Tesouros da antiga Constantinopla começam a ver a luz do dia
As obras do canal da Mármara, um túnel ferroviário que ligará daqui a alguns anos os dois lados de Instambul, na Turquia, permitiu a descoberta de achados de várias épocas históricas da antiga Constantinopla. Vestígios do período neolítico - um porto bizantino, e um muro de 50 metros das antigas fortificações de Constantinopla nunca antes encontradas - foram já retirados do local.
Mais de 70 arqueólogos e 700 funcionários trabalham dia e noite nas escavações iniciadas há quatro anos."O projecto do Mármara é financiado por um único banco japonês preocupado com a preservação do património”, afirmou Aksel Tibet, citado pelo jornal “Le Monde”, arqueólogo do Instituto francês de estudos anatolianos que participou num relatório dirigido à UNESCO, com o objectivo de medir o impacto deste canal.
O director das escavações, Metin Gökçay, não sabe quando terminarão os trabalhos porque todos os dias surgem novos achados. Ainda hoje de manhã, 23 peças pertencentes à esfinge do imperador Theodoro I foram descobertas num barco. No lugar dos trabalhos, estão à vista moedas, pedaços de cerâmica e de ossos, empilhados em várias caixas azuis, saídos de terra nos últimos dias. Os objectos são de seguida lavados, triados, identificados e finalmente classificados.
Um tesouro submerso de navios e velhas mercadorias comerciaisUm simpósio está a ser organizado por equipas de investigadores do museu para apresentar os resultados destas escavações levadas a cabo desde 2004 e que vêm trazem uma nova abordagem sobre a história da actual Istambul. Entre as maiores descobertas destacam-se um vasto complexo de cerâmicas, em Sirkeci, no lado europeu, e uma capela bizantina mencionada nos textos antigos, em Üsküdar, no lado asiático. Mas o mais impressionante foi um porto de comércio importante, o “Eleutherion”, fundado no reinado de Théodose no séc. IV.
“É um dos lugares arqueológicos náuticos mais importantes de todos os tempos”, afirmou James Delgado, do Instituto de Arqueologia Marinha da Universidade do Texas, citado hoje pelo "Le Monde". No local é possível observar-se a base de um farol, de um cais, uma igreja do século XII, assim como os restos de pelo menos 31 navios bizantinos, datando do século VI ao século XI. Gökçay estima que uma dezena de outras embarcações encontram-se ainda soterradas. "São o tipo de embarcação que não conhecíamos a não ser através dos escritos”, precisou Aksel Tibet.
No interior desses barcos, foram encontradas dezenas de ânforas de vinho intactas, mercadorias de toda a espécie, sapatos, utensílios de cozinha, objectos que enriquecem consideravelmente o conhecimento da história da cidade e da sua população, entreposto comercial das rotas mais importantes do período Bizantino. “Era um dos portos mais importantes da cidade. [A descoberta permite] avançar-se na compreensão das ligações e dos recursos comerciais entre o Império Bizantino e o resto do mundo”, explica Gökçay. O objectivo é abrir um museu próximo do lugar para apresentar as descobertas.
A presença de um porto situado a mais de 400 metros da actual costa do mar da Mármara tem intrigado os geólogos. Segundo um desses estudiosos, Dogan Perinçek, o "Eleutherion" teria sido submergido por um ou dos tsunamis engolindo navios e os seu carregamentos. Um cenário que poderia voltar a repetir-se, uma vez que a região de Istambul é atravessada por uma importante falha sísmica.