A recuperação da Casa São Roque valeu “um lugar para os artistas habitarem” — e um prémio

Outrora habitação da família Ramos Pinto, a Casa São Roque, no Porto, funciona hoje como Centro de Arte. Recuperada pelo arquitecto português João Mendes Ribeiro, a obra venceu a categoria de “Edifícios Não Residenciais”, no Prémio João de Almada.

Alexander Bogorodskiy
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Alexander Bogorodskiy

É “um dos mais notáveis edifícios da zona oriental da cidade”, como apresenta a Câmara do Porto. Por causa disso, o arquitecto João Mendes Ribeiro, de 61 anos, seguiu o princípio da mínima intervenção na recuperação da Casa São Roque​, optando por manter “o carácter original do edifício, o seu valor arquitectónico e histórico”, como conta ao P3

O projecto valeu-lhe agora o Prémio João de Almada na categoria de “Edifícios Não Residenciais”. Promovida pela autarquia, como se pode ler em comunicado, “para incentivar e promover a recuperação do património arquitectónico da cidade”, a 19ª edição do concurso destacou a intervenção do arquitecto português, que é natural de Coimbra. “Perante as características únicas do edifício”, refere, a metodologia e os critérios da obra basearam-se no restauro, procurando, sem esquecer o passado da casa, transformá-la num equipamento cultural.

Outrora habitação da família Ramos Pinto, ligada à produção e exportação de vinho do Porto, a Casa São Roque funciona, actualmente, como Centro de Arte. Para dar resposta a esta necessidade, introduziu-se uma rede de infra-estruturas – e esta foi, segundo o arquitecto, “uma das maiores alterações”. Dado que se encontrava em degradação, o objectivo foi, essencialmente, a melhoria das condições do edifício.

Enquanto espaço que é, agora, usado com maior frequência, para João Mendes Ribeiro foi importante “perceber se seria necessário reforçar a estrutura do pavimento”. Para analisar se este aguentaria a visita do público, “foram feitos ensaios de cargas”, recorrendo a cerca de uma centena de baldes de água, distribuídos pela casa, para simular o peso. 

Disposto em três pisos e pautado por uma planta rectangular, o edifício viu serem recuperados, tal como explica a memória descritiva do projecto que decorreu entre 2018 e 2019, “vãos exteriores e interiores, carpintarias, paredes, revestimentos, pavimentos em soalho de madeira, tectos e a cobertura”.

Construída no final do século XVIII, a Casa de São Roque já foi alvo de algumas intervenções. Erguida por José Lousada, foi, como mostra o site do Centro de Arte, remodelada, entre 1900 e 1911, por José Marques da Silva, que desenhou o jardim de Inverno que tanto fascina João Mendes Ribeiro. Para dar continuidade a este espaço no interior do edifício, que, através de vidros, se conecta com o ambiente exterior, o arquitecto procedeu à “substituição dos vidros opacos por vidros transparentes, para relacionar com o Jardim das Camélias centenárias”, descreve ao P3.

E assim, conta João Mendes Ribeiro, se encontrou “um lugar para os artistas habitarem”, evidenciando o passado, mas também “servindo a estratégia contemporânea do Centro de Arte”. Para o júri do Prémio João de Almada, o projecto revelou “um particular cuidado na recuperação de todos os valores patrimoniais e na interpretação das tipologias originais”, refere a autarquia em comunicado. Foi também valorizado “o esforço na recuperação de toda a envolvente ajardinada da casa”, que renova a relação entre o interior e o exterior.

Nesta edição foi também distinguido o projecto de reabilitação de um edifício da Rua da Restauração pelo arquitecto Eduardo Souto de Moura, com o qual venceu a categoria “Edifícios Residenciais”. O prémio regressa em 2023; podem candidatar-se reabilitações concluídas até Maio desse ano.

Texto editado por Amanda Ribeiro

Alexander Bogorodskiy
José Campos
Filipe Braga
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