Alterações climáticas
"Descarbonizar" em duas semanas
A estatística diz que cada português emite em média quase 6,8 toneladas de CO2 por ano. E na vida real? O que posso fazer para reduzir a minha pegada de carbono? Por causa de perguntas como estas, a jornalista Lurdes Ferreira pôs duas semanas da sua vida à prova. A primeira para saber o que realmente costuma emitir, a segunda para testar quanto conseguiria poupar nos transportes, na energia em casa e na alimentação
Primeira semana
Foi a semana mais fácil. Tudo correu como esperado. Passo fundamental: anotar todos consumos desta semana. A partir daqui, o caminho é poupar.
O sector da energia representa 25,7% das emissões em Portugal. Nesta experiência corresponde à electricidade e ao gás natural gastos em casa. A primeira semana esteve próxima deste valor (26,5%).
O sector dos transportes corresponde a 24,7% do total das emissões em Portugal. Não nesta experiência. A primeira semana esteve longe deste valor (56,21%).
A agricultura vale 10% do total das emissões de CO2 em Portugal. Este valor inclui a pecuária, que é também a que pesa mais neste bolo, especialmente a carne de bovino
Balanço
Uma semana “business as usual” que permitiu ter os termos de referência para o exercício que iria ser a segunda semana. Os 81,5 quilos de CO2 referentes à primeira semana dariam 4,2 toneladas/ano, abaixo da média nacional.
Segunda semana
O ponto de partida são os resultados da primeira semana, uma espécie de guia de bordo. Metas: cortar o consumo de carne vermelha para metade e tudo o resto reduzir em 10%
A segunda semana esteve longe da média nacional de emissões (51,4%%), por conta do frio em casa e de mais horas em casa. Gastou mais 55% de energia na segunda semana. Meta falhada.
A segunda semana esteve mais próxima da média nacional, ficou nos 31,2%. Ter percorrido menos quilómetros na segunda semana ajudou a baixar emissões. Em valores nominais, poupou evitou 55% de emissões. Também poupou na quantidade de CO2 por quilómetro. Meta atingida.
O peso relativo deste sector no total das emissões das duas semanas manteve-se razoavelmente estável, na casa dos 17%, contrastando com as grandes variações nos outros. As mudanças na dieta alimentar na segunda semana permitiram 19% de poupanças nas emissões. Meta atingida.
Balanço
Poupou globalmente 20%, sobretudo com a ajuda da alimentação e dos transportes, que ultrapassaram as metas previstas. Como o número de quilómetros percorridos na segunda semana foi menos, é melhor ver a poupança pelo lado da quantidade de dióxido de carbono emitido por quilómetro percorrido: menos 19%.
SECTORES
Alimentação
A experiência confirma que a diferença está no número de vezes que se come carne vermelha em relação à carne branca e ao peixe
Pequeno-almoço
Os pequenos-almoços passaram a ser um pouco mais substanciais na segunda semana, a mais sustentável
Almoço
É à hora do almoço que as coisas mudaram mais. Carne branca em vez de vermelha, peixe e leguminosas
Jantar
O jantar passou a ter menos 8,8% de emissões
Outros alimentos consumidos durante as duas semanas desta experiência
Energia
Foi na energia gasta em casa que foi mais difícil mudar. O apartamento desta experiência segue os padrões da pobreza energética da habitação em Portugal
Electricidade
Passar mais horas numa casa fria no Inverno, e quando os dias arrefecem ainda mais, aumenta a necessidade de aquecimento. Neste caso, foi mais 64% na segunda semana
Gás Natural
Mais horas em casa significaram também mais gás consumido na confecção de alimentos e nas águas quentes: mais 35%
Transportes
Nesta experiência, as emissões dos transportes pesaram três vezes mais do que a alimentação
Carro privado
44% da população das Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa está excessivamente dependente do transporte individual. Esta experiência confirmou-o
Taxi
Transportes públicos
O impacto de viajar em transporte colectivo em detrimento do individual foi visível na segunda semana, passando de 45,8 para 20,4 quilos de CO2. E podia ter sido mais.