Os vinhos com sentido de tempo e de lugar da Quinta de Santa Teresa

A Quinta de Santa Teresa é a jóia da coroa da A&D Wines, um projecto a dois feito de pragmatismo e ponderação. E de uma grande atenção à casta avesso e à procura da expressão mais pura do terroir.

Anna Costa - 11 de Agosto de 2022 - Baiao - Roteiro - Quinta de Santa Teresa
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Sala de provas da Quinta de Santa Teresa, Baião Anna Costa
Anna Costa - 11 de Agosto de 2022 - Baiao - Roteiro - Quinta de Santa Teresa
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Quinta de Santa Teresa, Baião Anna Costa
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Provas de vinhos na Quinta de Santa Teresa, Baião
Anna Costa - 11 de Agosto de 2022 - Baiao - Roteiro - Quinta de Santa Teresa
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Vinhas da Quinta de Santa Teresa, Baião Anna Costa
Anna Costa - 11 de Agosto de 2022 - Baiao - Roteiro - Quinta de Santa Teresa
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Quinta de Santa Teresa, Baião Anna Costa

A imagem já se tornou quase um cartão-de-visita da região: uma sala envidraçada, a pequena esplanada posta diante dela, e uma piscina de água azul cristalina sobre a qual parecem pairar. Uma visão para dias de calor – que, por aqui, tendem a apertar mais, já que a Quinta de Santa Teresa fica no limiar da sub-região de Baião, no ponto onde o território dos Vinhos Verdes se encontra com o seu congénere do Douro. E o icónico rio também se avista do topo da quinta.

Importa avisar, desde logo, que a piscina cumpre duas importantes funções, nenhuma delas minimamente relacionada com mergulhos. Numa vida passada, terá sido, de facto, destinada ao salto acrobático. Tinha 8 metros de profundidade e uma prancha de saltos. Quando Dialina Azevedo e Alexandre Gomes compraram a quinta, em 2015, optaram por transformá-la em cisterna, uma vez que a gestão de recursos hídricos é algo que os preocupa. “Temos de aproveitar mais a água, de futuro”, diz Dialina, assumindo a importância de acautelar o impacto das alterações climáticas.

Portanto, se por um lado é parte da estratégia de sustentabilidade da quinta, por outro é um elemento de refrescamento para quem a visita em dias de calor. E a componente cénica também é de valorizar. Só não vale a pena vir de fato de banho. (Bem, perante urgências de refrescamento, um desvio de 8 minutos de carro leva à estação de Ermida, que tem logo ao lado um pequeno areal à beira-Douro e um recanto propício a banhos.)

Prova de vinhos na Quinta de Santa Teresa, da A&D Wines (Baião) Anna Costa
Quinta de Santa Teresa, A&D Wines (Baião) Anna Costa
Quinta de Santa Teresa, A&D Wines (Baião) Anna Costa
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Prova de vinhos na Quinta de Santa Teresa, da A&D Wines (Baião) Anna Costa

O avesso como pilar

A Quinta de Santa Teresa é a jóia da coroa da A&D Wines, um projecto de vinhos nascido das mentes inquietas de um casal de engenheiros informáticos com ideias muito concretas, temperadas pelo espírito pragmático que é apanágio da profissão. Começaram em 1991, com 5 hectares de vinha que vinham da família de Alexandre. Desde o início, assumiram a aposta na casta avesso, numa altura em que, lembra Dialina, “ninguém [a] queria nem valorizava”.

As mais de três décadas entretanto decorridas vieram dar-lhes razão, com a casta feita bandeira da sub-região. No portefólio da A&D, o avesso é presença obrigatória nos blends, excepção única para os rosés. A área de vinha, essa multiplicou-se – em 2005, somaram-lhe os 7 hectares da Quinta de Espinhosos e, em 2015, os 33 hectares de Santa Teresa.

A compra desta última propriedade não só veio aumentar exponencialmente a capacidade de produção como permitiu a Alexandre e Dialina (cujas iniciais fazem o nome da empresa, para quem não tenha notado) tomarem noção de um dos grandes traços de personalidade dos seus vinhos. Voltemos ao princípio.

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A Quinta de Santa Teresa é a jóia da coroa da A&D Wines, projecto de vinhos nascido das mentes de inquietas de Dialina Azevedo e Alexandre Gomes. Anna Costa

Biológico, “por convicção pessoal”

Ambos viviam no Porto e sentiam necessidade de criar para os filhos um ponto de contacto com a natureza. Quando se atiraram aos primeiros 5 hectares de vinha, traziam já a ideia de fazê-lo em modo biológico. “Fazia parte da ideia, por convicção pessoal”, diz Dialina. A vinha da Espinhosa acabaria por ir pelo mesmo caminho. Após vários anos de experimentação, lançaram a primeira colheita em 2007, dezasseis anos após o arranque do projecto. Apesar de produzirem em modo biológico, nunca se preocuparam em obter certificação – lá está, era apenas uma questão de convicção pessoal.

Essa percepção mudou quando Santa Teresa, que produzia em modo convencional, entrou para o universo da A&D. Na comparação dos vinhos entre quintas, perceberam que havia uma diferença digna de assinalar. Lembra Dialina, “Foi aí que decidimos, ‘O cliente precisa de saber’”, e avançaram não só com a conversão destes 33 hectares em bio como também com a certificação dos vinhos. “Tínhamos de poder comunicar isto nos rótulos.”

O comparativo entre quintas permitiu-lhes também observar as diferenças de fermentação das uvas. As de vinhas que levavam mais anos em modo biológico estavam mais estabilizadas, logo aptas à fermentação natural, ou seja, sem uso de leveduras industriais – que, explica Alexandre “acentuam este ou aquele aspecto do vinho”, em oposição às leveduras indígenas, que não o alteram. É a chamada “expressão da casta”. E do terroir: “São as leveduras naturais, que vêm nas uvas, que vêm do terreno”, completa Dialina.

Essa estabilização não acontece imediatamente após a conversão da vinha, sublinha Alexandre. “O ritmo da natureza é lento”, conta, no modo paciente de quem soube esperar, recorde-se, 16 anos até colocar a primeira colheita o mercado.

Hoje, é com orgulho que Dialina recorda o que tem ouvido no contacto com críticos e outros profissionais do vinho. “Várias pessoas me disseram que, mesmo nos monocastas, havia um fio condutor que os unia”, recorda. As mesmas parecenças que, sendo diferentes, se encontra nos filhos de uma mesma mãe. “É isso que nós queremos: ser a expressão daquele lugar.”

A sala de provas de Quinta de Santa Teresa fica num patamar com vista para o vale do Douro. Anna Costa
A casa da quinta guarda grande potencial para um hotel de charme. “Há imensas ideias e projectos para o futuro”, admite Dialina Azevedo. “Mas queremos caminhar com os nossos próprios pés.” Anna Costa
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A sala de provas de Quinta de Santa Teresa fica num patamar com vista para o vale do Douro. Anna Costa

O palco das provas

A partir do momento em que se toma conta de todos estes cuidados com o sentido de lugar dos vinhos (e outros mais, se se for com curiosidade e ouvidos atentos), percebe-se o porquê do aparato cénico com que foi criada a tal sala de provas que parece flutuar sobre a piscina. Se os vinhos são o cabeça de cartaz, há que dar-lhes um palco à medida. Em breve, nascerá mais uma sala de provas, na adega recentemente inaugurada, num dos socalcos inferiores da propriedade.

Em se querendo, a prova pode também acontecer de um modo mais informal, em jeito de piquenique – é pegar numa cesta e escolher um recanto à sombra no hectare de jardim que rodeia a casa da quinta. Casa essa onde vale a pena admirar os painéis de azulejo que ornam a fachada do piso térreo. Já o edifício, de meados do século XX, guarda grande potencial para um hotel de charme, rodeado de jardins, de vinha e com o vale do Douro aos pés.

A ideia, claro, já passou pela cabeça da dupla de engenheiros/vignerons. “Há imensas ideias e projectos para o futuro”, admite Dialina. “Mas queremos caminhar com os nossos próprios pés.” Se o tempo, como costuma dizer-se, é bom conselheiro, no mundo dos vinhos torna-se um precioso aliado.

Quinta de Santa Teresa
N108, Arufe, Loivos da Ribeira (Baião)
GPS: 41.1336, -7.9283
Tel.: 229419378
Web: andwines.pt
Visitas e provas desde 20 euros (3 vinhos); Cestos de piquenique desde 30 euros

Restaurante Residencial Borges, Baião Anna Costa
Quinta de Covela, São Tomé de Covelas (Baião) Anna Costa
Estrada Nacional 108 (Baião) Anna Costa
Loja da Cooperativa Dolmen, Baião Anna Costa
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Restaurante Residencial Borges, Baião Anna Costa

Este artigo foi publicado no n.º 9 da revista Singular.

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