumidores exigentes olham para este perfil de vinho com desdém, a verdade é que ele é vendido aos milhões, cá dentro e lá fora. Frutado, com pouco álcool e algum gás, foi, noutros tempos, uma solução inteligente para resolver problemas de maturação das uvas.
Finalmente, de uma das mais pequenas regiões demarcadas do mundo sai o Carcavelos, um vinho fortificado que quase se extinguia com a pressão urbanística, mas que, primeiro com a visão de Isaltino Morais (na Câmara Municipal de Oeiras) e, mais tarde, de Carlos Carreiras (Cascais) inverteu o declínio. Hoje, da adega Casal da Manteiga (Oeiras), saem vinhos notáveis pela finura e pelo equilíbrio. E há novos investimentos em vinha nesta micro-região.
Certificação
Cabe à CVR Lisboa certificar os vinhos com DO e com Indicação Geográfica (IG) Lisboa. São nove as DO em que a região se divide, duas delas abrangem o território de duas sub-regiões: Colares, Carcavelos, Bucelas, Torres Vedras, Arruda, Óbidos, Alenquer, Lourinhã e Encostas d’Aire (esta nas sub-regiões de Alcobaça e Ourém). Na Lisbon Wine Shop, espaço da responsabilidade da CVR Lisboa no Mercado da Ribeira, é possível comprar e provar vários vinhos da região.
Produtores engarrafadores
Trabalham os 10.000 hectares de vinha da região 2000 viticultores e 120 produtores engarrafadores. No ano vitícola de 2022/2023, Lisboa produziu quase 1,2 milhões de hectolitros. Caso raro, 80% da produção destes agentes económicos destina-se à exportação. EUA, Brasil e Canadá são os mercados terceiros mais importantes. Na União Europeia, a Alemanha, a Polónia e os países escandinavos são os destinos preferidos.
Sabia que…
…em tempos idos os cestos de vime salvavam vidas nas vinhas de Colares?
O que encanta em Colares não é apenas a personalidade dos seus vinhos longevos, mas a própria cultura primitiva da vinha, que outrora ficou incólume à desgraça da filoxera. E para se plantar uma videira em chão de areia há que cavar fundo até se encontrar a argila onde plantar a videira em pé franco. Ora, como o solo duro estava longe, em tempos idos, faziam-se covas enormes. E, como não é fácil escorar a areia, os acidentes mortais aconteciam, quando os desabamentos silenciosos engoliam os trabalhadores. Foi então que alguém teve aquela ideia que salvou vidas: os homens passaram a cavar com um cesto de vime enfiado na cabeça. Cesto este que, em caso de desabamento da areia, criava uma caixa de ar suficiente para o trabalhador permanecer vivo até que os colegas dessem pelo acidente e o resgatassem.
Nove Denominações de Origem
Colares
Com as castas Malvasia e Ramisco produzem-se, a partir de um sistema de vinhas tão primitivo quanto romântico, vinhos que vivem durante décadas em garrafa. São os vinhos mais salinos do país e são vinhos de desejo para qualquer enófilo educado.
Carcavelos
A diferença entre este vinho fortificado e o Porto ou Moscatel é a finura de aromas e delicadeza de boca, sempre com sensações menos doces. Numa noite de verão, um copo de carcavelos e um charuto (para os apreciadores, claro está) é mais ou menos a ideia de paraíso.
Bucelas
A casta Arinto está espalhada por todo o país e, aos poucos, começa a ser considerada pelos nossos enólogos como a grande casta branca nacional, capaz de fazer todo o tipo de vinhos. Acontece que é, em Bucelas, pela diversidade varietal, pelos solos calcários e pelo clima que os vinhos de Arinto atingem a máxima qualidade. O Arinto de Bucelas tem até um clube, criado por pequenos produtores daquele terroir para fazer a promoção conjunta dos seus Arintos. Convém provar e confirmar.
Torres Vedras
Esta região sempre teve fama histórica pelos seus vinhos brancos e, hoje, são estes que continuam a dar que falar. Porquê? Porque há actualmente uma boa selecção de castas (destaque para o Viosinho), porque há uma boa condução das vinhas e porque o clima marítimo oferece maturações tranquilas.
Arruda
A Norte da região de Bucelas encontramos um território em altitude que tira partido de temperaturas e humidades diferenciadas e ventos provenientes de todas as direcções. As uvas deste terroir são cobiçadas por produtores de outras regiões próximas, pelo facto de originarem tintos ricos e estruturados.
Óbidos
Já houve um tempo em que beber um vinho de Óbidos era sinónimo de dia de festa (então se fosse um Gaeiras...). Para efeitos de certificação, a área que apanha os concelhos de Óbidos, Bombarral e Caldas da Rainha ronda os 200 hectares, mas a diversidade é considerável. Tanto temos grandes vinhos de Vital, como brancos com castas estrangeiros. Tanto podemos provar tintos mais abertos como tintos mais encorpados. Já para não falar dos vinhos leves.
Alenquer
Por alguma razão, existem por aqui quintas com muita história na produção de vinho, com maior destaque para os tintos, mais concentrados. Se há uma imagem orográfica de marca da região de Lisboa, ela é o ondulado dos terrenos, coisa que se nota neste território que se junta à serra de Montejunto – é mesmo um mar de grandes vagas de vinha. No centro de Alenquer podemos passear por uma vasta colecção de castas regionais nacionais.
Lourinhã
A nossa grande região demarcada de aguardente não caiu do céu. As evidências de que nesta região havia condições técnicas e muito saber na matéria datam ainda do tempo do Estado Novo (1970), quando vários investigadores andaram às voltas com castas, mostos pouco alcoólicos, fermentações, métodos de destilação e tempos de estágio em madeiras diferenciadas. Tudo para que, em 1992, a Lourinhã fosse reconhecida como a terceira região demarcada de aguardente vínica no mundo.
Encostas d’Aire
Embora dificilmente se encontre alguém que diga que lhe apetece um vinho das Encostas d’Aire (é a DO mais a Norte da região de Lisboa e com as sub-regiões de Alcobaça e Ourém), a realidade é que foi em Alcobaça e redondezas que os monges cistercienses começaram a aplicar os seus conhecimentos em matéria agrícola. É de castas como Fernão Pires, Trincadeira (usada para o Medieval de Ourém) e Baga (mais usada na Bairrada) que se fazem os vinhos deste território.
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Trás-os-Montes
O paraíso das vinhas velhas
Num mundo ideal, a região vitivinícola de Trás-os-Montes deveria ser reconhecida como o paraíso dos amantes de vinhos de vinhas velhas. Se Portugal se prepara para, em breve, apresentar provas de que é o país com mais castas autóctones na Europa, isso deve-se em muito ao património que ainda se mantém no Nordeste de Portugal, onde encontrar uma vinha centenária é tão simples como encontrar um olival superintensivo em Ferreira do Alentejo. E vinhas que podem ir dos dez aos 200 anos.
Os transmontanos são portugueses peculiares (para o bem e para o mal). Quando plantam uma vinha, um olival ou um souto de castanheiros, não estão a pensar em si, mas nos filhos, nos netos ou nos bisnetos. E os descendentes, que respeitam as tradições, não gostam de arrancar nada que tenha sido plantado pelos pais, pelos avós e pelos bisavós. Apesar dos VITIS (os incentivos à reestruturação e reconversão de vinhas) destas vidas, afeiçoam-se aos legados familiares.
No Planalto Mirandês, em Valpaços ou em Chaves podemos ver vinhas que nos comovem pela idade, pela beleza selvagem, pelos sistemas de condução e pela dedicação dos seus proprietários. Sim, são menos produtivas e um problema de costas para os donos, mas dão vinhos com identidade e, melhor ainda, bem adequados às tendências. No dia em que um enólogo ou produtor estrangeiro, badalado e amante de vinhas velhas decidir fazer uma adega de raiz nesta região, os vinhos de Trás-os-Montes vão dar cartas cá dentro e lá fora.
Durante a apresentação da loja de vinhos espanhola La Vinia, em Lisboa, no início de 2023, o enólogo Telmo Rodriguez abrilhantou a noite com grandes tintos da região de Valdeorras, que fica na Galiza as uns 120 quilómetros de Chaves. E por que razão eram grandes tintos? Porque tinham o espírito do lugar e uma elegância impressionante. Detalhe, são feitos com algumas castas que também crescem em Trás-os-Montes. Isso devia fazer pensar os produtores transmontanos, em particular aqueles que, indevidamente (não são todos, obviamente), olham para o Douro como modelo.
Não todos, é claro. Trás-os-Montes é, de resto, uma de quatro regiões vitivinícolas portuguesas que estão a estudar 13 castas minoritárias (sem campo de multiplicação, em Portugal são cerca de 70) nesse tesouro que são as vinhas velhas. O projecto (More Colab e Politécnico de Bragança) envolve precisamente pequenos e médios produtores que ainda preservam e exploram vinhas velhas.
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Vinhas de altitude e castas caras
Dimensão
A região vitivinícola de Trás-os-Montes tem uma área de vinha registada de 11.000 hectares. São três as suas sub-regiões: Valpaços (6000 hectares), Planalto Mirandês (3000 hectares) e Chaves (2000 hectares).
Solos
Os solos são ora graníticos ora xistosos e, para além da vinha, nutrem uma tremenda riqueza florística. Em média, as vinhas estão plantadas entre os 400 e os 800 metros de altitude, sendo que há um operador em Montalegre (vinhos Montalegre) que, na Serra do Larouro, tem uma das vinhas mais altas do país, a 1070 metros acima do nível do mar. Estamos perante um caso clássico de viticultura de montanha.
Características edafoclimáticas
Entre o Planalto Mirandês e Chaves há rios, cadeias montanhosas, vales, solos variados, temperaturas médias e amplitudes térmicas consideráveis que contribuem para a diferenciação de perfis dos vinhos de Trás-os-Montes. Em tese, os vinhos da sub-região de Chaves serão mais frescos do que os de Valpaços ou os do Planalto, mas, como de costume, a interpretação dos enólogos perante as vinhas pode baralhar a tese. E baralha mesmo.
As amplitudes térmicas são consideráveis (entre – 10º e 40º). E, atendendo à altitude e às temperaturas, a região tem condições perfeitas para a produção de vinhos biológicos. E já tem 1200 hectares em modo de produção biológico.
Brancos
Apesar de ser nos tintos que encontramos uma matriz diferenciadora dos vinhos de Trás-os-Montes, destaque para produtores que exploram as castas brancas Códega do Larinho ou Godelho (ou Gouveio), duas variedades responsáveis por vinhos com personalidade e capacidade de evolução.
Como se imagina, descobrir o que está nas vinhas velhas é quebra-cabeças, ainda por cima quando fazemos perguntas aos viticultores mais antigos, que avançam com nomes que nunca ouvimos. Seja como for, para brancos com Denominação de Origem, para além da Códega e da Godelho, as castas mais importantes são: Bastardo Branco, Bical, Donzelinho Branco, Fernão Pires, Rabigato e Samarrinho.
Tintos
Os tintos são bem distintos dos de outras regiões, sejam eles resultantes de vinhas velhas ou, em modo varietal, de castas como Tinta Amarela (Trincadeira no resto do país), Bastardo, Rufete ou Tinta Gorda.
A Tinta Gorda é, de resto, no Planalto Mirandês, uma casta que, bem tratada, dá vinhos muito adequados às tendências recentes. Vinhos abertos de cor, frescos, nada extraídos e nada alcoólicos e que grande sucesso fazem do outro lado da fronteira (na Galiza ou na continuação do Douro). Pena é que só exista um produtor a explorar a casta em modo varietal. Talvez seja uma questão de tempo até que outras percebam o potencial da casta.
Cornifesto, Malvasia Preta, Marufo e Tinta Carvalha são outras variedades tintas importantes na região.
Na prática, alguns produtores, atraídos pelo sucesso do Douro e da região dos Vinhos Verdes, plantaram as tourigas da praxe – nas castas brancas, essa influência está patente nas vinhas de Viosinho, Alvarinho e outras.
Outros vinhos
Em Trás-os-Montes, produzem-se também rosados e alguns espumantes – bons, por sinal –, mas o vinho que valerá a pena destacar neste capítulo é o vinho de lagar rupestre, feito como no tempo dos os romanos, em lagares escavados por estes na rocha, mas com regras específicas: uvas de vinhas velhas, lagares identificados e higienizados e final da fermentação e estágio em barricas usadas.
A Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes e a Câmara Municipal de Valpaços têm feito um trabalho notável na recuperação desta cultura milenar. Os lagares rupestres são um mistério, um desafio à imaginação dos enófilos urbanos e um trunfo curioso da região.
Já são 120 os lagares rupestres identificados no concelho de Valpados e mais de 40 os que foram identificados em Montalegre, por outra equipa. Serão muitos mais, a julgar pela frequência com que as arqueólogas vão descobrindo novos exemplares.
Tecnicamente são blocos de granito escavados que se transformam em lagares de fermentação. Os romanos esmagavam as uvas no campo – junto às videiras e os lagares, pelo menos os mais avançados para a época, acreditam os técnicos que os estudam, teriam uma adega montada junto ao lagar, uma estrutura rudimentar que tudo indica seria em madeira.
Andar pelos vales trasmontanos, entre montanhas de pedras, tojos, carvalhos e oliveiras e descobrir equipamentos destes pode causar emoção aos mais sensíveis. E, em breve, isso será possível com um simples telefone e Internet, já que Valpaços tem um projecto para criar uma rota que passará por dez lagares rupestres.
Certificação
Em Trás-os-Montes, encontramos a Denominação de Origem (DO) Trás-os-Montes com as suas sub-regiões Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês. O vinho com Indicação Geográfica (IG) Transmontano produz-se em toda a região. Entre vinhos com DO e vinho regional, a CVR de Trás-os-Montes certifica cerca de 3 milhões de garrafas por ano (70% tinto e 30% branco), sendo que o número de amostras submetidas pelos produtores a certificação tem vindo a aumentar de ano para ano. Cerca de 17% do vinho certificado destina-se à exportação.
Produtores engarrafadores
Repartidos por 3000 viticultores e 85 produtores engarrafadores, sendo que todos os anos entram novos players na lista de produtores. Desses agentes económicos, três são adegas cooperativas: Valpaços, Ribadouro e Sendim, no Planalto Mirandês, e Ribeira de Oura (Vidago) – a de Chaves faliu. O rendimento médio por hectare na região andará, para vinhos com denominação de origem, nos 5500 litros.
Sabia que…
…em Trás-os-Montes ainda há vinhas plantadas no século XIX?
Há vinhas tão velhas na região que quando queremos saber a idade certa delas é um sarilho, porque é preciso fazer perguntas a pais, avós e bisavós. Certo é que algumas terão sido plantadas no final do século XIX. Em termos médios, é aqui que encontramos as vinhas mais velhas do país, em sistema de vaso (ou cabeça de sagueiro). E mais: na região, há registo (e estudo) de vinhas pré-filoxera.
Dos solos graníticos de Chaves ao xisto do Planalto Mirandês
Sub-região de Chaves
É a sub-região mais pequena em área, a mais fresca (com amplitudes térmicas consideráveis) e aquela que mais explora os solos graníticos. Há vinhas a 400 e outras a 800 metros de atitude. Em consequência, temos vinhos com mais acidez e mineralidade.
Sub-região de Valpaços
Sendo a maior área de vinha, tanto apanha a Terra Quente (onde, tome nota, em 2023 nasceu uma rota turística com o mesmo nome, abrangendo o território de quatro concelhos) como zonas de transição e uma zona já em território mais montanhoso (650 metros). As próprias vindimas na Adega Cooperativa de Valpaços são marcadas em função deste zonamento. Na primeiro, temos terrenos com mais xisto (vinhos com mais estrutura), no último, terrenos com mais granito (taninos mais frescos).
Sub-região do Planalto Mirandês
Se em todas as sub-regiões há vinhas velhas, é no Planalto Mirandês que o cenário espanta quer os velhos classificadores quer os especialistas na genética da vinha. A Tinta Gorda, por exemplo, quase só existe por aqui. Como a sub-região está a uma altitude generosa (800 metros) e recebe a influência de ventos frescos da Meseta Ibérica, as maturações são tardias, pelo podemos sentir aqui tintos com taninos mais vivos e, mesmo assim, gulosos.
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Sugestão Terroir
O vinho dos mortos é o vinho que os de Boticas enterravam no chão de saibro das adegas de outros tempos. A tradição remonta a 1808, quando as tropas do marechal Soult passaram por aquele território, cumprindo o plano de Napoleão de entrar em Portugal pelo Norte, e o povo escondeu, entre outros bens, o vinho. Os Sousa Pereira são hoje os únicos produtores a fazê-lo. E, por marcação, é possível visitar a sua adega, que está inscrita na rota de enoturismo de Trás-os-Montes. Fica mesmo no centro de Boticas e qualquer local saberá indicar-lhe o caminho.
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FICHA TÉCNICA
Coordenação: Ana Isabel Pereira Textos: Ana Isabel Pereira, António Mendes Nunes, Edgardo Pacheco e José Augusto Moreira Infografia: Cátia Mendonça e Gabriela Gómez Desenvolvimento web: Cátia Mendonça, Gabriela Gómez e Francisco Lopes Animação: Henrique Lourenço