Uma ginasta de 13 anos sonha ser como Simone Biles — e nem a pandemia a vai parar

REUTERS/Idris Solomon
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Ty-La Morris sempre foi especial. Tinha "pouco mais de um ano" quando gatinhou até à ponta da sua cama e fez a espargata, garante a sua mãe, Likisha McCormick. Aos três, dominava a roda: era capaz de fazer manobras acrobáticas ao longo de um campo de futebol. "Os meus colegas de trabalho diziam-me para a pôr na ginástica. E eu ficava: não posso pagar ginástica", recorda Likisha, que reconhece que o desporto é "muito caro". 

O talento por polir teve uma oportunidade há dois anos, quando Ty-La, agora com 13 anos, começou a ter aulas na Wendy Hilliard Gymnastics Foundation — que oferece aulas e descontos a crianças em Detroit e Nova Iorque —, e que agora está a lutar para conseguir continuar as aulas durante a pandemia. "Tentar manter estas crianças é pelo que tenho lutado mais", diz a fundadora Wendy Hilliard, ginasta rítmica no Hall of Fame. Passou as aulas para o Zoom, quando as famílias se recolheram dentro de casa e, posteriormente, encontrou espaços em Nova Iorque capazes de assegurar as medidas de segurança, como um campo de ténis no Bronx e um ginásio em Yonkers. Ao longo do ano, esforçou-se por encontrar esses locais, de forma a manter os alunos em forma e com um espírito competitivo — ao mesmo tempo que ginásios privados e mais procurados (que servem essencialmente comunidades brancas) têm recursos para se manterem abertos. "Estou tão frustrada que a prioridade... se tens dinheiro e essas coisas, podes pôr os teus filhos nestas actividades extra. E outros miúdos não têm os locais ideais", diz Hilliard. "Temos tentado ultrapassar essa parte."

Para Ty-La Morris, uma ginasta sem medo dos saltos e trampolins, que sonha frequentar a Universidade da Califórnia em Los Angeles, a pandemia significou adaptar a vida social e passá-la para o Zoom. "Eles estavam a ter as suas reuniões regulares diárias, apesar de ser apenas para alongar ou por aí", refere Likisha. "Na primeira vez que se encontraram no ginásio estavam extasiados por se verem. Estavam radiantes. E isso magoa-me, porque eles são mesmo muito próximos."

A inspiração de Ty-La  é a campeã olímpica Gabrielle Douglas. À mãe, Ty-La diz: "Mãe, eu vou aos Jogos Olímpicos. Vou oferecer-te uma casa, um carro, e tudo vai ficar bem. Eu vou aos Jogos Olímpicos." Ty-La também se compara à campeã olímpica de 2016, Simone Biles. Uma das acrobacias da ginasta — em que faz mortais à retaguarda e depois roda sobre si mesma — é a favorita de Ty-La, que já aprendeu a fazê-la. O trabalho não se esgota no ginásio: em casa, treina abdominais e flexões, com recurso a vídeos enviados pela professora, para se manter em forma. Durante a pandemia aprendeu novas habilidades. "Sempre quis fazer ginástica porque adoro fazer flips. E agora já consigo fazê-los."

Atletas como Douglas e Biles surgiram numa era de excelência negra na ginástica e tornaram-se figuras centrais para Ty-La, explica Hilliard, que foi a primeira afro-americana a representar a equipa de Ginástica Rítmica dos Estados Unidos. E, num ano em que os sonhos olímpicos de Biles foram adiados, foi a sua sinceridade fora do ginásio — ao abrir-se sobre a saúde mental — que iluminou um caminho. "Vê-la ser tão forte ajudou-nos imensos. Até a melhor ginasta do mundo está a passar um mau bocado", diz Hilliard. "Os tempos são diferentes para nós. Podes sentar-te e tirar seis meses num ano e, depois, seguir em frente. Mas, para uma criança de nove anos, um ano é muito tempo."

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