Marchas do Orgulho: Portugal não é só Lisboa

Sozinha, a caneta em Lisboa que assina a protecção a jovens LGBTI+ não impede que uma família conservadora expulse a filha de casa. Estas marchas dão coragem a milhares de pessoas da comunidade.

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Reuters/MARTON MONUS

No sábado, 18 de Junho, acontecerá mais uma Marcha do Orgulho LGBTI+ em Lisboa — a maior do país. Mas porque Portugal não é só Lisboa (ou Porto), devemos fazer uma reflexão sobre a importância cultural e política das marchas no interior. Afinal, o resto não é paisagem.

É comum associarmos a origem das marchas ao acontecimento de Stonewall, nos Estados Unidos uma rebelião contra uma operação policial num bar frequentado por pessoas LGBTI+, em Nova Iorque. Mas, e apesar deste historial altamente político, hoje uma grande parte das pessoas associa a marcha a uma festa, um momento puramente de diversão. Embora não tenha mal nenhum, porque efectivamente em muitas cidades assim o é, devemos ter especial atenção ao contexto cultural, social e político no qual estas marchas estão enquadradas, sobretudo no interior do país.

Este ano, temos algumas “marchas estreantes”, como a primeira marcha da Covilhã, que aconteceu no passado dia 4, a marcha de Sintra, esta semana, ou a marcha de Beja, ainda por vir. Estas marchas merecem a nossa especial atenção porque contribuem directamente para um impacto positivo na cultura local. Quando falamos da garantia de direitos, da segurança e da estabilidade de pessoas LGBTI+, não podemos prender-nos a uma visão puramente legislativa, que muitas vezes só se faz cumprir em grandes centros urbanos.

Os direitos para a comunidade conseguem-se com uma evolução sócio-cultural, não apenas com promulgação de leis. Mais do que a vontade do legislador, importa a vontade de agentes locais em fazer cumprir a lei, por exemplo. Sozinha, a caneta em Lisboa que hoje assina a protecção a jovens LGBTI+ não impede que uma família conservadora expulse a filha de casa, numa cidade no interior do país. Não obriga as forças de segurança numa vila a agirem responsavelmente para prevenir um crime de ódio. Nem previne que um professor discrimine activamente uma aluna LGBTI+.

É urgente o forte apoio e adesão às marchas locais, porque estas são essenciais para uma promoção activa de mudanças tão necessárias nas áreas mais conservadoras do país. Estas marchas dão coragem a milhares de pessoas da comunidade, que podem passar a sentir que há quem as escute e quem as entenda. Estas marchas trazem o assunto para a mesa das pessoas, leva à discussão, e por mais disruptivas que possam parecer, certamente criarão empatia em algum lado.

Nós, moradores da Grande Lisboa, do Grande Porto, precisamos de olhar para fora da nossa pequena bolha de privilégio e entender, apoiar e participar nestas pequenas mudanças sócio-culturais que estão a acontecer pelo país. Em muitos destes lugares, a história está a acontecer agora. Podemos e devemos participar activamente nela.

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