“Tempestade perfeita” deixa dezenas de milhares de peixes mortos nas praias do Texas

Uma combinação de água quente, mar calmo e condições nubladas deixou os níveis de oxigénio tão baixos nas águas do Texas que milhares de peixes mortos deram à costa, num fenómeno de proporções únicas.

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Darrell Schoppe estava, há já uma semana, ansioso pela sua viagem de pesca. Na sexta-feira levantou-se cedo e foi para uma praia na costa do Golfo do Texas. Mas quando se dirigia para a areia no seu jipe para ver o nascer do sol, viu uma cena surpreendente e aterradora.

Dezenas de milhares de peixes mortos — o menhaden do Golfo, tubarões, trutas, robalos, peixes-gato e arraias — estavam a cobrir a costa. Schoppe, de 54 anos, viveu toda a sua vida perto da costa do Golfo, mas nunca tinha visto tantos peixes mortos. Gravou vídeos do oceano enquanto conduzia pela costa, encontrando os peixes mortos ao longo de um trecho de cerca de sete milhas perto de Freeport, Texas.

"Era tudo o que eu podia fazer naquele momento, porque eu estava meio que aterrorizado", disse Schoppe ao The Washington Post. "É claro que eu não ia lá para fora para tentar apanhar trutas; estava tudo morto."

Schoppe foi uma das primeiras testemunhas da cena. Mais tarde, as autoridades do Texas aconselharam os visitantes a evitar a água enquanto as equipas de limpeza limpavam os peixes. Embora os baixos níveis de oxigénio provoquem a morte dos peixes todos os Verões, uma combinação de água quente, mar calmo e condições nubladas deixou os níveis de oxigénio tão baixos na sexta-feira que provocou mais peixes mortos do que muitos funcionários alguma vez tinham visto.

"Quando se consegue limpar uma parte da praia e empurrá-la para trás, olha-se para trás e uma nova vaga de peixes já deu à costa", descreveu Bryan Frazier, director do Departamento de Parques do Condado de Brazoria. "E então temos de fazer tudo outra vez."

Frazier explica que a água fria pode reter mais oxigénio do que a água quente, e as temperaturas chegaram a ultrapassar os 33 graus Celsius no Condado de Brazoria na sexta-feira, de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia. Para o menhaden do Golfo o peixe prateado, com cerca de 30 centímetros de comprimento, mais afectado na sexta-feira viver a temperaturas superiores a 21 graus Celsius pode ser difícil, confirmaram as autoridades. Frazier adiantou ainda que seria difícil determinar a temperatura da água porque não se sabe exactamente onde os peixes morreram antes de virem à superfície.

O oxigénio também entra na água misturando-se com o vento e as ondas, explicou Bryan Frazier acrescentando que, no entanto, as ondas da Costa do Golfo têm estado calmas há cerca de três semanas. Da mesma forma, a fotossíntese cria oxigénio, mas a falta de luz solar nos dias anteriores interrompeu o processo de produção de energia, afirma Frazier.

As autoridades consideraram que estiveram reunidas as condições de uma "tempestade perfeita para esgotar os níveis de oxigénio na costa".

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Apesar de este caso se destacar pela sua dimensão, os eventos de morte de peixes acontecem quase todos os verões no Texas, disseram as autoridades. O Norte do Golfo do México forma uma das maiores "zonas mortas" de peixes do mundo, de acordo com o Serviço Nacional de Oceanos.

Katie St. Clair, gestora de instalações de vida marinha na Universidade Texas A&M, em Galveston, refere que os menhaden são cruciais para o ecossistema do oceano porque filtram a água e servem de alimento para outros peixes. Mas Katie St. Clair disse que os peixes do Golfo estão habituados a adaptar-se e a repovoar-se.

"Estes acontecimentos dinâmicos são muito frequentes nesta zona", afirmou.

Embora não seja possível afirmar que as alterações climáticas tenham tido influência directa no caso da semana passada, os cientistas afirmam que as mudanças de temperatura podem estar a baixar os níveis de oxigénio na água e a fazer com que as criaturas marinhas abandonem os seus habitats em todo o mundo. Casos semelhantes ocorreram noutros estados, como a Florida e Ohio, e noutras partes do mundo, incluindo a Austrália e a Europa.

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As equipas de limpeza começaram a utilizar ancinhos e tractores na sexta-feira para enterrar os peixes mortos debaixo das dunas. Os funcionários observaram o movimento constante dos peixes mortos em direcção à costa, onde milhares de outros apareceram no sábado e no domingo.

Algumas pessoas continuaram a visitar a praia e a mergulhar na água, mas Bryan Frazier disse que a zona cheirava a "um velho mercado de peixe" durante todo o fim-de-semana, enquanto muitos dos peixes permaneciam ao calor.

Darrell Schoppe também disse que o seu jipe ainda cheira a peixe morto por ter conduzido perto da costa, mesmo tendo ficado fora da garagem desde essa viagem de sexta-feira. "A minha mulher avisou logo: 'Não, vai ficar cá fora até o cheiro desaparecer'", contou Schoppe.

Uma das praias locais, Quintana Beach County Park, estava livre de peixes na segunda-feira à noite, disse o seu supervisor. Mas Bryan Frazier disse que os peixes ainda estavam a aparecer noutras praias nessa mesma tarde de segunda-feira.

Com os alunos fora da escola durante o Verão, Frazier espera que as praias do condado se tornem novamente um destino de relaxamento. "Só porque se trata de um fenómeno natural, isso não o torna agradável; não é algo que alguém goste de ver", admite Frazier. "Mas a natureza tem uma forma de recuperar."


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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